Esperança
Você que não dança mais nas ruas
Que desistiu de vencer
Mas continua a ceder;
Você já está em paz com a guerra?
Eles lhe subornaram para trair
O seu desprezo por suborno e traição?
Você buscaria acomodação
Com quem partiu seu coração
E trocaria a amargura da luta
Pelos frutos azedos da derrota?
Não desista da esperança
A Esperança como uma Arte Marcial
A esperança é um poder mágico que concede ainda mais poderes. Não é uma conseqüência da boa sorte, mas uma pré-condição para ela: não é uma conjectura sobre o futuro, mas uma força exercitada no presente. Como qualquer um que tenha rompido as linhas da polícia sabe, quando realmente importa a moral é mais importante que organização, preparação ou até mesmo inteligência.
Isto não quer dizer que devemos aprender a nos iludir, mas simplesmente que o projeto revolucionário se dá fora dos domínios do cálculo e do senso comum. Ao decidirmos transformar o mundo, estamos tentando o impossível; fé sobrenatural pode ser mais adequada à tarefa do que o pragmatismo mundano. Um revolucionário busca segurar-se firmemente na realidade, mas não o contrário.
Aqueles que insistem que não há esperança estão pensando como cientistas: eles vêem a esperança como uma quantidade mensurável fora de sua individualidade, reduzindo-a a uma questão de se há ou não razão para acreditarmos que algo será verdade no futuro. E, por isso, eles são maus cientistas, especulando de uma posição estática ao invés de propor uma hipótese e conduzir um experimento! Nunca será possível responder tais questões precisamente; nunca teremos acesso a toda informação necessária, e a escolha de cada um influencia o resultado de maneiras imprevisíveis.
Ao reconhecermos a influência de nossas escolhas, podemos começar a formular outro conceito de esperança. Mesmo se fosse possível vermos o futuro sentados em uma poltrona, não seria tão satisfatório quanto ter conscientemente um papel na sua construção; ao lhe darmos outra definição, a esperança nos torna capazes de fazer isto, mesmo que não garanta os resultados.
Além do mais, por que medir o valor de qualquer empreitada só pelas suas conseqüências? Se um esforço revolucionário não obtém sucesso em modificar imediatamente o cosmos, isso não significa que foi uma perda de tempo. Avaliar as nossas atividades desta forma é ingenuidade, não há sentido em dar mais importância ao futuro do que ao presente e rejeitar tudo que existe em troca de coisas que não existem. O que importa é sempre o que está acontecendo: o processo, e não o produto, os meios e não o fim ― o que importa é que, por alguns minutos ou anos, algo belo está acontecendo. O paraíso que merecemos não nos espera em um futuro que pode ou não se realizar; ele é feito destes momentos, sempre que eles ocorrem. De que lado você está, do futuro ou do presente?
A utopia é famosa por ser um destino inalcançável, mas igualmente famosa por inspirar viagens incríveis. Quando atingimos nossos objetivos eles já estão irreconhecíveis, ou então nós estaremos. Uma preocupação com a vida "depois da revolução" pode nos deixar tão impotentes como as notícias constantemente transmitidas de Brasília para nos distrair do que podemos fazer aqui onde estamos. Mas ao nos desligarmos do nosso vício em certezas e da nossa expectativa de sermos pagos por tudo, e a praticarmos como uma arte de construir profecias auto-realizadoreas ― como uma arte marcial ― a esperança nos oferece um enorme poder.
Se é este o caso, então a verdadeira questão é por que as pessoas se incapacitam voluntariamente abraçando a resignação e o derrotismo. O cético não aceita os tristes fatos da vida, mas os impõe sobre si. Se ele realmente quiser descobrir se as coisas que ele deseja são impossíveis, ele tem que partir da premissa ― não, da convicção profundamente arraigada ― de que elas são possíveis e agir de acordo.