Bonecos

De Protopia
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Receitas Para o Desastre
CrimethInc

Ingredientes

  • Papelão
  • Tecido
  • Tinta
  • Papel Maché
  • Fita adesiva
  • Grampeador industrial
  • Corda
  • O que for!
  • Um ambiente público pronto para transformação
  • Uma equipe


Instruções

Nos E.U.A., fazer bonecos de figuras públicas é uma rica herança radical que vem desde a primeira Revolução Americana. Se você não pode realmente derrubar, bater ou colocar fogo nos seus opressores, certamente pode ser muito reconfortante fazer isso em um dublê; isto é bom para a moral, e também ajudar a dar visibilidade ao seu descontentamento. Essa visibilidade pode ser perigosa — autoridades e contra-revolucionários farão de tudo para garantir o respeito, mesmo que simbólico, aos seus ídolos — então certifique-se de realizar a ação com muitos apoiadores ao seu redor, ou tenha um plano de fuga; mas tanta visibilidade também pode ser útil, não apenas para incitar os seus companheiros, mas também para tocar e talvez influenciar os sentimentos dos outros.


Um formato de boneco bem conhecido que se beneficia de seu caráter festivo é a piñata. Recheada de doces ou outros brindes, associada com um jogo participativo em que todos ganham, piñatas podem ser ao mesmo tempo revolucionárias e acessíveis de todas as formas. Para um relato comovente de tais bonecos em ação, leia o relato que segue a receita Distribuição, Bancas e Infolojas. Por outro lado, outras situações podem pedir algo mais direto: no dia em que uma guerra começa ou que o resultado de uma eleição manipulada é anunciado, pode ser apropriado levar às ruas e atear fogo ao boneco de uma figura política ou militar. Imagine o noticiário da noite tentando fazer isso parecer com descontentamento liberal! Mesmo assim, existe algo a ser dito sobre destruir bonecos que representam conceitos ou forças destrutivas ao invés de atacar indivíduos vivos, que respiram: esta não é uma guerra de umas pessoas contra as outras, como as guerras do capitalismo e da hierarquia, mas uma guerra de todos contra a guerra em si. O que significa queimar uma bandeira do seu país? Isto é simplesmente queimar um símbolo de um sistema de valores hipócrita e de uma herança genocida.


Quando se trata de fazer bonecos, tudo vale, contanto que o produto seja reconhecível e será destruído ou sobreviverá às suas atividades planejadas de acordo com a sua intenção. Lojas de fantasia podem ter máscaras dos seus alvos prediletos prontas para você, especialmente perto do dia das bruxas. Papel maché é especialmente bom para piñatas. Você pode fazê-lo aquecendo três partes de água com duas partes de amido de milho até que engrosse; deixe esfriar um pouco e aplique no jornal para fazer com que ele grude. Estique o jornal sobre uma armação de arame, deixe secar, e repita a operação, até que as camadas estejam duráveis mas não resistentes a alguns ataques impiedosos e diretos; agora você pode pintá-lo. Se você for realmente fazer uma piñata, encha a com brindes através de um buraco que você fechará por último. Você também pode fazer piñatas num instante com caixas de papelão.

Nós roubamos a máscara de borracha - das que cobrem toda a cabeça - de uma loja corporativa. O corpo era feito de duas camadas de papelão com muitos grampos industriais e cola de construção. Essa estrutura rígia foi envolvida com com uma espuma macia como a encontrada em sofás de má qualidade. A cabeça era a mesma espuma, esculpida no formato apropriado e firmada com um duas camadas de tecido, justo. A cabeça foi feita grande o suficiente para ter que ser esmagada para entrar na máscara. Isso ajudou a máscara a ficar no lugar. O excedente de tecido no pescoço foi grampeado e colado ao torso. As pernas eram tubos de tecido com enchimento, com pequenas varetas de madeira dentro delas como se fossem ossos de forma que dobravam nos joelhos. Não havia essa estrutura óssea nos braços. Os antebraços eram feitos com varas compridas: em uma das pontas haviam luvas de boxe caseiras feitas com tecido vermelho e espuma, enquanto na outra ponta do antebraço a vareta saía pelos cotovelos da camisa e do terno, numa extensão de mais ou menos um metro - ela permitiam que o bonequeiro por trás do boneco manipulasse os braços. Como o nosso boneco não tinha quadris, a camisa e as calsas do seu traje resgatado do lixo foram costurados um ao outro na cintura - isso é altamente recomendado para o boneco lutador. Todo o esquema ficava pendurado por uma corda fina a uma vara; uma pessoa carregava a vara, suspendendo a marionete no ar, enquanto outra ficava atrás dela, manuseando os braços. Quando a polícia confiscou a vara de nós em uma manifestação, nós conseguimos continuar operando o boneco por horas, a pessoa que antes segurava a vara agora segurava o boneco direto pela corda - e ficou com as mãos machucadas por um bom tempo depois!


