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De Protopia
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Todas as ideologias, assim como todas as religiões, encontraram formas de justificar e estimular a violência de seus seguidores sempre que foi considerado necessário. Por isso, não deveria ser surpreendente que os anarquistas e os membros dos Black Blocs tenham empregado a força em determinadas ocasiões para defender e promover suas ideias. O liberalismo, o nacional-socialismo, o marxismo-leninismo, o fascismo e o cristianismo, cada um à sua maneira, e com muito mais frequência do que o anarquismo, recorreram a assassinatos. E os anarquistas, com frequência, têm sido suas vítimas. Por isso, a associação dos termos “anarquismo” e “anarquista” com caos e violência sangrenta sempre foi questionável, especialmente porque nem todo anarquista apoia o uso da força. Alguns, inclusive, adotam a não violência de maneira até dogmática.

Um exemplo claro é o debate um tanto surreal sobre a distinção entre violência e não violência entre anarquistas em Boston em 1978. A organização anti-nuclear Clamshell Alliance estava planejando uma enorme ocupação no local da construção da usina nuclear Seabrook, a 50 quilômetros de Boston. Depois da primeira ocupação, em abril de 1977, quando 1.414 ativistas foram presos, havia sido construída uma cerca de arame no local, e o grupo de afinidade anarquista Hard Rain propôs que fossem levados alicates para abrir uma fenda na cerca. Diversos ativistas se opuseram à ideia, com o argumento de que usar um alicate seria equivalente a violência dolosa, o que afastaria as pessoas, geraria rejeição e daria uma justificativa para a repressão policial. Como alternativa a cortar a cerca, destruindo assim uma propriedade privada, propôs-se que os manifestantes subissem por ela ou cavassem um túnel por baixo. Os membros da Hard Rain, por outro lado, argumentaram que ações simbólicas demais arriscariam distanciar o movimento anti-nuclear das pessoas da classe trabalhadora, que estavam mais preparadas para confrontar a polícia do que muitos membros da coalizão. A facção “antialicate” venceu, mas não conseguiu organizar a ocupação e, por fim, decidiu fazer um protesto fora do terreno cercado. Alguns meses depois, decidiu-se fazer outra ocupação e, dessa vez, levar alicates. A cerca foi aberta, mas, atrás dela, havia uma fileira de policiais que os ativistas decidiram não confrontar.

Tudo isso ilustra a atmosfera profundamente ética que reina nas redes anarquistas. Frente a frente com o poder quase infinito de uma usina nuclear e a força repressora do polícia com a missão de protegê-la, esses militantes passaram muitas horas debatendo se o uso de alicates para abrir a cerca constituiria ou não um ato de violência. Os defensores de outras ideologias não costumam ter reservas contra o uso de equipamentos muito mais destrutivos do que alicates. As únicas pessoas que já chegaram a dar a ordem de lançar bombas em cidades – Hiroshima e Nagasaki - eram liberais.

Na verdade, muitos anarquistas consideram a não violência mais legítima do que o uso da força, que, para eles, só é justificável em circunstâncias excepcionais. Entre os pensadores anarquistas mais influentes, não existe consenso sobre o uso da violência. Mikhail Bakunin (1814-1876) e Errico Malatesta (1853-1932) são os teóricos anarquistas que mais se identificam com a ideia de revolução armada; ambos participaram de diversas insurreições na Europa. Em contraste, William Godwin (1756-1836), o filósofo inglês precursor do anarquismo, acreditava nas virtudes da educação e que, para mudar o mundo, é preciso mudar as mentes. Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865) defendia a educação e a ação eleitoral e parlamentar; nos últimos anos de sua vida, propôs que os trabalhadores se organizassem imediatamente de maneira igualitária e libertária, em vez de tentar derrubar o Estado. Emma Goldman (1869-1940) e Piotr Kropotkin (1842-1921) mudaram suas posições diversas vezes, mas sempre frisaram que a violência anarquista é muito menos letal que a do Estado. Voltairine de Cleyre (1866-1912) observou que todas as ideologias encontravam formas de justificar a violência de seus apoiadores. Leon Tolstói (1829-1910) repudiava dogmaticamente todas as formas de violência e foi uma forte influência nas decisões estratégicas de Mahatma Gandhi (1869-1948), que, embora não fosse anarquista, tinha lido as obras de Kropotkin e respeitava o anarquismo.

