Amor Livre

De Protopia
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De Amor e Anarquia

Diana Sibaja

(Original em Espanhol)


«Se persegues um fim, te acorrentas. Se tudo o que fazes, fazes como um fim em si mesmo, te libertas.»
(Silo)

Quando ouço "Amor Livre" penso no mais abstrato do mais abstrato, em antipatriarcado, em unidade interna, em intuições criativas, não-violência de forma ativa, penso em me extasiar com liberdade absoluta.

Considero que este Amor Livre como defende Emma Goldman é a expressão mais livre do anarquismo porque lubrifica liberdades que se aplicam desde a interação de coletivos até a experiência espiritual-sexual no âmbito individual. Ele se funda nas intenções internas e manifestações externas de compartilhar com parcerias, de amar e de ser amado/a com liberdade absoluta, onde quer que a abundante criatividade se expresse em afetos, desejos, fantasias e partilhas intensas.

Ao acompanhar e ser acompanhada/o pela vida significa gerar formas criativas: de encontros socioafetivos que crescem sem os efeitos nocivos do patriarcado, ou seja, sem permitir hierarquias violentas, dependências e carências das muitas formas, com equidades, dando espaços para expontaneidades autênticas e expressões do ser de cada qual, este resultaria no amor em formas, cores e sabores distintos, caberia neles cargas mais libertadoras e de extremo prazer.

Penso que esse amor não discrimina se prefiro a monossexualidade, se sou "queer", poliamoroso, transsexual, assexual, bissexual ou gay. Desta maneira se vive o amor da forma mais profunda na qual cada um decide em comunicação, consenso, coerência, respeito, lealdade e erotismo dando este passo a expressões e veredas diversas do surgimento de prazeres.

O amor livre, posso vivê-lo só ou acompanhada, assim como na diversidade está o prazer, na unidade interna e na coerência (no sentido humanista de coerência: pensar, sentir e atuar numa mesma direção) está o prazer de ser livre. Vamos nos perceber mais saudáveis, se cada um de nós parte das suas ideias libertadoras, e da sua própria convicção em busca de espaços e momentos coerentes, encontra congruência entre seus desejos/fantasias e pensamentos. No entanto, se faço uma ação contrária ao que desejaria fazer, só confrontaria a contradição e a insatisfação entre o que faço: sensações e dissabores que não acredito que rimem com amor. Na coerência vive-se um amor, o qual não pode ser patriarcal ou comportar os vestígios de suas prisões, não manifestaria situações depreciativas contra um sexo ou gênero, num amor tão precário nos daria mais trabalho, desgaste de energias e, provavelmente, teríamos menos forças para seguir na luta.

Por que considerar um amor livre no seio da prática anarquista? Porque o amor só coexiste em liberdade, porque o amor é a máxima expressão libertária. Porque considero que é a manifestação e essência da minha libertação. Porque é a forma de elucidar a utopia.


O poder reagiria ao se encontrar com o Amor Livre?

O amor livre é desestruturador e desconcertante para o Estado. O que aconteceria se as ações diretas se baseassem no amor livre? Na existência do amor livre se pode observar diferentes impactos na consciência, na canalização do amor libertário, são amplamente diversas suas consequências.


Para que a vida flua com normalidade, casamento não-monossexual

Suspeito que o casamento é para procriar e proteger as crianças, para contribuir para a sociedade produtiva e capitalista, não para nos organizarmos de forma ambientalmente sustentável, nem em qualquer situação que se assemelhe ao prazer.

A monotonia e o controle a que nos submete o Estado não sobrevive sem instituições como o matrimônio; as uniões civis creditam conjugues, família, dita seus papéis e proteções, além de heranças, autoridades e propriedades; e é assim com esta união perpétua entre o materialismo e as relações "amorosas", que as controla e valida para seu feliz exército branco e negro, sem matizes, menos com diversos.

Intuo que o desencontro de duas pessoas, a imposição, e a repetição monótona está mais próxima do medo e do ressentimento do que do amor. Será difícil realizar mudanças, criar novas realidades, chamando amor as prisões que te asfixian lentamente; o exercício do amor livre dá curso a vidas cheias de humanidade de onde se estenderão formas espontâneas como construir maternidades ou paternidades placentárias.

Está a se sugerir na Costa Rica que as uniões civis entre pessoas do mesmo sexo sejam legalizadas, este é um projeto apoiado por partidos de esquerda, que gera muitas expectativas à luta GLBT e manifestações alarmantes para outros setores. Mas por que só o casamento homossexual monogâmico? Na realidade tenho muitas dúvidas, por que o interesse destes atores e atrizes? será que se aproveitar de setores vulneráveis é buscar uma cômoda igualdade de condições? Uma conquista de direitos volta a ser parte de um jogo político para ver quem é mais “inclusivo”, no entanto, mais excludente ao mesmo tempo.

Muitos/as consideramos que respeito é algo que não se ganha com uma lei, talvez la tolerância sim, mas esta não basta para o livre exercício saudável da homossexualidade, ajuda mas se dá as custa de quem? Dos setores excluídos que não querem se submeter a um marco legal que não pretende compreender o amor. Talvez tantas cores diversas não entram em seu marco mono-pensante.

Entendo que o crédito desta união não é exatamente para exercê-la com todas as da lei, é reivindicada por tem existido problemas não só com bens materiais, como também de saúde, cuidado, etc.; então por que não apresentar uma proposta mais diversa e inclusiva? Por que se joga com políticos que querem mais adeptos e deixar para trás outras necessidades? Qual é o sentido?

Para sociólogos como Richard Stithy José Pérez Adam resultaria em algo um pouco perigoso deixar que burocratizem excessivamente nossa vida privada, seu controle seria tão vasto como criar várias etiquetas ou de "indefinida". Desta forma o Estado poderia - em sua existência monótona - burocratizar a diversidade sexual. Quantas regras se deveriam aplicar ao conceder o cuidado das crianças a um matrimônio entre uma pessoa "queer" e dois bissexuais? Este não seria um direito exatamente, nem sequer seria uma opção para o Estado.


Com mais da Liberdade O amor é livre, sem domínio, sem matrimônio já que ninguém é dono/a do amor instantes de amor livre?, companheiros, os momentos sociais são muitos. Neste instante precisamos de expressões interações anti-patriarcais e nos saciar de diversidade sexual – BLGTTTIHQ - (bisexuais, lésbicas, gays, transsexuais, transgêneros, travestis, heterossexuais, queer). Proponhamos construir uma luta coerente juntos/as, livre e emancipatória. Penso que vale atuar com amor livre. Então a liberdade deriva da unidade e coerência interna, que deve ser colectiva. Sugiro que possamos compartilhar o peso e intuir certezas coletivamente. Formemos expressões afirmativas de arte, estética e visibilização. Temos as ferramentas para apontar para uma resposta dissentiva, como queira, através de ações diretas não-violentas, com feminismos, queer, com o que venha a nascer.


Quem quer querer?

Porque o exercício do amor livre me parece muito certeiro e coerente como uma intuição libertadora.

Porque quero liberdade para gritar meu corpo,
liberdade para saltar minha liberdade,
liberdade para não ser heterossexual,
liberdade para decidir sobre meu corpo,
Liberdade para a unidade,
liberdade para viver sem prisões genéricas
liberdade para agir.
Porque quero com liberdade, criatividade e solidaridade recíproca poder agir.
Não quero postergar mais.
Construamos o anti-patriarcado e a diversidade sexual!
Construamos o Amor Livre!


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Traduzido por AltDelCtrl.

Originalmente publicado em revista La Libertad da Costa Rica, em seu número 8. em 2008.


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