Hidroponia
Hidroponia
Hidroponia (tradução do grego para "trabalho com água") é uma técnica de cultivo de plantas não diretamente ligada ao solo, utilizando-se substrato inerte (simulador do solo, porém, sem nutrientes eu reações possíveis com a planta) e solução nutritiva (geralmente água acrescida de nutrientes que podem variar de cultura para cultura).
A criação de um cultivo hidropônico é relativamente simples: basta que tenhamos substrato inerte (como por exemplo palha de casca de arroz queimada, ou fibra de coco - facilmente encontradas em casas agrícolas ou de jardinagem) suficiente para sustentar a planta e deixar as raízes crescerem e também solução nutritiva.
O cultivo hidropônico e seus resultados tem certas características que os diferenciam da "horta de chão" e seus derivativos, como por exemplo:
- verduras mais limpas e tenras (mas também mais sensíveis a impactos mecanicos)
- adequação ergonômica do espaço de trabalho
- custo mais elevado para se iniciar uma produção que vise comercialização
- maior valor agregado (baseado principalmente em termos estéticos direta e indiretamente)
- tendência a menor uso de agrotóxicos
- necessidade de regulação constante
- uso de equipamentos elétricos e hidráulicos de maior complexidade
- utilização de composições químicas para adubação
- produção em espaço reduzido e dinamizável
É possível produzir em qualquer escala, no entanto, quanto maior o sistema da sua hidroponia, mais dependente você ficará de conhecimentos técnicos em elétrica, hidráulica, e principalmente de prática nesse tipo de cultivo - pois uma falha pode afetar todo o sistema ligado a ele. Esse artigo não visa a produção que vise o lucro pura e simplesmente, caso você esteja procurando esse tipo de informação, recomendo que procure por cursos especializados. Se você quiser montar uma pequena hidroponia, as dicas que encontrará aqui podem ser valiosas. Se vier a lucrar com elas, considere seriamente a hipótese de valorizar as iniciativas libertárias como PROTOPIA, RISEUP, coletivos, okupas [etc]! Contribuindo com parte do que lucrar - assim você estará contribuindo para que tais iniciativas libertárias cresçam e beneficiem ainda mais pessoas, como você está sendo beneficiado.
Suportes hidropônicos
Existem três modelos básicos de cultivo hidropônico: o NFT, o Floating e o gotejamento, sendo o primeiro a denominação para a plantação em canaletas furadas por onde passa a solução nutritiva; o segundo é - simplificando - fazer com que bandejas de isopor (p. ex) flutuem com as plantas por cima da solução nutritiva e o terceiro é o gotejamento de solução nutritiva por cima das plantas.
Idéia por trás do projeto
A idéia é que a planta tenha suas raízes e bases sustentadas pelo substrato inerte e seja alimentada pela solução nutritiva preparada. A solução nutritiva é o "segredo" por trás da hidroponia. A planta não se desenvolveria suficientemente bem apenas com água pura, num substrato que não lhe concede nada além de sustentação física.
O motivo do substrato dever ser inerte é que o controle dos nutrientes fica nas mãos do produtor, assim, ele pode corrigir deficiências ou excessos através da alteração da solução nutritiva. Caso o substrato não fosse inerte, seria muito difícil realizar análises químicas cotidianas para avaliar a qualidade do "solo". Graças às alterações possíveis na solução nutritiva pode-se reduzir bastante o tamanho do espaço no qual a planta fixa-se - já que as raízes não precisam crescer "em busca" de nutrientes. Essa redução racional aumenta a produtividade qualitativa e quantitativamente.
Como a planta não precisa estar diretamente no solo, é possível fazer um planejamento ergonômico das canaletas de NFT/bancada de floating, montando-as na altura da cintura até o peito.
Alguns materiais e estrutura úteis
Para uma hidrohorta pequena, de quintal urbano, não precisamos de muitos apetrechos além do que pode ser encontrado em reciclagem. Um pouco de criatividade e consegue-se montar tanto num sistema de floating simples (uma caixa d'água com solução nutritiva e bandejas de isopor com as mudas flutuando) quanto complexos sistemas NFT em zigue-zague na vertical, com bomba de máquina de lavar e cobertura climática - realmente é possível realizar projetos efetivos com criatividade e interesse. Bons exemplos podem ser encontrados mesmo no youtube. Poste o seu também e ajude a construir ainda mais conhecimento sobre o assunto! Alguns produtores interessados em produção maior podem recorrer a alguns apetrechos e técnicas que vão ajudar numa maior produtividade, com qualidade:
- Estufa: uma estrutura tipo estufa protege o sistema hidropônico de chuvas/granizo, fuligem, e dificulta a entrada de aves e insetos que podem interferir no cultivo. Ela também pode ajudar a criar um microclima e controlar a luminosidade.
