Concept

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Earthship vol1 - tradução coletiva
Michael Reynolds

Arquivo:Earthship vol1 - Cap 1 Concept.pdf


1. O CONCEITO


Os fatores determinantes da ideia da /Earthship/

  • O que significa interação
  • Por que deveríamos praticá-la

Este capítulo explicará e desenvolverá o conceito de “/nave/ independente” como a faísca necessária em direção à evolução do espaço vital neste planeta. Será contemplada também uma discussão em torno do que este /nave/ necessita para sustentar independentemente a existência humana. Visões idealistas se transformarão em possibilidades reais.

Uma perspectiva das estrelas

Uma vez seres de luz de Alcione enviaram um representante para a Terra para analisar a situação. O ser de luz veio, passou um tempo na Terra e voltou para Alcione, onde reportou o seguinte:

“Basicamente havia três tipos de criaturas. Um tipo de criatura estava enraizada ao solo. Era muito evoluída em relação ao seu planeta hospedeiro. Deviam ser muito inteligentes. Sem a necessidade de se mudar de um lugar para o outro, retiravam o que precisavam do ar, do sol e do solo para sustentar uma vida longa e serena. Seus resíduos caiam no solo em sua volta e eram absorvidos por ele, sendo reciclados e retornando à própria criatura. Quando esta criatura morria, era absorvida pelo solo e servia de comida para seus descendentes. Era mais do que uma criatura; era um sistema com total interação com o seu planeta hospedeiro.”

O segundo tipo de criatura também era muito evoluído, embora tivesse que se mudar para se manter. Estas criaturas também apanhavam o que precisavam do ar, do sol e do solo. Algumas delas se alimentavam umas das outras. Seus subprodutos eram absorvidos pelo solo. Quando estas criaturas morriam, também eram absorvidas pelo solo, e tudo se tornava alimento para as criaturas anteriormente citadas. Estas criaturas inclusive se alimentavam dessas outras criaturas citadas. Aparentemente havia um intercâmbio físico entre ambos os tipos de criaturas no que se refere a comida e ar. Cada um deles inala o que o outro exala. Eles tinham interação com o planeta e entre eles mesmos.”

O último tipo de criatura não estava lá muito bem adaptado ao planeta. Aliás, estas criaturas eram provavelmente alienígenas. Elas faziam uso das dois outros tipos, assim como do planeta, sem retribuir com nada além de resíduos que tornavam a sobrevivência difícil para elas e para as outras criaturas. Elas pareciam estar dominando o planeta como um tipo câncer. Estas criaturas se proliferaram, brigavam entre si, abatiam impiedosamente os dois outros tipos e abusavam brutalmente de seu planeta hospedeiro. Elas parecem não entender o seu ambiente, seu funcionamento ou a si mesmas. Se possível, elas deveriam ser confinadas em algum curral intergaláctico para evitar que prejudiquem outras criaturas e outros planetas, bem como a si mesmas. Em geral, este planeta era bem bonito e sereno antes dessa terceira criatura começar a se multiplicar a um nível em que seus efeitos se tornaram em uma séria ameaça ao próprio planeta.”

A situação foi analisada e os seres de luz de Alcione resolveram entrar nestas criaturas e desenvolvê-las desde dentro para fora, despertando-as para o sistema do qual faziam parte. Elas têm o potencial de interagir com o planeta e torná-lo ainda mais bonito e magnífico do que antes de elas chegarem. Assim foi e o projeto começou...


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Uma visão sobre o conceito corrente de habitação

Era início de outono em Cincinnati, Ohio, e as árvores ainda não haviam desfolhado. Uma inesperada tempestade de neve veio antecipadamente, e as folhas das árvores acabaram acumulando muita neve, pesando mais do que a estrutura de seus galhos podia suportar. Consequentemente, muitos galhos se quebraram, levando consigo vários cabos da rede elétrica. Isto se repetiu em muitos lugares ao longo da cidade, tendo como resultado muitas casas e centros comerciais sem energia elétrica. Durante alguns dias, as pessoas não puderam nem sequer comprar comida, já que as lojas estavam fora de funcionamento devido à falta de energia. Muitas pessoas, pensando que estavam bem-preparadas para tal emergência, desarmazenaram suas comidas enlatatas, guardadas especialmente para ocasiões como aquela. No entanto, infelizmente, a maioria das pessoas da cidade tinha abridores de lata elétricos e não pôde fazer uso de sua comida emergencial!

O conceito de habitação não mudou realmente muito durante séculos. Começamos com compartimentos para nos proteger dos elementos naturais. Em pouco tempo, dentro destes compartimentos começamos com atividades que requeriam luz, fogo e água, além de um considerável nével de conforto. Para tal, começamos a trazer energia e água para estes compartimentos inicialmente com as mãos, e posteriormente através de sistemas. Os sistemas gradualmente desenvolveram do transporte de madeira para fogueira a usinas nucleares, estas últimas gerando enormes quantidades de energia que alimentam através de cabos, vários compartimentos pelo mundo afora. Os sistemas evoluíram radicalmente; o compartimento ainda é um compartimento.