Apesar da relação especial que muitos acreditam existir entre assassinatos políticos e anarquistas, seguidores de todas as ideologias políticas estiveram envolvidos nessas formas de ataque. A história do cristianismo, por exemplo, é bem rico nesse sentido. Henrique III da frança foi morto pelo frei dominicano Jacques Clément em 1º de Agosto de 1589. Dez anos depois, o jesuíta espanhol Juan de Mariana escreveu em seu De rege et regis institutione (1598) que “todos podem matar um déspota e tirar sua vida e seu poder”. Em 1610, François Ravaillac, que sonhava em entrar para os jesuítas, esfaqueou Henrique IV até a morte. E a lista segue. Antimonarquistas também tentaram, diversas vezes, à sua maneira, cortar o mal pela raiz. Carlos I da Inglaterra, em 1649, e Luís XVI da França, em 1973, foram decapitados em momentos de comoção revolucionária. Carlos I de Portugal foi morto com um tiro em 1908. Nenhum anarquista participou das mortes de Abraham Lincoln e John F. Kennedy (ao menos que nós saibamos) ou dos atentados fracassados contra a vida de Ronald Regan, Charles de Gaulle e João Paulo II. Muitos chefes de Estado foram mortos depois de um golpe de Estado ou revolução, entre eles Patrice Lumumba no Congo, Thomas Sanaka em Burkina Fasso, e Nicolae e Elena Ceausescu na Romênia. Nenhum anarquista esteve envolvido nessas mortes. As brigadas vermelhas, que assassinaram o primeiro-ministro italiano Aldo Moro em 1978, eram marxistas-leninistas. Na Índia, Mahatma Gandhi, Indira Gandhi e também o filho dela, Rajiv Gandhi foram mortos sem o menor envolvimento de anarquistas. O presidente egípcio Anwar Sadat foi morto por soldados “islâmicos” de seu próprio exército, e o primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin foi morto por um nacionalista judeu. Nacionalista de todos os tipos assassinaram muito mais chefes de Estado do que anarquistas. Os presidentes de Ruanda e Burundi perderam a vida em 6 de abril de 1994, quando seu avião foi derrubado por um míssil; o primeiro-ministro ruandês foi morto no dia seguinte por soldados das Forças Armadas regulares; esses atos mergulharam a região em carnificina.

Deve-se acrescentar ainda o terrorismo patrocinado pelo Estado e os atentados, bem-sucedidos ou não, contra as vidas de chefes de Estado orquestrados direta ou indiretamente. A lista de feitos ou quase feitos dos Estados Unidos, por exemplo, é bem cumprida: Fidal Castro, Che Guevara, Salvador Allende, Muammar Qaddafi e outros. Como parte de sua “guerra contra o terror”, os Estados Unidos de hoje em dia praticam assassinatos – muitas vezes com drones – contra alvos específicos, como os líderes de redes islâmicas no Afeganistão, no Paquistão e em outros países. E, ao longo dos anos, as Forças Armadas israelenses vêm assassinando líderes palestinos. A história oficial dos Estados liberais modernos é cheia de ações diretas violentas, conduzidas por pessoas que hoje são aclamadas como heróis da liberdade, da igualdade e da justiça. Em 16 de dezembro de 1773, quando os Estados Unidos ainda estavam sob o domínio imperial da Grã-Bretanha, colonos em Boston usaram disfarces para não serem reconhecidos, entraram no porto em canoas, subiram em três barcos e jogaram as cargas de chá na água. Esses “vândalos” destruíram muitas toneladas de mercadoria para denunciar as taxas impostas pela Grã-Bretanha sobre bens importados e os subsídios financeiros da Coroa à Companhia Britânica das Índias Orientais. Em certo sentido, essa foi uma ação direta em apoio ao livre comércio. Na época, as autoridades coloniais britânicas e os patriotas norte-americanos moderados, como George Washington, acharam que isso não passava de vandalismo e violência ilegítima. Hoje, porém, os patriotas que conduziram a Tea Party de Boston são vistos como heróis do movimento que levou à independência dos Estados Unidos da América. Da mesma forma, a Revolução Francesa envolveu inúmeras ações diretas, sendo a mais famosa delas, obviamente, a invasão da Bastilha em Paris feita por uma grande multidão em 14 de julho de 1789. O Dia da Bastilha foi depois proclamado na França como feriado nacional e, até hoje, é celebrado com grande pompa pelo presidente da república e as Forças Armadas. Tudo isso levou uma mulher que participava do Black Bloc de Toronto em 2010 a lamentar a “hipocrisia dos Estados burgueses que nos chama de terroristas enquanto celebram, por exemplo, o 4 de julho nos Estados Unidos e o 14 de julho na França, datas que marcaram o auge das revoluções sangrentas”.

