Como Transformar uma Bicicleta Num Toca-Discos

De Protopia
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Receitas Para o Desastre

CrimethInc

Há centenas de meios de transformar uma bicicleta em um toca-discos, assim como outras centenas de itens podem ser transformados em toca-discos. A propósito, você pode transformar quase tudo em qualquer outra coisa — apenas pense no que fizeram com soja. Por favor, tome esta receita como um exemplo de como efetivar suas suspeitas sobre a identidade construída de um objeto.


Nós fizemos nosso toca-discos durante uma usina de ideias. Você pode ler sobre usinas de ideias também neste livro. Nós passamos algum tempo descobrindo tudo isso e não tiraríamos essa oportunidade de você. Além disso, um guia passo-a-passo seria absurdamente longo e entediante, sem mencionar difícil de acompanhar. Ao invés disso, começaremos com o conceito básico e iremos para alguns aspectos específicos do nosso projeto. Com os fundamentos em mente, você pode fazer tudo que estiver ao seu alcance.


Instruções

Quando eu tinha doze anos, meu amigo David mostrou algo a mim; você deveria tentar isso também. Ele fincou uma agulha em um pedaço de papel como se ele fosse uma lapela, assim a ponta se estendia por um dos lados do papel. Ele ligou seu toca-discos e, segurando o papel sobre ele, permitiu que a agulha se arrastasse gentilmente nas ranhuras. Led Zeppelin II surgiu ligeiramente mas claramente da peça de papel. Eu fiquei sem palavras.


Mas não há nada de loucura nisso. Se você quiser falar sobre loucura, loucura é tirar som de um CD! Um disco de vinil é analógico. No caso de um disco de vinil, analógico significa que a textura dentro das ranhuras oscilam do mesmo jeito que as moléculas de ar movimentadas na gravação de estúdio quando a música foi tocada, e do mesmo jeito que seus tímpanos vibram quando você ouve o som. A superfície da gravação é a textura do som. O único truque é fazer o salto de um meio para o outro. A agulha que David usou era pequena o suficiente para se ajustar dentro da ranhura. O papel em que ela estava presa tinha área suficiente para colocar aquelas vibrações em contato com ar suficiente que seria audível. Simples.


Quinze anos depois, um bom amigo e eu nos trancamos em um escritório abandonado com comida, água, um penico, ferramentas, o primeiro disco da banda Zegota (com "Bike Song", naturalmente), e, claro, uma bicicleta. Trancando a porta, nós prometemos não sair da sala até que tivéssemos tocado a canção na bicicleta. Nós poderíamos tentar isso porque sabíamos que qualquer pedaço de papel e qualquer agulha pode fazer isso possível. Nosso trabalho foi simplesmente fazer uma máquina que pudesse rodar a gravação a uma velocidade fixa e um aparato para segurar a agulha na ranhura enquanto a gravação rodava.


Notas de campo

Nosso alto-falante era feito de papel e cola. Uma agulha normal de costura foi fixada no fim do cone e colada no local. O ângulo entre a agulha e a superfície da gravação era de cerca de 45 graus.


Nosso toca-discos estava na vertical. Isso fez com que fosse mais fácil de lidar com o peso de nosso papel, porque a maior parte dele era apoiada por um cabide. O cone era além disso suportado por alguns fios estabilizadores que o impediam de ir de um lado para outro.


Fizemos um prato de compensado de madeira, o qual unimos à roda da bicicleta com varas rosqueadas, porcas e arruelas. Nós usamos outra vara rosqueada como pino central. Mantivemos o disco no lugar usando uma borboleta e uma arruela.


Nós isolamos o dispositivo com a manivela do prato e do cone construindo o toca-discos em duas partes. Decidimos pela separação porque em nossa primeira tentativa a vibração e agitação causada pela manivela fez o disco pular. Depois de dividir a máquina em duas, a parte da manivela poderia oscilar que o lado do disco ainda giraria suavemente. Nós conectamos as duas partes com uma fina correia de borracha. A polia do lado da manivela foi fabricada com sucatas; a polia do lado do disco era uma roda de bicicleta de aro 27" sem pneu. Nós fizemos a correia com tiras finas de câmara de pneu.

Primeiro, a correia teve problemas em nas polias. Ele escapava pouco a pouco para o lado e até que caía fora. Nós resolvemos este problema costurando a correia plana em um tubo.


Acionar o aparato era importante. Nós queríamos poder colocar o pedal em uma velocidade confortável e ainda ter o prato giratório indo aproximadamente a 33 1/3 RPM. Acontece que é uma velocidade realmente lenta para uma mão girar. Por isso que usamos uma polia grande com uma polia pequena. Nós acoplamos a roda da frente de aro 27" com uma polia de 10 polegadas que montamos a partir de sucatas e fixamos ao movimento central de onde tiramos a outra manivela.


Sendo feito totalmente de partes de bicicleta, todo o dispositivo de acionamento pesava muito pouco. Isso a princípio parecia algo bom, mas não era. Pouca massa significa pouca inércia, assim o disco poderia mudar de velocidade rapidamente em resposta a leves mudanças na velocidade da manivela. Para adicionar massa, nós passamos uma correia da polia de nossa manivela até a pinha da roda de trás. Nós fixamos a pinha no seu lugar, assim como em uma bicicleta de roda fixa, então a roda de trás funcionou como um bateria rotatória, armazenando energia cinética. A bateria rotatória suavizou a alimentação inconstante da manivela, fazendo com que a velocidade fosse fácil de controlar. Isso também permitiu parar a manivela por um momento ou trocar as mãos sem que a rotação ficasse mais lenta.


Você pode superar essa barreira tecnológica, mas nós descobrimos que discos antigos tocavam mais alto e seguravam mais a agulha do que os novos. Isso porque as ranhuras são mais profundas e mais amplamente espaçadas.


Referências

Crimethinc.png   Este texto foi originalmente publicado por CrimethInc.


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