Os sistemas, agora centralizados, tornaram-se aspectos habitacionais mais importantes que o compartimento em si. Nós agora somos dependentes e vulneráveis sem estes sistemas. Quando os sistemas são interrompidos em razão de uma catástrofe, como um furacão, tornado ou terremoto, as pessoas se agrupam em instalações comunitárias, como escolas, onde existem sistemas emergenciais. As habitações atuais não são funcionais sem sistemas. Nós construímos todos os tipos de compartimentos a partir de madeira, concreto, ferro e vidro. Nós os construímos até sobre rodas, mas eles continuam sendo meros compartimentos que nós bombeamos com uma vida assistida. Pode-se facilmente imaginar as limitações, a dependência e a vulnerabilidade de estar sob um sistema de vida assistida em hospital. E se você um dia você se visse obrigado a passar o resto de sua vida sob um sistema de vida assistida? Muitas pessoas prefeririam morrer a viver desta forma. Nós estamos vivendo desta forma.

E nós também estamos morrendo desta forma. Se por um lado os sistemas nos dão energia elétrica, por outro nos envenenam. Chuva ácida, lixo radioativo, teias de cabos de eletricidade, oceanos e rios poluídos, extinção de espécies selvagens são todos parte do “preço” que pagamos pelo sistema de vida assistida necessário para possibilitar o conceito de habitação que temos hoje.


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Uma pessoa em um sistema de vida assistida em um hospital tem de estar constantemente ao alcance de e plugada a vários outros sistemas a fim de se manter viva. O mesmo ocorre com o nosso atual conceito de habitação. Esta necessidade de manter-se plugado nos impede de usarmos uma imensidão de terras maravilhosas e dinâmicas. Alguns dos lugares mais bonitos deste planeta são declarados sem condições para habitação humana porque os sistemas de assistência à habitação não chegam até eles. As limitações, a dependência, a vulnerabilidade e o envenenamento nos dão várias razões para questionarmos o conceito atual de habitação e perguntarmos a nós mesmos, “É isso o que realmente queremos ter conosco no futuro?”


Os sistemas das habitações atuais

Os sistemas que tornam possíveis os atuais compartimentos habitacionais são os seguintes:


Sistemas de produção e distribuição de energia elétrica:

Estes sistemas provêm energia elétrica para iluminação e eletrodomésticos, bem como, em muitos casos, para aquecimento e refrigeração. Em alguns casos, inclusive, o bombeamento de água para o compartimento habitacional depende destes sistemas. A fim de corresponderem à demanda, estes sistemas vêm ocasionando em resíduos e efeitos altamente prejudiciais, para além de estarem sufocando o planeta com redes de cabos.

O preço desta energia elétrica, em termos financeiros, se já é alto, está se tornando ainda mais. Estes sistemas pertencem a grandes corporações cujos objetivos nem sempre se alinham ao interesse do bem comum ou do planeta. O preço desta energia elétrica, em termos de ecologia, é a extenuação de recursos que levaram milhões de anos para se formarem, assim como a poluição do delicado ambiente que sustenta a vida. Para nós, não é mais seguro continuar a usar sistemas, já que sua confiabilidade é cada vez mais questionável à medida em que avançamos em direção ao futuro.


Sistemas de abastecimento de água:

Sistemas centralizados de abastecimento de água sempre envolveram eletricidade de alguma maneira, o que quer dizer que os sistemas de abastecimento de água são dependentes do sistema de energia elétrica. Isto, somado a questionáveis processos de purificação e tratamento de água, acaba tendo como resultado muitas cidades sem água potável e dependentes da rede elétrica. Em áreas rurais, frequentemente depende-se da rede elétrica para se bombear água de poços artesianos e, em várias localidades, a água já não se encontra em condições de ser ingerida dado a poluição por esgoto, urina de gado ou lixo radioativo.


Sistemas de esgoto:

Nas cidades, toda a água utilizada ou descartada acaba nas redes de esgoto e, em zonas rurais, esta água vai para estações menores de tratamento. Em áreas rurais mais afastadas, esta água acaba em sistemas sépticos. 80% dessa água poderia ser reutilizada como água cinzenta. na maioria dos casos, isto não é ao menos considerado e, desta forma, acabamos com quantidades imensas de esgoto para tratar. O resultado é poluição extrema de águas dentro e em torno das cidades, e um desperdício de alto potencial de água para irrigação em zonas rurais. Novamente, a maioria dos sistemas de esgoto dependem em certo nível de sistemas elétricos para funcionarem.


Sistemas de abastecimento de gás:

O sistema de abastecimento de gás natural é o mais limpo e o menos destrutivo para o planeta. No entanto, em tempos de catástrofe, eles entram fora de funcionamento (cabos de gás se rompem) com frequência. A distribuição desse gás é potencialmente perigosa e incerta em tempos de desastres, para além do fato de estar cada vez mais cara. Se para seu funcionamento completo uma casa necessita de gás, esta casa será tão vulnerável quanto outras que se utilizam de qualquer um dos outros sistemas. Há de se salientar que gás necessita ser fretado por veículos para zonas rurais, o que é um sinal claro de vulnerabilidade em tempos de desastres.