- Sombrite: muitas folhosas se desenvolvem melhor na sombra. O sombrite é uma cobertura plástica que controla a luminosidade de maneira mais eficiente, permitindo ainda a aeração e a passagem de água. Com o controle da luminosidade controla-se também um pouco o clima do ambiente.
- Sprinkler: uma mangueira com sprinklers ajuda a irrigar o cultivo dentro da estufa e ajuda no controle do microclima.
- Condutivímetro: a solução nutritiva pode ser diluída aos poucos no tanque de água que abastece o sistema hidropônico. Para sabermos se ela precisa de mais solução concentrada ou menos, utilizamos um condutivímetro, um aparelho que mostra a condutividade elétrica na solução (assim é possível verificar se a solução está ou não com a quantidade certa de nutrientes).
Conhecimentos em hidráulica e elétrica são interessantes ao produtor para que possa lidar com a construção do projeto, mas principalmente com a manutenção: uma falha pode colocar a produção à perder e acarretar um grande prejuízo.
Algumas noções de cultivo
As sementes podem ser adquiras com pequenos produtores, a partir da sua própria horta, ou ainda compradas em lojas agrícolas e/ou de jardinagem. Recomendamos gravemente que não valorize sementes de grandes corporações - sempre que puder, plante e separe algumas plantas que vão ser as reprodutoras de sementes. No entanto, nem sempre é viável para o produtor aguardar sua própria produção de sementes, então faça o possível para evitar sementes que podem vir de empresas que oprimem o produtor rural com ameaças penais por reprodução/estocagem das sementes. Existem sementes nuas, que são mais perecíveis, e sementes peletizadas. Estas são sementes nuas envolvidas numa camada rígida protetora, mas de fácil degradação na umidade. Elas mantém a semente em dormência até o momento do plantio. São um pouco mais caras, mas facilitam e muito o manejo. Para agricultores de quintal não são tão necessárias, sendo preferível mesmo o cultivo com sementes próprias ou a partir de vizinhos. Para germinar as sementes, precisa-se de um aparato que seja de fácil deslocamento, como uma caixa de ovos, ou uma bandeja de isopor própria para plantio de sementes, uma semeadeira, enfim. Coloca-se substrato inerte (como vermiculita, fibra de coco, casca de arroz carbonizada, algodão, dentre outros). Individualize as sementes em covas rasíssimas, e com a distância de 2 cm uma das outras (em média) (se forem sementes pequeníssimas, como as de rúcula, convém colocar entre 10 a 15 sementes, dependendo do tamanho do maço que se desejar colher). Cubra com uma finíssima camada de substrato úmido e coloque num lugar bem sombreado e com temperatura amena. Aguarde dois a três dias, e a maior parte das sementes terão brotado. Caso você tenha optado pelo sistema NFT, voce precisará de canaletas tipo "berçario" ou de algum adaptador que impeça que, uma vez colocados os brotos nas canaletas, a força da água não as leve embora. Se você optou pelo sistema de floating, convém colocar as sementes para germinar diretamente numa bandeja de isopor que possa ser levada para flutuar por alguns dias. Se optou pelo sistema de gotejamento, esteja certo de que o suporte usado (um vasinho por exemplo) tenha um espaço razoável para o crescimento da raiz, pois a planta vai ficar no vazinho até ser colhida. Até no máximo a segunda semana depois do plantio, pode-se utilizar uma solução menos concentrada de nutrientes, já que a solução muito forte pode "queimar" a raíz e matar a planta. Após a segunda semana já é recomendada a utilização de solução na concentração indicada para a cultura escolhida (você vai ter mais informações sobre isso nessa página: solução nutritiva). As culturas de folhosas variam de 30 a 60 dias para serem colhidas, dependendo da cultura e das condições de manejo.