Quase todos os regimes atuais, que dizem incorporar valores de liberdade, igualdade e justiça, foram fundados com base em atos muito mais violentos do que as ações diretas conduzidas pelos ativistas de hoje. Os Estados Unidos, depois de ganhar a Guerra da independência, dominaram os nativos americanos a partir de muitas guerras. A França moderna surgiu como resultado de inúmeras revoluções, sem mencionar as guerras coloniais. O liberalismo foi imposto na Alemanha com uma vitória militar e, no Japão, com a ajuda de bombas atômicas. Depois de firmado, o Estado liberal se esforça para inculcar na população a ideia de que só ele tem o direito de empregar violência política. As autoridades políticas organizam eventos públicos para ressaltar seu direito ao monopólio da violência. As grandes cúpulas internacionais são exemplo disso; servem como oportunidades para que esses líderes reúnam milhares de policiais fortemente armados e bem visíveis. Guardas de honras, com armas no ombro e uniformes completos, cumprimentam os dignitários estrangeiros ao saírem dos aviões ao som de hinos nacionais, quase todos glorificando valores bélicos. Alguns exemplos: “lutas perigosas” e “bombas explodindo no ar” em meio à “confusão da batalha”, seguido pelo grito de guerra “então conquistar devemos”, no Star Spangled Banner, o hino norte-americano; “teu braço pronto para empunhar a espada” em O Canadá!; e, claro, ao sanguinário refrão de La Morseillaise, que exige que “o sangue impuro” do inimigo “banhe nosso solo”. Enfim, o monopólio da violência é a base da autoridade política do Estado. Essa autoridade, por mais liberal que o Estado seja, sustenta-se, em última instância, na violência de sua polícia de suas Forças Armadas. Os governos ocidentais e seus defensores chegam a apoiar grupos envolvidos em ações violentas diretas contra os inimigos do regime. Dois exemplos famosos dos anos 1980 foram as milícias armadas dos Mujahidin, ou combatentes, do Afeganistão, e os contras da Nicarágua, fundados e armados pelos Estados Unidos. A CIA produziu e distribuiu um Manual for Freedom Fighters [Manual para Combatentes da Liberdade] que instruía os nicaraguenses contrários ao regime socialista Sandinista a fazer coquetéis Molotov e usá-los para atacar as delegacias de polícia.

Frequentemente, políticos e jornalistas liberais mostraram simpatia e respeito pelos manifestantes que entravam em confronto com as forças policiais em Estados estrangeiros. Em 1989, por exemplo, uma multidão de jovens bombardeou o Muro de Berlim com tiros de canhão. Nenhum jornalista tentou minimizar a importância política desses atos violentos representando os homens e mulheres que os realizaram como “jovens arruaceiros” ou “bandidos” bêbados em busca de emoção. Os conservadores também recorrem à ação direta quando autoridades políticas tomam decisões contrárias a seus interesses. Na noite de 24 de abril de 1849, em Montreal, então capital do Canadá, o prédio do Parlamento foi incendiado por uma multidão furiosa que também sabotou o equipamento de combate a incêndio da cidade e atacou o séquito do governador. A multidão era composta quase exclusivamente por membros da elite anglófona da cidade. Nos dias seguintes, a residência do primeiro-ministro foi atacada duas vezes; o Cyrus Hotel, onde o inquérito sobre o incêndio do Parlamento estava acontecendo, também foi incendiado. Os “vândalos” estavam reagindo à decisão do Parlamento de compensar os canadenses francófonos vítimas de repressão após a insurreição fracassada dos patriotas republicanos de 1837 e 1838. Vale mencionar, também, que a elite anglófona de Montreal estava ainda mais enfurecida por causa dos muitos anos de ameaças do governo britânico de levar vários de seus membros à falência com uma política de livre comércio que tiraria os exportadores canadenses suas tarifas preferenciais nos mercados britânicos.

