Cultivo/Agricultura natural e permacultura
O princípio dessa proposta é o de que as atividades agrícolas devem potencializar os processos naturais, evitando perdas de energia no sistema. Suas idéias foram difundidas internacionalmente pelas pesquisas de Masanobu Fukuoka, que defendia a idéia de artificializar o menos possível a produção, mantendo o sistema agrícola o mais próximo possível dos sistemas naturais. Na Austrália, essas idéias evoluíram nas mãos do Dr. Bill Mollison e deram origem a um novo método conhecido como permacultura que significa um sistema evolutivo integrado de espécies vegetais e animais perenes (de onde vem o nome) ou autoperpetuantes úteis ao homem.
O princípio fundamental é o de que as atividades agrícolas devem respeitar as leis da natureza, reduzindo ao mínimo possível a interferência sobre o ecossistema. Por isso, na prática não é recomendado o revolvimento do solo, nem a utilização de composto orgânico com dejetos de animais. Aliás, o uso de esterco animal é rejeitado radicalmente.
De acordo com o principio da Agricultura Natural, a base é fazer o solo emanar toda sua força. Observamos a fertilidade do solo das matas e dos campos naturais. Há um acúmulo de resíduos vegetais, tal como folhas, ramos, troncos de árvores e capim seco, os quais se transformaram em morada de organismos que os decompõem. Estes organismos gostam de sombra, do calor, da umidade e da porosidade do solo enriquecido por resíduos vegetais.
Segundo as estatísticas citadas no livro “Nogyo To Dojo Seibutsu” escrito por Iwao Watanabe, estudioso de agricultura no Japão, em 1 m2 de solo de campo natural existem umas 360 (trezentas e sessenta) espécies de organismos maiores, como: anelídeos de mais de 2 cm de comprimentos e centopéias; 2.030.000 (dois milhões e trinta mil espécies de tamanho médio, como parasitas, insetos voadores e minhocas e 1.000.000.000 (um bilhão) de microorganismos, como fungos e bactérias. Se no solo fértil existe um número infinito de organismos como os mencionados, isto quer dizer que eles exercem ai um trabalho efetivo. A minhoca por exemplo, é considerada como uma excelente produtora de solo fecundos, pois alimentando-se de resíduos vegetais e de terra, excreta em composto rico em matérias orgânicas.
Os elementos não digeridos dessa excreção servem, por sua vez, de alimentos para os organismos menores. Dessa maneira as minhocas modificam o estado do solo, aumentando a sua porosidade e contribuindo assim para uma melhor aeração e umidade. Estima-se que a quantidade de terra preparada anualmente por esses anelídeos, em 100 m2, oscile entre 38 e 55 toneladas. Baseado nesses fatos vemos a necessidade de desenvolver uma técnica capaz de tornar o solo cada vez mais produtivo como um operário experiente. Se o solo for mantido puro e se ele puder manifestar toda sua energia vital, não surgindo doenças nem pragas, poderemos alcançar uma agricultura que respeite a natureza.
Algumas outra particularidades diferenciam a agricultura natural dos outros modelos. A primeira delas diz respeito ao uso de microrganismos eficientes ou effective microrganisms, conhecidos como EM. Esses microrganismos são utilizados como inoculantes para o solo, planta e composto. Outra particularidade é a não utilização de dejetos animais nos compostos. Argumenta-se que os dejetos animais aumentam o nível de nitratos na água potável, atraem insetos e proliferam parasitas.
O Método
Não arar o solo; não usar compostos, fertilizantes orgânicos ou quaisquer aditivos. Não considerar a grama nativa como erva daninha que precisa ser removida, nem considerar os insetos como predadores que precisam ser exterminados. Eles não são inimigos, são essenciais à saúde do solo.
Existem algumas variações segundo as diferenças do solo e do clima. Por exemplo, o método de plantar as sementes. Em alguns casos, elas podem ser espalhadas. Em outros, precisam ser plantadas no solo. Em outras circunstâncias, talvez precisem ser criadas como mudas e protegidas até o transplante. Às vezes, pode ser necessário cortar a grama ao redor quando ela ameaça a jovem planta.
Fukuoka recomenda a utilização de pelo menos 100 espécies diferentes de:
- sementes de arbustos e árvores florestais (normalmente obtidas em viveiros regionais ou jardins botánicos, ou então coleccionadas em lugares com uma diversidade botánica natural);
- sementes de árvores frutíferas (abrunheiro, damasqueiro, cerejeira, macieira, pereira, nespereira, citrinos etc.);
- sementes de "adubo verde" (família dos trevos, lucerna, tremocilha, ervilhas, toda a classe de feijão etc.);
- todas as espécies de legumes de folha e de raíz (alface, espinafres, nabos etc.);
- sementes de flores;
- pequenas quantidades de vários tipos de cereais.