A Tolice de Votar

De Protopia
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Anônimo

(Original em Inglês)



Este panfleto foi publicado em 1904 pela Freedom Press.

Não votarei nas próximas eleições gerais. Tenho plena consciência de que isto terá pouca relevância no que diz respeito ao resultado da disputa, e esta é uma das razões para não votar. Mas tenho outras razões. A principal delas é que não acredito em governo pela maioria, nem pela minoria. Não acredito em governo de forma alguma.

O sistema de governo eleitoral é um triste desastre, ainda que se suponha, por um momento, que ele seja correto em teoria.

Assim, alguns daqueles que buscam as eleições fazem isso pelos lucros diretos que esperam receber ou, indiretamente, para promover seus próprios interesses e satisfazer suas vaidades. Esses homens não sacrificarão seus próprios objetivos pelo bem-estar público.

No entanto, muitos candidatos são, em princípio, bastante honestos em seus motivos e intenções. Mas uma pessoa que entra na política logo descobre que fraude, astúcia, hipocrisia e trapaça são livremente utilizadas por seus oponentes, e, para enfrentá-los com sucesso, ela se vê obrigada a adotar suas táticas.

Ela pensa estar justificada pela conveniência ao fazer isso e, talvez honestamente, acredita que pode usar essas armas para conquistar vitórias para uma causa honesta. Mas ela está errada. Fraude e falsidade nunca podem servir a um objetivo justo. Quem usa a trapaça, mesmo para vencer a injustiça, já é um trapaceiro e não é moralmente melhor que alguém que a usa para motivos reconhecidamente desonestos.

Mas, para a infelicidade do candidato honesto, zeloso pelo bem público, que se recusa a se sujar com trapaças e fraudes - todas as forças políticas estão contra ele. Recusando-se a agradar a todos e recusando-se a ceder à ignorância e ao preconceito popular, ele não consegue assegurar a simpatia da massa, e o demagogo inescrupuloso, que faz promessas vãs, vence.

A pessoa realmente honesta que cai na armadilha da política sempre acaba como um candidato fracassado.

A corrupção e desonestidade política é tão notoriamente visível que mesmo aqueles que acreditam em governo, que defendem a ação política, sabem perfeitamente de sua existência. Ainda assim, continuam votando, com a fraca esperança de que, de alguma forma misteriosa, as condições mudem e de que, em algum tempo, homens puros em número suficiente sejam eleitos para garantir uma administração honesta das questões públicas.

Suas esperanças nunca serão concretizadas. Novos homens entram e novos partidos assumem o controle, mas os mesmos resultados são obtidos. O verdadeiro problema é com o sistema, não com quem o administra. A própria natureza e princípio do governo, da autoridade humana, é desmoralizante, corruptora e errada.

Enquanto a natureza humana for como é, não podemos esperar que homens em posição de poder ignorem seus interesses pessoais, nem que preservem o melhor de si mesmos das execráveis influências do poder.

Quem vota, ainda que vote para o candidato derrotado, expressa sua concordância com todo esse esquema, com o processo eleitoral, com a autoridade e com a coerção. Não quero ser governado. Não reconheço e não admitirei o direito de nenhum homem, ou conjunto de homens, de me governar; não quero governar os outros. Não conheço nenhum princípio moral ou social dizendo que tenho de fazer isso, e, consequentemente, me recuso a impor minhas opiniões sobre os outros pela ação das urnas e acionar, desta forma, toda a parafernália de força e violência - policiais, juízes, carrascos, soldados, coletores de imposts, etc. - usada para coagir outros a agir como acho que deveriam.

Quero que todos os homens, mulheres e crianças tenham o direito de se governar, de administrar seus próprios interesses, de viver suas próprias vidas. Isso nunca será possível enquando a propriedade privada, a essência do governo, existir.

Pensem, trabalhadores, e vocês reconhecerão que é para a defesa da propriedade privada que existem todas essas campanhas, essas legislações, esse fazer e desfazer de leis cujos nomes abundam. Existem para defender a propriedade que vocês criaram, as casas que vocês construíram, a comida que vocês plantaram, as roupas que vocês fizeram - de vocês, que são seus verdadeiros donos.

E vocês exaltam e perdem tempo e brigam uns com os outros e agem muitas vezes como lunáticos, porque seus senhores generosamente permitiram que vocês fizessem uma cruz em um pedaço de papel; e se vocês tiverem sido bonzinhos e tiverem votado como eles querem que você faça, eles te jogam uma migalha do pão que você trabalhou para fazer e que eles te roubaram, e você lhes agradece satisfeito.

Aprendam a ser homens, homens livres, que não dependem de nenhum senhor, que não alimentam nenhum vagabundo enfeitado e ocioso, que não se acovardam quando são oprimidos, mas que afirmam seu direito à vida, à liberdade e a todas as fontes de felicidade.

Acredito que vocês podem ser isso; acredito que, se quiserem, vocês podem conquistar uma vida livre, social, econômica e industrialmente. É por isso que peço a vocês que deixem de seguir as distrações da política e, em vez disso, recusem-se a obedecer os ditames dos tagarelas da St Stephen[1] e a sustentar os ladrões preguiçosos da três vezes maldita trindade: latifundiários, capitalistas e sacerdotes.

Aquele que precisa ser livre, ele mesmo, deve dar o golpe!





Textos

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  1. [N. T.] Nome usado até o início do século XX para se referir à câmara baixa do Parlamento do Reino Unido, que, até 1834, funcionava na Capela de St Stephen no Palácio de Westminster.