Sistemas de abastecimento de alimentos:

Abastecimento de alimentos se tornou tão somente mais um sistema como qualquer outro. O sistema centralizado de produção de alimentos é definitivamente um dos mais vitais para a manutenção da vida humana neste planeta. Os compartimentos habitacionais atuais não são delineados para dar conta das necessidades alimentícias de seus habitantes humanos. A produção em massa de alimentos tem em mente não a saúde humana, mas sim os lucros. Dinheiro é, infelizmente, o objetivo central de todos os sistemas. Os vários químicos usados para a produção de mais alimentos, em menos tempo, têm afetado drasticamente a qualidade de frutas, verduras, laticínios e carnes. (Leia Diet for a New America, de John Robbins). A qualidade das águas pelo globo está afetando os peixes. A distribuição de alimentos depende de veículos, que, por sua vez, em tempos de desastres econômicos, naturais ou causados por humanos, podem não rodar. O sistema existente de abastecimento de alimentos é, dessa forma, duvidoso, bem como prejudicial à saúde. Além disso, é um sistema tão envolvido com o sistema financeiro que quase não tem mais a ver com comida. Falando em envolver, os alimentos por sua vez são também envolvidos em vários plásticos e embalagens, que, ao serem descartados, acarretam sérios problemas. Árvores e animais não necessitam envolver os seus alimentos; por que necessitamos? É porque somos inteligentes?


Sistemas Materiais:

Os principais materiais utilizados nos compartimentos habitacionais atualmente apresentam vários aspectos que merecem ser repensados. 1. Excessiva quantidade de madeira é utilizada e, embora seja uma fonte renovável, árvores requerem tempo para crescer. 2. Muitos materiais são produzidos em certos centros, tendo que ser transportados ao longo do país. Este é um aspecto econômico e energético a considerar. 3. A maioria dos materiais requerem habilidades específicas para seu manejo. Isso os coloca longe do alcance de pessoas sem esse conhecimento. 4. Muita energia é demandada para a fabricação desses materiais, resultando conseqüentemente em muita poluição. 5. Muitos novos materiais são prejudiciais à saúde. Infelizmente, isso só se descobre após anos de sua utilização. 6. Materiais fabricados tendem a ditar a natureza da habitação. Deveria ser o contrário.


Sistemas Monetários:

Este sistema obviamente dá suporte ao compartimento residencial porque todos os outros sistemas só são possíveis através deste sistema. Se não se tem dinheiro, se fecham os outros sistemas, independentemente da necessidade. As pessoas têm, de fato, morrido durante o inverno porque seus serviços são cortados por não conseguirem pagar suas contas. Isso faz nossa própria sobrevivência dependente de um sistema econômico bem vazio e instável. Dessa forma, o compartimento residencial está em uma posição bastante vulnerável. Nós não somente devemos lidar com a falta de confiabilidade dos vários sistemas de assistência, mas também devemos lidar com a falta de confiabilidade do sistema que nos dá acesso a esses sistemas de assistência.

        • optei por sistemas de assistência por fazer referência ao termo "life support system" utilizado no final de UMA VISTA SOBRE O CONCEITO DE HABITAÇÃO EXISTENTE quando da analogia com hospital ****


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Desenvolvendo o novo conceito de habitação

Os sistemas citados anteriormente, somados a um compartimento rebocado, compõem o habitat humano existente neste planeta. Um novo conceito para habitat deve também dar conta dos sistemas, assim como o compartimento. Já que há tantos problemas com a natureza centralizada dos sistemas existentes, e já que ninguém sabe realmente o que nossa viagem rumo ao futuro trará, (tendo em vista sua viabilidade e confiabilidade), nós estaremos muito melhor sem as habitações atuais e teremos muito mais controle sobre nossas vidas se um novo conceito de habitação inerentemente, em sua própria natureza, proporcione estes sistemas com os quais nos tornamos tão acostumados.

Seria bom se tivéssemos meio caminho andado na tentativa de redesenhar apenas pela reavaliação de nossas necessidades. Isto é bem parecido ao projeto de um veículo para uma viagem ao espaço por cinco anos. A nave precisa ser autônoma e, para isso, o número de nossas necessidades precisa ser reduzido.

Quando uma pessoa compra uma casa hoje, esta pessoa está embarcando em uma viagem pelo planeta Terra pelos próximos trinta ou quarenta anos. Considerando as condições do planeta (devido aos vários anos de mau uso), nossas naves precisam ser autônomas. Nós somos muita gente para continuar apenas usufruindo do planeta - agora nós temos que nos harmonizar COM ele.


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O futuro precisa de uma nave autônoma capaz de prover em si mesma um ambiente para o habitat humano, através da sua própria interação com os fenômenos naturais. Isto possibilitaria que esta nave fosse construída em qualquer lugar - no topo de uma montanha, no meio do deserto, numa ilha, qualquer lugar. Esta seria uma /Earthship/.

Um aspecto muito importante deste novo conceito de habitação é que este deve ser acessível às pessoas em geral. Isto significa que essa nave não pode ser um projeto multimilionário que apenas os mais ricos podem arcar. Todos têm o direito a viajar rumo ao futuro. O conceito, o design, e o método atual de manifestação de uma Earthship precisam ser desenvolvidos tendo-se isto em mente. Além de interagir com os fenômenos naturais, este conceito deve interagir também com a natureza da pessoa comum.


Os sistemas da Earthship

Em virtude da forma como uma Earthship interage com os fenômenos naturais existentes, esta deve possibilitar um compartimento que mantém os seus próprios níveis de conforto. A Earthship em si deve ser o sistema de aquecimento e resfriamento.


Sistema de aquecimento e resfriamento:

O sol é a fonte de calor. A Terra em si é uma bateria que armazena calor. Earthships, por isso, deve começar a se relacionar com ambos fenômenos em seu /design/.


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"Nós" é um conceito muito mais adequado ao futuro do que "eu".