Relato

"Foda-se, George - isto é pelo meu irmão!". O grito de guerra partiu de um senhor atarracado em uma roupa de duende cujo cotovelo levantado se dirigia diretamente para o olho do presidente. Bush e o duende caíram para uma briga confusa sobre o asfalto. Nós ajudamos os dois a se levantar e o duente foi embora. Eu mal tinha conseguido reerguer o comandante em chefe do exércio dos E.U.A. quando outra pancada, desta vez um gancho, veio do nada e mandou a cara de borracha do presidente voando pra multidão. O megafone apitou e a voz de H. ressoou: "Ooooh! Essa deve ter doído, senhoras e senhores! Agora, quem é o próximo?" Enquanto isso, B. correu entre um grupo de lutadores de sumo para pegar o rosto do 43º presidente dos E.U.A. Era a luta do século!

Os assentos ao lado do ringue no teatro político não são muito requisitados pelo público em geral. Mas, pra nossa sorte, a famosa multidão do Halloween de Chapel Hill cuidou da logística para nós. Voilà, 75 mil pessoas prontas para um noite selvagem. E, diabos, nós já fomos a bastantes eventos como esse para saber como eles são previsíveis: muitos garotos de fraternidades se travestindo, dúzias de Super-homens, fadas, fadas e aquele cara que simplesmente corre gritando: "Uoooooou!". O cenário estava pronto para alguma coisa - qualquer coisa - acontecer.

Foi aí que entrou o George - pendurado em uma corda. O nosso boneco tinha uma cabeça de espuma coberta com tecido enfiada dentro de uma máscara de George Bush. Usamos um terno retirado do lixo (figuras públicas às vezes usam roupas humildes para agradas as massas) e um par de luvas de boxe vermelhas. Na comitiva, tínhamos percussionistas, pessoas levando faixas, bonequeiros em pernas-de-pau com suas marionetes corporativas, e, é claro, senhoras e senhores da "imprensa". Um de nós encenava o apresentador do espetáculo, vestido em um smoking e levando um megafone. Ele anunciava: "Entre no ringue e dê um soco no rei!", "Apresentando, no canto esquerdo, o desafiante... ãh, qual é seu nome, senhor?", "Texas, Afeganistão, Iraque... Chapel Hill, vocês são os próximos!".

Na verdade, para o nosso deleite, descobrimos que a plateia só precisava de um pequeno empurrãozinho. No caminho para o evento, um motorista de táxi que mal falava inglês encostou só para dar um peteleco no comandante em chefe. Com um pouco de treinamento e encorajamento, liberais risonhos davam tapas simbólicos no nariz - mas a maioria das pessoas dava um belo soco no presidente sem o menor pudor. A apertada máscara voou do boneco mais vezes do que conseguimos contar. Diversas vezes o boneco foi arrancado de nossas mãos por uma saraivada de socos. Quando ele desfalecia no chão, a galera começava a chutar e pular em cima de seu corpo de uma forma que infelizmente estamos acostumados a ver os policiais fazerem com as pessoas pobres. A resposta de cada indivíduo ao boneco parecia refletir o tipo de repressão em particular que ele ou ela sofriam nas mãos do governo: membros das classes desmoralizadas, depressivas, mas seguras tendiam a dar pequenos tapas; aqueles que demograficamente estavam mais propensos a serem vítimas da violência estatal eram ultra-violentos.

Depois de três horas de ataques contínuos, nosso boneco estava quase completamente demolido. Centenas de pessoas o espancaram. Milhares assistiram embasbacados a raiva que sua presença inspirava. Todo mundo sabia em que situação o chefe de estado se encontraria se fosse parar nas perigosas ruas de Chapel Hill sem os seus guarda-costas.

Como sempre, o que embalou o evento foi humor e celebração. Eu mal parei de rir durante três horas direto. Esta atmosfera não deu a oportunidade para os poucos apoiadores de Bush fazerem qualquer coisa, e o espetáculo da ampla maioria do público agredindo o seu líder eleito ajudou a impedí-los de ameaçar-nos violentamente. De vez em quando um republicano preocupado vinha até o presidente e dizia: "Você é um bom homem, eu votei em você em 2004". O Bush respondia com um soco na cara deles! Quanto realismo!

Em suma: como atentos observadores, nós sentimos que é nosso dever patriótico relatar o que pode ser descrito como sentimentos latentes de violência, ressentimento e prontidão para pelear diretamente com o Presidente dos Estados Unidos da América. Agora vamos esclarecer as coisas: não estamos sugerindo que as pessoas espanquem o presidente. Quando se relacionando com o Presidente, nós desencorajamos o uso de diretos no queixo, cruzados de direita, ganchos de esquerda, chutes, voadoras, tesouras, tabefes, bofetes, chutes na bunda ou na virilha, pancadas nas costelas ou no rosto, etc. Se você está preocupado com o mundo e quer trazer mudanças, essas baixarias são simplesmente inaceitáveis. Recomendamos que você use os canais apropriados: ser ultra-rico, manipular eleições e permitir que aviões sejam arremessados contra prédios.


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