Mais recentemente, na França, nos primeiros meses de 2013, centenas de milhares se manifestaram contra a nova lei a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo. As manifestações se transformaram em tumultos em que grupos de homofóbicos e neofascistas atacaram jornalistas, e jogaram pedras e garrafas na polícia. Por fim, ao se voltar à mitologia religiosa, também se encontram heróis perfeitamente dispostos a destruir a propriedade comercial. Segundo consta, Jesus teria expulsado os mercadores do templo de Jerusalém com um chicote e jogado o dinheiro e as ofertas ritualísticas deles no chão. Esse é o ato que se considera ter convencido as autoridades religiosas judaicas de que Jesus havia ido longe demais e merecia pena de morte.

É verdade que, mais de um século atrás, anarquistas assassinaram vários monarcas e presidentes. Seu principal objetivo era vingar as mortes de companheiros e trabalhadores nas mãos de carrascos, policiais ou fura-greves alvejando as figuras políticas consideradas responsáveis pela repressão sangrenta. Anarquistas também expressaram solidariedade com a extrema-esquerda, grupos terroristas vagamente marxistas e libertários que, nos anos de 1969 e 1970, atuaram na Alemanha (Fração do Exército Vermelho) Itália (Brigadas Vermelhas) e França (Action directe) e que tiveram envolvimentos variados no assassinato de políticos, militares e presidentes de grandes corporações. Em todo caso, o desejo básico dos terroristas de ver as massas se erguerem em uma grande onda revolucionária nunca se realizou, e a repressão subsequente imposta ao movimento de protesto como um todo foi especialmente dura. E tem sido lembrado por algumas vozes na esquerda e na extrema-esquerda (ecoando declarações na direita por “especialistas” em segurança), que advertiram os Black Blocs contra a “tentação do terrorismo”. Quanto a organizações terroristas, os ativistas parecem ter aprendido algumas lições com as experiências do passado. A ativista Sofiane, que, nos últimos anos, participou de diversos protestos políticos na Europa, declara sua solidariedade aos membros do agora defunto Action directe, mas acrescenta que “não concordamos com o que eles faziam. Conhecemos bastante a história política global dos últimos 50 anos para não repetir os mesmos erros”.