Casa como uma bateria

Coloque uma frigideira de ferro e uma panela de alumínio no boca do fogão e as aqueça. Desligue o fogão. A panela de alumínio vai resfriar em poucos minutos; quinze minutos depois, a frigideira de ferro ainda vai estar queimando a sua mão ao toque. Isto se deve ao fato de a frigideira ser mais grossa e ter mais massa que a panela de alumínio. Funciona melhor como "bateria" para manter o calor.

A habitação foi desenvolvida neste planeta a partir de uma necessidade física e emocional por abrigo. Logo no início, o uso de energia estava presente no abrigo. Fogueiras eram utilizadas dentro dos abrigos para manutenção do calor e para cozinhar. Então luzes elétricas e vários eletrodomésticos apareceram. Agora nós temos uma multidão de aparelhos, bem como sistemas complexos de aquecimento e resfriamento, que se tornaram necessidades habitacionais. O saldo total é que agora, energia é tão importante numa habitação quanto abrigo.

Ninguém consideraria realmente construir uma casa que não proporcionasse abrigo. Por exemplo, você consegue imaginar uma linda /planta/ construída no chão, sem um teto? Isto seria absurdo. A este ponto de nossa evolução, nós devemos aceitar o fato de que energia é essencial para a habitação; é tão absurdo construir uma casa sem provisão de energia quando é construir uma casa sem teto.

O fator energético pode ser dividido em duas categorias - aparelhos e temperatura. Como será discutido mais adiante, a energia demandada para aparelhos eletrônicos pode ser suprida diretamente com tecnologia disponível, coletada do sol ou do vento, e armazenada em baterias para uso futuro. Temperatura pode ser coletada da mesma forma que energia elétrica. Uma parede de vidro de uma casa voltada para o norte transmitirá calor para o espaço e para a massa aos fundos. Este espaço e a massa, potencialmente a casa toda, pode funcionar como uma bateria para armazenar calor. Este conceito é conhecido como massa térmica, e funciona muito bem em qualquer local aonde haja exposição a qualquer fonte de calor.

Massa térmica tem sido utilizada há séculos por animais e civilizações antigas, mas foi ignorada por métodos de construção mais "modernos", "econômicos", que não preveem nenhum armazenamento de calor.

A ideia que nós chamamos de bateria é na verdade um reflexo de um padrão ou fenômeno no qual todo o universo é baseado. É a relação entre energia e matéria. Toda matéria é na verdade energia armazenada, enquanto que toda energia é na verdade matéria "evaporada". Uma matéria em si é essencialmente uma bateria"

Da mesma forma que a matéria armazena energia, uma massa densa armazena temperatura. O quanto mais densa uma massa é, maior temperatura ela armazenará. Por isso, uma casa ou abrigo feito com massa densa armazena muito melhor a temperatura que uma casa feita de tábuas finas de madeira. Isto é fato independentemente da fonte de temperatura ser calor ou resfriamento.

Uma boa analogia é a forma como um barril armazena água. Se a capacidade de armazenar água de um barril fosse comparada a capacidade de armazenar temperatura da maioria das casas, o barril teria 1" de profundidade, ao invés de 3'-0". A maioria das casas tem muito pouca ou nenhuma massa densa, e por isso elas não armazenam temperatura.


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Conseqüentemente, a energia precisa ser constantemente ser trazida via cabos e canos de fontes externas para controlar a temperatura interna.

Atualmente, um isolamento de melhor qualidade ajuda a impedir o ar quente de escapar. Se as casas pudessem armazenar calor de qualquer fonte, como um barril armazena água, elas demandariam muito menos energia para se manterem "cheias". Ao invés de utilizar massa, nós normalmente aquecemos ou resfriamos o ar em nossas casas constantemente para controlar a temperatura. Ar não mantém a temperatura. Isto é como tentar juntar a água em uma superfície plana - ela simplesmente escorre. Assim como nós precisamos manter a água em um barril se nós quisermos armazená-la, nós precisamos manter a temperatura entre massa se nós quisermos mantê-la.

Já que nós temos vários problemas e gastos ao levar calor para dentro de uma casa, nós deveríamos fazer o que podemos para que essa casa mantenha esse calor. As casas deveriam ser construídas com massa ao redor de cada espaço para que estas possam funcionar como baterias.

Nosso corpos, sendo 96% água - que é massa, funciona de forma parecida. Uma dada quantidade de energia é levada aos nosso corpos através de alimentos, etc. Parte desta energia é transformada em calor, que é armazenada na massa integrante de nossos corpos; nosso corpos são baterias. Assim nós conseguimos manter os 36ºC quando o ar a nossa volta está em 10ºC e quando nós não nos alimentamos a todo momento. Se nossos corpos não fossem capazes de manter o calor, nós teríamos que comer a todo momento, trazendo energia constantemente para manter nossa temperatura corpórea. Nossos alimentos se esgotariam, bem como nossos sistemas digestórios, além de nós não termos tempo para mais nada senão comer.

Com habitação é parecido. Sem massa, nós estamos esgotando nossas fontes de combustível, tributando nossos sistemas energéticos e desperdiçando a maior parte de nosso tempo produzindo e pagando por combustível. E o preço disso é tanto economicamente quanto ecologicamente sofrido. Se nossas casas forem armazenar calor como nossos corpos, elas precisam ser feitas de massa. Quanto mais densa for a massa, mais temperatura ela é capaz de armazenar. A Earthship possibilita esse armazenamento ao envolver cada cômodo com paredes de 3'-0" de grossura. Isto se dá através da interação com a terra, alinhando-se com o fenômeno da massa térmica.

