Apresentação
Todo Fim (do Mundo) pressupõe um recomeço!
- "Será que vivemos nós os proletários, será que vivemos?
- Será que os fracos remédios que tomamos não seria
- a doença que nos corrói?"
- Guy Debord - A Sociedade do Espetáculo
- “Convido a todos para uma aventura coletiva
- de diversão generalizada e de livre
- interdependente exuberância"
- Bob Black
Blocos de guerreiros vestidos de preto enfrentam o aparato repressivo do estado, rizomas de rádios livres e comunitárias se contrapõem a mídia corporativa, levantes camponeses e povos indígenas se insurgem contra multinacionais, redes de okupas questionam a especulação imobiliária. Ao contrário do que a mídia de massas nos mostra, hoje o mundo explode em mudanças rápidas e promissoras e cada uma delas é somente mais uma peça no mosaico deste tempo em movimento.
O futuro não é mais de fato como era antigamente, e esta frase nos lembra do quão obscuro o futuro nos pareceria se não fosse nossa própria capacidade de intervir ativamente no mundo atual implicando assim no que está por vir. A Protopia é a nossa proposta de intervenção neste estado de coisas, num mundo que depende de nossas ações congregadas para que possa existir. O fim da História é um fato cotidiano, aconteceu e ainda acontece todas as vezes que, ao invés de assumirmos um papel ativo em seu rumo, cruzamos os braços e deixamos a maré do conservadorismo político institucional jogar tudo o que somos no abismo de uma passividade de eleitor-trabalhador-consumidor.
Protopia é a virada da maré, uma estratégia de reterritorialização que busca antes de tudo a tomada de um papel ativo na construção de espaços libertários. Nada mais excitante que ser o propagador do incômodo daqueles que um dia se pensaram como senhores da história. A utopia enquanto impossibilidade de superação desse sistema e de todos os males sociais que nos cercam é uma mentira que durante muito tempo foi repetida por muitas bocas e ganhou ares de 'verdade'. O topo só é inalcançável quando desistimos de alcançá-lo. Protopia é a topia possível; uma proposta de escalada coletiva, simples, e ao mesmo tempo subversivamente complexa, destinada para aqueles já não se contentam mais em alardear que o rei está nu.
Definindo Protopia em onze passos
1 - Desista de esperar pela revolução popular, pelo messianismo comunista e por todos os milagres que prometem as propostas reformistas dos sociais-democratas; como as experiências históricas bem mostram, esse tipo de iniciativa jamais transformará a sociedade nem resultará em efeitos libertadores.
2 – Fuja de todas as formas de ação espetaculares, sempre que elas forem pró-sistêmicas, ou se constituírem em alguma forma de escapismo. Abandone igualmente todas as ações que não levam a lugar algum como o tédio e a revolta gratuita, a loucura isoladora, a depressão e a hipocondria. Saber-pelo-saber e arte-pela-arte só incorrem em mesmice...
3 – Parta secretamente em busca do Y, da conjunção de vontades, iniciativas e projeções, busque o encontro oculto e se desloque para longe dos centros de poder e dos mecanismos da sociedade de controle. Busque outras pessoas de ímpeto livre, constitua formas de ação coletiva até o surgimento de uma comunidade intencional.
4 – Não pague mais impostos, busque investir seus recursos e seu tempo na busca coletiva por autonomia energética, habitacional e alimentícia. Estabeleça relações de troca de bens e serviços com grupos camponeses, eco-vilas libertárias, organizações populares, aldeias indígenas e comunidades quilombolas.
5 – Dê preferência por tecnologias limpas e renováveis, técnicas em equilíbrio com o meio como a permacultura e o earthship. Quando se é vizinho da sociedade do desperdício, a macro-reciclagem pode ser algo muito interessante (pneus não são só pneus, mas um monte de coisas em potencial).
6 – Promova a comunicalidade ao isolamento, se desloque sazonalmente. Se inicialmente não for possível viver fora da Máquina em tempo integral, divida seu tempo entre seu velho cotidiano e a criação dessa nova forma de sociabilidade.
7 – Aja pelo crescimento deste rizoma de zonas autônomas, estimule e auxilie outros grupos no surgimento de novas comunidades. Escolha os pontos cegos do sistema, as zonas proibidas e outros setores do mapa onde o capital e o estado sejam mais fracos ou mesmo omissos. Mutualidade, união e troca não têm preço em um mundo onde o sistema vence pela hostilidade, pela competitividade e pela divisão. Prepare-se para assistir ao surgimento dos enclaves libertários.
8 – Constitua um imaginário local compartilhado, pontos de encontro, grupos de estudos, espaços de vivência, e, principalmente, circuitos de mutirões, festas e dias de celebração. Cada pessoa livre do mundo-cão e cada pedaço de solo libertado são, por si só, motivos a se festejar.
9 – Prepare-se secretamente para a reação conservadora do estado e do capital. Assim que a tática for descoberta, pode ter certeza de que manejarão seus aparatos de difamação e repressão contra nós. Esteja sempre articulado com a rede, prepare-se para causar um insistente ruído, uma cacofonia libertadora. Não motive conflitos (antes do tempo). A cada operação de opressão bem sucedida quem marca ponto são eles, e não nós.
10 – Lance sorrateiramente através da Web ataques ocultos aos pilares do sistema, propagandas de libertação e popularização do pensamento libertário; manuais de como abandonar o caos capitalista e construir (ou fazer parte de) comunidades autônomas fora do mapa. Em um destes espaços autônomos, cercado de pessoas libertas, a vida certamente valerá a pena.
11 – Busque o empoderamento do coletivo no desempoderamento do estado e do capital, e jamais caia de amores pelo poder.
Enquanto iniciativa, o Protopia está em permanente reconstituição. É aberto a todxs que queiram efetivamente participar, e todxs que possam se identificar com a proposta e que queiram tomar parte nela são bem vindxs. Estamos no início de tudo e qualquer um pode contribuir com as suas próprias idéias ou ações, ou como bem entender. en:Presentation