Em 5 de maio de 2010, durante uma manifestação em Atenas contra as políticas de austeridades do governo, um grupo de anarquistas atirou um coquetel Molotov em um banco apesar das tentativas de outros anarquistas dissuadi-los. Três empregados do banco morreram asfixiados. O caso provocou uma intensa polêmica entre os anarquistas. Apesar dos rumores de que os causadores do ataque, na verdade, foram agentes provocadores da polícia, alguns não se esforçaram para se distanciar do ocorrido, afirmando que a sociedade grega estava em meio a uma guerra social em que não havia posição neutra, e que os empregados do banco não eram completamente inocentes. Em muitos outros textos, porém, os anarquistas buscaram se dissociar do ataque letal, com base em duas diferentes linhas de argumentação. A primeira posição, minoritária, era de que o anarquismo havia se tornado dogmático demais e precisava ser abandonado e substituído pelo pós-anarquismo, isto é, um anarquismo livre das ligações rígidas com o movimento histórico com os trabalhadores e com o mito revolucionário. A segunda, apoiada pela maioria das organizações associadas ao anarquismo “oficial”, aceitou parte da responsabilidade pelo o que havia acontecido, uma vez que elas se viam como guardiãs da tradição anarquista e se arrependiam de terem permitido que os ativistas que atacaram o banco assumissem uma postura militante que equivalia à arruaça, à fetichização da violência e à adoção do que, na verdade, era uma atitude antissocial. Alguns poucos textos criticaram os “anarco-patriarcas” (ou seja, anarquistas veteranos) por ocuparem espaço demais no movimento, afastando assim militantes mais jovens que decidiram se envolver na violência. No total, grande quantidade dos anarquistas gregos acreditava que o ataque ao banco não tinha o objetivo de causar mortes, mas tampouco era um modelo de ação eficaz ou desejável. Também na Grécia, alguns ativistas, como membros da organização Luta Revolucionária, afirmaram em 2011, num comunicado enviado da prisão, que “a luta armada é sempre parte integral do movimento revolucionário de luta e revolução social. A luta armada é mais adequada e necessária do que nunca, especialmente nas condições atuais da crise econômica”. Em seu comunicado, Pola Joupa, Kostas Gournas e Nikos Maziotis explicam que vêm “do meio anarquista e têm muitos anos de experiência participando de protestos, manifestações e ocupações; confrontos nas ruas e assembleias, além de, no caso de alguns de nós, experiência de participação de coletivos e grupos”. Embora algumas propostas que circulam entre os Black Blocs tendam a uma organização clandestina e bastante hierárquica na direção da luta armada, e até mesmo de uma organização de massa militarizada, a grande maioria de ativistas parece contrária a esse tipo de tática (ainda que a solidariedade àqueles que enfrentam repressão e prisão seja sempre reconhecida como necessária e importante). Nas palavras de um militante que admite ter enfrentado a polícia e destruído alguns símbolos do capitalismo, “a luta armada é uma atividade elitista conduzida por um pequeno grupo que se encontra em segredo. É besteira – todos fazemos isso por conta própria”. Mesmo aqueles que acreditam, por exemplo, que o “capital está travando uma guerra contra nós” e que a violência estrutural brutal do sistema equivale a uma forma de “guerra social”, não fazem treinamentos com armas, nem as estocam, executando-se os poucos coquetéis Molotov. Os anarquistas de hoje podem falar ou sonhar sobre a “revolução”, mas estão se preparando para uma.

Na realidade, apesar de uma renovação genuína, o anarquismo continua sendo um movimento social relativamente fraco que desistiu da luta armada há um pouco tempo e cujas ações são muitíssimo menos violentas que as do Estado. Ainda assim, o discurso anarquista – em textos analíticos, panfletos, músicas e pichações – são cheios de chamados à revolta contra a polícia, o Estado e o Capitalismo. A Anarchist Youth Network of Britain e Irland [Rede Jovem Anarquista da Grã-Bretanha e Irlanda] declarou em 2013: “Queremos destruir o governo e os privilégios dos ricos [...] O capitalismo deve ser combatido nas ruas”. É por isso que também existe uma tendência para associar o Black Bloc ao anarquismo insurrecionário, que valoriza a sabotagem e a violência, ecoando o discurso de Alfredo M. Bonanno em La giogia armata (“A alegria armada”, de 1977) ou de L’Insurrection qui vient (A insurreição que vem – de 2007), do grupo francês Comité Invisible. Para citar o panfleto Some Notes on Insurrectionary Anarchism [algumas notas sobre o anarquismo insurrecionário]:

Como anarquistas, a revolução é o nosso ponto de referência constante [...] precisamente porque é um evento concreto, ela deve ser construída todos os dias por meio de esforços mais modestos que não têm todas as características liberadoras de uma verdadeira revolução social. Esses esforços mais modestos são as insurreições [...] A passagem das várias insurreições – limitadas e circunscritas – à revolução nunca pode ser garantida previamente por qualquer método. O que o sistema teme não são os atos de sabotagem em si, mas que a ideia de que eles se espalhem socialmente.

|autor= Francis Dupuis-Déri |livro= Black Blocs |conteúdo= Violência Política Artigo de Flores Bonfim