O conceito de casa como uma bateria é adequado a qualquer lugar, independentemente da disponibilidade de sol. Não importa a fonte de calor ou resfriamento, a bateria reterá a temperatura.


Sistemas de abastecimento de alimentos:

Uma Earthship deveria relacionar-se com a Terra de maneira que sejam possibilitados espaço e meio para o cultivo de plantas, frutas e sementes comestíveis ao longo do ano. Nossas dietas poderiam ser baseadas tendo em conta aquilo que poderia ser facilmente produzido por uma Earthship, assim como a capacidade de produção de alimentos de uma Earthship está aos poucos desenvolvendo-se ao encontro dos desejos de seu habitante.

Casa como uma estufa

Para que os habitantes de uma Earthship possam ser independentes, eles terão que produzir comida. O que isso significará para o design da /nave/?


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Obviamente que precisaremos de terra; serão necessárias áreas com piso de terra. As Earthships atuais provêm vasos e pequenas áreas, mas serão necessários cômodos e espaços inteiros para cultivar variedades de alimentos em quantidades razoáveis. Por exemplo, nós precisaremos de altura para o cultivo de cítricos e pés de nozes. As principais demandas de um jardim devem ser providas dentro da /nave/, de forma que a produção de alimentos pode se dar ao longo do ano, protegida de temperaturas extremas e ar potencialmente poluído ou chuva ácida. Isso significa que uma parte do espaço será para plantas, não para pessoas. Estes elementos são determinantes para o design da /nave/. Tão importante quanto uma cama é uma horta.


Sistemas elétricos:

Uma Earthship precisa fornecer suficiente energia para sua iluminação e para os vários aparelhos que nós humanos nos acostumamos a ter. Obviamente que o custo dos componentes que provêm esta eletricidade seriam pensados a partir de uma abordagem mais eficiente, por parte dos proprietários, sobre o uso geral de eletricidade. O simples acesso de luz solar reduz a necessidade de iluminação durante o dia.


Casa como uma estação de energia

A /nave/ deve ser uma pequena e independente estação de energia. Através do vento e/ou do sol, esta deve captar energia suficiente para o encontro com as demandas elétricas de seus habitantes de forma limpa. Atualmente, pode-se captar energia de geradores eólicos ou placas fotovoltáicas - armazenando a energia em baterias e usando-a quando necessário desde estas baterias. Células fotovoltáicas foram desenvolvidas para converterem energia solar em eletricidade. Elas se tornaram mais confiáveis em mais áreas que os geradores eólicos; entretanto, é importante ter em mente que geradores eólicos podem ser produzidos com menos tecnologia. Essa energia é armazenada em baterias elétricas do tipo convencionais para veículos (carrinho de golfe). Este método já se comprovou ser uma solução adequada para as demandas energéticas dos aparelhos domésticos ao longo do cinturão do sol, sul e sudoeste dos EUA. Baseado no que tem sido aprendido nesta área, este método será em breve suficientemente sensível para prover a energia necessária em outras áreas onde o sol aparece encoberto por nuvens. No futuro haverá provavelmente outras formas de captação e armazenamento de energia; em breve estaremos coletando-a diretamente do ar, dos átomos (Leia Tapping Zero Point Energy, de Moray B. King). Nosso uso específico de energia pode evoluir; no entanto, hoje ainda necessitamos de energia que chega a nós através das tomadas de parede. Isto não mudará de um dia para o outro. O conceito da /nave/ geradora de energia pode ser desenvolvido de formas distintas; mas a utilização imediata deve partir daquilo com o qual estamos acostumados, para então nos levar aquilo que é o mais desejável.

Assim como o gerador é desenhado como parte integrante de um carro, o sistema gerador de energia deve ser parte integrante do design das Earthships. A estética da Earthship é resultante das necessidades dos sistemas. As Earthships atuais são construídas e finalizadas com materiais terrosos, para além de serem enterradas. Elas funcionam muito bem, mas sua aparência diz respeito ao seu desempenho. Será difícil, se não impossível, criar uma Earthship colonial inglesa. Uma caixa de madeira vazia pode ser decorada como uma casa colonial inglesa, mas seriam necessários cabos de força e sistemas. Uma Earthship não pode ter essas conexões com a rede de força. Os dias de ideias preconcebidas sobre como a Arquitetura deve ser chegaram ao fim. Construções, habitações em especial, devem tornar-se /naves/ interativas , evoluindo idéias preconcebidas sobre estilo e aparência para independência e desempenho. Emocionalmente, este é um outro ponto no qual nós temos que mudar para irmos ao encontro da Earthship. **** duvidas na tradução****


Ilustração página 15


'Sistemas de abastecimento de água:'

A /Earthship/ deve, dentre o seu próprio sistema elétrico, favorecer o bombeamento de água a partir dos métodos convencionais já existentes, bem como captar água da chuva e do desgelo de neve. Uma Earthship deve prover sua própria água.


Casa como um fornecedor de água

Atualmente nós trazemos os sistemas de água até nossas casas. Uma Earthship pode ter um poço que é bombeado desde o sistema independente de energia da Earthship. /Naves/ podem inclusive coletar água. Esses sistemas podem ser construídos dentro da natureza da própria /nave/, eliminando, dessa forma, a necessidade de um sistema externo de abastecimento de água. No futuro poderíamos descobrir maneiras de coletar água do ar, através de condensação; mas, mesmo agora, já podemos bobear água com energia gerada pela /nave/. Em breve será importante purificar água para consumo humano. Purificadores terão de ser construídas dentro das /naves/. Água quente também terá de ser provida pela própria /nave/. Vários tipos de aquecedores de água solares funcionam em diferentes áreas com as tecnologias atuais. As Earthships deverão, por fim, capitarem, purificarem e aquecerem sua própria água.


