Criar crianças - o maior bem que a cultura machista retira dos homens

De Protopia
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Fábio Veronesi


Indo direto ao assunto: cuidar das/os filhas/os.

É lógico que existem as questões fisiológicas que justificam a plena participação da mulher no processo de cuidar dos bebês – a geração e o aleitamento materno. Também é visível que está surgindo uma nova geração de pais muito mais cuidadores que a anterior. Mas, tanto por força oficial (p ex.: a diferença do período dado pelas instituições para licença maternidade e para a paternidade) quanto por costumes ainda enraizados em nossas tradições domésticas, a maioria dos pais continua a exercer papéis secundários no cuidado das/os filhas/os.

A experiência de cuidar de bebês é tão transformadora e envolvente que existem mulheres que se viciam nela. Os homens perdem, e muito, estando fora desse universo. Cuidando de bebês entendemos melhor nossa própria criação. Ultrapassamos e estendemos os limites de nossa paciência através da transformação por amor. Seria difícil encontrar palavras suficientes para relatar.

Os homens ficam com as rebarbas desse todo. Experimentam, mas não se entregam plenamente. A maioria espera que a criança fique um pouco maior para iniciar sua relação com ela. A maioria não procura construir uma relação independente com sua/eu filha/o, quero dizer, sem a presença da mãe. Somente com alguns anos de vida é que os pais começam a estar com suas/seus filha/os sozinhos, numa relação a dois. Até então a relação dos pais acontece somente a três, sempre junto com a mãe.

O papel clássico do pai é o de dar suporte para que a dupla mãe-filha/o possa ter suas necessidades atendidas sem precisar se preocupar com outra coisa que não seja relacionarem-se um com o outro. O papel clássico do pai é cuidar do entorno da relação mãe-filha/o. Se o pai não se interessar em efetivamente criar o quanto antes sua própria relação com sua/seu filha/o ele abre mão de uma maravilhosa, única e exclusiva experiência de vida, capaz de ensinar muito sobre o ser humano e suas emoções, exatamente o tipo de conhecimento que falta aos homens, aquele que ele mais precisa.

Um outro lado dessa moeda mostra que é enorme o número de adultos que sentem ter tido um pai ausente em suas vidas, com diferentes tipo de ausência relatados. Há muitos casos de ausência total, ou seja, pais que não assumem seus filhos desde a gravidez. Há também muitos casos de ausência relativa – pais que somem durante anos e depois reaparecem, recomeçam a relação com seus filhos. Mas, há ainda muitos casos de “ausência presente”, ou seja, pais que estão presentes na vida cotidiana dos filhos, mas não assumem completamente seus papéis de cuidadores. Já ouvi muitas pessoas descreverem o próprio pai como a “caixa registradora da casa” de onde saía o dinheiro que mãe e filhas/os necessitavam. O toque pejorativo do termo, o comparar com um objeto duro e frio, se deve ao fato de que o dinheiro substituia o afeto, o toque, o carinho, a conversa que faltava, que não vinha desse pai.



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