'Sistemas de esgoto:'

Uma Earthship deve separar sua água em água verde e água preta, reutilizando-as e/ou devolvendo-as para a Terra em uma forma que seja adequada aos processos naturais existentes.


Casa como um sistema de tratamento de esgoto

Água preta é resultante dos vasos sanitários; já a água cinza vem dos demais locais (pias, banheiras, lavatórios, etc.). Os sistemas atuais juntam TODA a água cinza e preta em um tanque séptico ou cano de esgoto abaixo do solo; a totalidade dessa água precisa ser quimicamente tratada e acaba por poluir nossos rios, córregos oceanos e subsolos, em grande parte devido a tanto volume. E nós compramos fertilizantes para nossas plantas. Ao invés disso, poderíamos utilizar a água cinza, que está ao nosso alcance, para aguar e alimentar nossas plantas. Nessa água há partículas de alimentos que vem da pia da cozinha e há proteína que vem da água do banho. As plantas se dão bem muito com essas substâncias. O sistema de tratamento de água cinza residual pode ser conectado ao jardim. Isto pode ser efetuado de diversas formas, embora simples escoagem seja a mais fácil.


Ilustração página 16


Quando a água cinza é reutilizada, torna-se mínima necessidade de tanques sépticos ou canos de esgoto, já que apenas a água preta dos vasos sanitários será para aí levada. Os tanques sépticos e sistemas de esgoto atuais são tão grandes porque eles precisam dar conta de chuveiros, lavadoras de roupas, de louças, etc... Inteiramente. Um tanque séptico muito menor, apenas para água preta, pode até ser selado, ou pelo menos ter um impacto mínimo nas áreas circundantes. Os sistemas de esgoto das cidades seriam muito mais simples de lidar se contivessem apenas água preta. Mas a reutilização de água cinza significaria, obviamente, um cuidado maior com o que se joga ralo abaixo - nada de Veja ou outros produtos químicos tóxicos.


'Sistemas de abastecimento de gás:'

Como o abastecimento de gás é o sistema menos prejudicial numa habitação convencional, Earthships recém-construídas que ainda não sejam totalmente independentes podem usar gás para eventualidades. Mas esse seria utilizado o menos possível.


Casa como geradora de metano (estação de metano?)

Gás (metano) pode ser produzido através dos resíduos do esgoto e da composteira. Idealmente, as Earthships poderiam fornecer gás suficiente para uso próprio a partir de sua composteira e de seus tanques sépticos para água preta. Até então, os únicos usos para o gás seriam para a cozinha e para esquentar água em eventualidades. O metano produzido pela casa poderia facilmente atender a esta demanda.


Ilustração página 17


Sistemas Materiais:'

Ambas forma e estrutura de uma Earthship devem vir de fontes "naturais" de nosso tempos. Isso inclui tudo aquilo que está presente em nosso planeta em larga escala e em vários locais. Tanto esses materiais quanto as técnicas para sua utilização devem ser acessíveis para uma pessoa comum em termos de preço e habilidades requeridas. Quanto menos energia é exigida para tornar um objeto encontrado qualquer em um material de construção melhor. Os designs das Earthships devem se relacionar com os seus usos diretos (com pouca ou nenhuma modificação) dos recursos naturais do século XXI.


Ilustração página 18


Casa como uma coleção (ou coletânea) de subprodutos

Uma Earthship do futuro deveria utilizar-se de materiais locais, aqueles originários de uma região. Por séculos as habitações vêm sendo construídas com materiais encontrados, como pedras, terra, palha e madeira. Agora existem montanhas de subprodutos de nossa civilização que já foram produzidas e dstribuidas por tudo. Estes são os recursos naturais do século XXI e uma Earthship deve fazer uso destes através de técnicas acessíveis para as pessoas comuns. Em tempos em que financiamentos chegam até a 75% dos rendimentos mensais, não ter onde morar se torna uma epidemia, e esse estresse está se tornando uma doença. Moradia precisa voltar a estar ao alcance do indivíduo.


'Sistema monetário'

Devido ao fato de uma Earthship prover todos aqueles sistemas pelos quais, do contrário, seu morador estaria pagando, bem como sua concepção e design serem bastante acessível a uma pessoa comum, a dependência em relação ao atual sistema monetário seria drasticamente reduzida, o que diminuiria, por seu turno, o estresse para as pessoas e o planeta.


Casa como um modo de sobrevivência (dinheiro):

Idealmente uma Earthship é uma /nave/ que provém ambos espaço, com os sistemas necessários aos humanos, e plantas comestíveis, de forma independente, através de sua interação com os fenômenos naturais. Isso reduziria, e por fim acabaria, com o estresse em torno da existência neste planeta, para ambos humanos e o restante do planeta. Esta concepção de existência (viagem independente X presos pela dependência) poderia modificar a própria natureza da mente humana, fornecendo base e direção para a evolução consciente na Terra.


Ilustração página 19

Esta é uma visão para o amanhã que nos serve de inspiração. Agora, o que nós podemos fazer hoje?


Hoje

Os elementos desestimulantes da habitações existentes são:

- estas estão constantemente aumentando a dependência em relação aos enormes sistemas que debilitam, exploram e destroem o planeta;

- sua localização está limitada à disponibilidade destes sistemas;

- não são funcionais sem estes sistemas;

- o modo como elas se manifestam contribui para o aumento do nível de estresse para ambos planeta e pessoas.


Uma /nave/ independente deve:

- ser funcional em qualquer lugar;

- diminuir e por fim dispensar essa dependência em relação aos sistemas externos que atualmente sustentam os compartimentos habitacionais;

- ser acessível às pessoas comuns;

- possibilitar o cultivo de alimentos;

- dar um destino para seus resíduos e subprodutos;

- gerar sua própria energia;

- realizar a climatização de seu interior;

- fazer uso dos subprodutos do século XXI.


Tudo isto deve ser alcançado a partir da interação com os fenômenos naturais, sem conexões com fontes externas.


Ilustração página 20


O que significa interação

"Interação" é uma palavra bastante usada atualmente. Quando um sistema de energia solar ou um sistema de energia eólica é ligado à rede elétrica, mas é demandado mais energia do que estes sistemas podem gerar, esta energia é provida pela rede elétrica. Quando há um excedente da energia gerada por fonte solar ou eólica, esta retorna à rede elétrica. A isto se dá o nome de "interação com a rede elétrica existente".

A interação é uma dança entre dois sistemas. No exemplo acima, o sistema solar/eólico interage com o sistema existente, fornecendo e recebendo, gerando e usando. É uma dança, uma onda, um pulso, um alinhamento, muito mais do que simplesmente fazer uso do sistema elétrico existente.

Os animais e as árvores interagem com os fenômenos naturais do planeta. Uma árvore começa a surge através do planeta, alimenta-se do planeta, morre, suas raízes retornam ao planeta e seus descendentes se alimentam daquilo que apodreceu. A árvore respira o dióxido de carbono liberado pelos animais, fornecendo-lhes em troca o oxigênio para respirarem. As árvores e os animais são participantes ativos nos processos do planeta e nos processos que tem entre si.

O estilo de vida dos humanos, incluindo moradia e habitação, não está interagindo com o planeta. Nós estamos nos afastando cada vez mais dos processos do planeta. Atualmente nós estamos apenas retirando do planeta, e não devolvendo nada de útil em troca. As nossas vidas são no planeta, o que não quer dizer que elas são do planeta.

Interação: Um ponto aonde sistemas relacionados interagem.

Desintegração: 1. Destruição total. 2. Separação das partes de um todo ou de uma unidade. *Priberam

          • vale uma nota da relação do original entre interface e deface


As habitação existentes, levando-se em conta o fato de que são completamente dependentes de sistemas destruidores e fora de controle, contribuem para a desintegração do planeta. Um novo conceito de habitação precisa interagir com o planeta. Através desta interação, este novo conceito possibilita que nos sustentemos enquanto humanos, ao mesmo tempo em que possibilita que o planeta se sustente como um organismo. Este reconhece ambos planeta e os sistemas em relação. Ele exige que nós nos alinhemos com os processos do planeta e que reavaliemos nosso conceito de vivência. Habitação é como nós vivemos; nós precisamos reavaliar como nós vivemos afim de condizer com um novo conceito de habitação.

Existem vários fenômenos naturais existentes resultantes em temperatura, energia, produção de alimentos e tudo o que necessitamos para mantermos nossa vida. Nós precisamos aprender a nos alinharmos com estes fenômenos - a interagir com eles. Nós devemos criar uma /nave/ que nos auxilie a atingir este objetivo. Através da interação com os fenômenos naturais do local, esta nave precisa prover um ambiente que sustentará a vida humana. Este é um conceito visionário que não pode ser alcançado de um dia para o outro. Nós seremos capazes de criar apenas um protótipo desta nave final interacional - a Earthship. Entretanto, este é o primeiro passo rumo à visão desde veículo final interacional. O protótipo interage com o Sol e com a Terra, começando a tomar conta de nós. Entretanto, nós devemos aceitar o fato de que este protótipo não está nem perto de ser tão evoluída quando a visão: é apenas um passo na direção da visão.


'As nossas mentes têm a capacidade de se mover em direção à verdade mais rápido que nossos corpos e emoções'

Nós podemos nos alinhar com os fenômenos naturais e interagir com eles


A Earthship e sua relação com o carro

Os inventores do automóvel provavelmente tiveram visões de veículos mais rápidos, mais suaves, rodando sobre rodas, algo como os carros que temos hoje em dia. No entanto, o melhor que eles puderam construir com a tecnologia e a indústria disponível no momento foi o Ford Modelo T. Da mesma forma, nossa tecnologia atual possibilita que a Earthship seja meramente funcional, relativamente até bruta se relacionada à visão do conceito. É apenas um passo para além da casa dependente, mas é um passo significante. As Earthships futuras seguirão desenvolvendo em direção à visão, como o desenvolvimento de um Ford Modelo T a um Porsche 1990.

O automóvel foi uma invenção é uma visão. Contudo, essa visão era limitada. Os inventores não tiveram a visão de um planeta cheio com milhões de carros emitindo monóxido de carbono, ou cidades entupidas de engarrafamentos, tornando a vida tão insalubre a ponto de mal se conseguir andar pela calçada. O carro evoluiu ao ponto de ser atualmente algo ruim devido aos gases, barulho, poluição, dependência de combustíveis fósseis e o estresse que ele gera ao planeta. A concepção por trás de locomoção em uma cápsula pode ser boa, mas aí é necessário um novo tipo de /nave/. O conceito de /nave/ movida a gasolina precisa evoluir par além da dependência de gasolina, da emissão de poluentes e do barulho.

Da mesma forma, a casa precisa desenvolver para um novo tipo de /nave/. Atualmente, ela é uma mera embalagem - uma caixa vazia. Se houvesse somente algumas poucas dessas casas espalhadas pelo planeta, não haveria grandes problemas. Mas quando se pensa uma idéia ou visão e as pessoas, que seguem multiplicando, deve-se também multiplicá-la. Multiplique simplesmente cada invenção por um bilhão. Se Henry Ford tivesse pensado o Modelo T multiplicado por um bilhão, ele teria pensado nos poluentes e na dependência de gasolina como problemas. As habitações existentes têm problemas parecidos - elas demandam quantidades massivas de energia e sistemas de esgoto, o que, por sua vez, polui o ambiente. Essa habitação, multiplicada por um bilhão, vai acabar nos matando e tornando o nosso planeta inabitável.

Agora, imagine o conceito de Earthship multiplicado por um bilhão. É uma interação com o planeta, não um estresse. Compare com uma árvore sendo multiplicada por um bilhão: não há nenhum problema. Se nós queremos interagir, nós devemos observar as árvores, os animais, os rios, entre outros, para entender as regras da interação. Se quisermos projetar uma /nave/ que não venha a se voltar contra nós no futuro, é melhor que a observemos em larga escala. Nós precisamos visualizar como seria viver no meio de Earthships, que não emitem poluentes, que lidam com seus resíduos, são parcialmente cobertas de terra e que não necessitam de nenhum sistema externo. É como estar cercado por um bilhão de árvores, ao invés de um bilhão de carros. A situação em que estamos em termos de habitação e locomoção demonstra bem a "miopia" dessa nossa visão. O conceito da Earthship está preparado para desenvolver; ele tem uma visão mais ampla. A forma como uma árvore interage com a terra é o modelo pelo qual a nave independente deveria se desenvolver. Nós devemos começar a *nos inclinarmos em direção à visão (* Veja A Chegada dos Magos, capítulo 6, Michael Reynolds). Isto não pode ser feito da noite para o dia, mas se nós nos inclinarmos nesta direção, nós estamos tomando parte ativa em nossa própria evolução e nos dando uma chance de sobrevivência.


Evolução de nosso estilo de vida em relação à nave

É possível que, mesmo tendo a nave interacional final disponível, nós não venhamos a sobreviver dentro dela. Nós teríamos que desenvolver os nossos hábitos de vida para aquilo que a nave pode nos proporcionar. Por exemplo, nossa alimentação mudaria. A nave não poderia produzir comida embalada para microondas e outros alimentos processados. Dessa forma, nós teríamos que ajustar nossa dieta pra aquilo que se pode produzir - frutas, verduras e grãos. A Earthship continuará desenvolvendo afim de ser capaz de produzir mais alimentos na medida em que nós migramos para uma nova dieta. As Earthships atuais são providas de espaço para cultivo de plantas, assim como espaço para a habitação humana. Esses espaços de cultivo são de fácil cuidado porque estão "no caminho do dia-a-dia". Mas como eles não podem fornecer tudo, nós precisamos complementar o abastecimento em mercados. Futuramente, quando ambos nós e a Earthship estiverem suficientemente desenvolvidos, nós seremos capazes de cultivar todos os nossos alimentos, reduzindo e descartando, por fim, a necessidade de comidas embaladas. Na medida em que alinhamos nossos estilos de vida em direção àquilo que a Earthship pode prover, nós desenvolvemos a Earthship em direção àquilo que nós precisamos. Algum dia nós vamos nos encontrar.

Ilustração p. 24

A evolução de nossos estilos de vida afetará todos os aspectos da vida. Já está afetando a vida daquelas pessoas que vivem em Earthships. Essas pessoas descobriram que nós, de fato, usamos quantidades imensas de eletricidade. Para condizer com essa "necessidade" existente seria requerido um enorme sistema de energia solar. Ao invés de gastarem *****$300 em cada painel solar a mais, a maioria daqueles que têm Earthships buscam desenvolver seu consumo de eletricidade para aquilo que um sistema de tamanho e preço razoáveis pode gerar. Essa não é uma mudança radical; na verdade, isso significa apagar luzes desnecessariamente acesas, reduzir a quantidade de eletrodomésticos bem como o seu uso, e estar consciente de que o fornecimento de eletricidade é limitado. Nós temos uma tendência a pensar que nossa energia elétrica é ilimitada, mas na verdade nosso consumo está abusando do planeta radicalmente. Numa Earthship, nós estaremos constantemente nos desenvolvendo para diminuir o nosso consumo, enquanto que a nave será capaz de gerar mais.

O objetivo deste livro é desenvolver uma visão baseada na revisão do conceito de habitação neste planeta. A Earthship é um passo imediato nessa direção. Esta cada vez mais evidente que nós precisamos desta revisão no conceito. Nós estamos enfrentando crises de energia, água, ar e qualidade alimentar. Nós devemos responder através do design do habitat humano. Nós devemos ser uma nave que irá flutuar pelos mares do amanhã.




Earthship vol1 - tradução coletiva
Introduction Concept (Earthship: how to build your own. Vol. 1) Location


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