Insetos, doenças e plantas espontâneas
É certo que, como todo cultivo, o hidrocultor cedo ou tarde receberá a visita de doenças das plantas, insetos considerados nocivos aos cultivos e plantinhas espontâneas (que costumam chamar de praga). É válido lembrar que os insetos e microorganismos fazem parte de um ecosistema, e que as plantas que você está cultivando também fazem, logo, é de se esperar que eles se interessem por plantas nutritivas e pelo ambiente regulado que você está proporcionando. Chamar de "praga" ou "erva daninha" uma população de insetos ou algumas plantas que você não plantou é puramente arbitrário. Tomates-cereja costumam aparecer cedo ou tarde nas hortas que não se utilizam de desfoliantes - e não são chamados de praga porque respondem a um "interesse". Joaninhas devoram pulgões e apesar de aparecer aos montes em hortas, não são consideradas "pragas". Cada produtor deve ponderar sobre sua relação com o meio no qual interage e pensar qual é o papel de cada ser vivo no pequeno ecosistema que está criando. Pulgões, Cochonilhas, Moscas brancas, pequenas larvas, vírus, bactérias, plantinhas vão aparecer mas há maneiras de realizar o manejo agroecológico e evitar que eles "prejudiquem" o interesse humano. Não disponibilizaremos nessa página informações positivas sobre agrotóxicos, simplesmente porque não há nada de positivo em passar "veneno" na comida que você ou outrem pode vir a comer. Também não é positivo para a natureza, nem aos animais. A única "vantagem" que um "veneno" pode trazer para alguma plantação é de caráter econômico a curto prazo - pois gasta-se em remédios, a longo prazo! Em respeito à sua saúde, à vida, e ao planeta, considere seriamente consultar e pesquisar dados sobre manejo agroecológico de "pragas" e "ervas daninhas".
- Pulgão: é um inseto sugador de rapidíssima reprodução. Suga a seiva da planta e impede o crescimento, tornando a planta fraca, murcha e retorcida. Se propaga rapidamente e pode infestar toda a plantação. Tem como inimigo natural a Joaninha e o besouro-pirata (Orius Insidiosus). Existem muitas receitas de preparados naturais contra o pulgão, mas a grande dica está na junção deles com sabão biodegradável: o sabão rompe uma camada oleosa que serve de proteção ao corpo do pulgão, e daí então o agente do preparado toca no inseto, afetando-o.
- Vírus da cabeça-virada: é transmitido por sugadores, mas não afeta drasticamente as plantas. Não há manejo outro que se desfazer das plantas atacadas. Se caracteriza pelo entortamento das folhas, curvando-as e impedindo seu crescimento natural. A planta fica pequena e torta.
- Pássaros podem comer as sementes se forem deixadas expostas (no caso de hortas grandes, deixe sementes de tomates expostas e terás boas surpresas em alguns meses!). Deixe-as germinar em algum lugar reservado.
- Plantas espontâneas são raras em hidroponia. Seria necessário que uma semente viesse voando para as canaletas, já que não há contato com o solo. Alguns vazamentos podem irrigar a terra e criar uma zona propícia para o crescimento de plantas que podem servir de ambiente para insetos. Se você acreditar que podem estar abrigando colônias de insetos que sejam considerados nocivos, tire as plantas. Uma dica é aproveitar vazamentos recorrentes para plantar alguma variedade que você não tenha (como cenoura, por exemplo) no chão (seria uma espécie de gotejamento).
Há muitas receitas na internet para manejo orgânico das plantas.
Resíduos
Um dos grandes vilões da hidroponia é seu resíduo: uma horta pequena de quintal não produzirá muitos litros de solução nutritiva que não serve mais para o sistema, e esse resíduo pode e deve ser aproveitado em outras plantas (doe para vizinhos! despeje em jardins públicos! só não jogue pelo ralo!). A solução que ficou mais de 21 dias num sistema pequeno deve ser descartada, e se faz isso retirando a solução do sistema e colocando uma nova. A solução velha é o resíduo que pode ser aproveitado. Já hortas médias e grandes, principalmente de cunho comercial tem mais dificuldades em reaproveitar porque o deslocamento desse resíduo custa dinheiro e no sistema capitalista parece lógico que despejar milhares de litros de solução na terra por anos a fio e afetar o lençol freático - por exemplo - não seja um problema a ser considerado agora. Se você for um produtor médio/grande, por favor, procure realizar um manejo sustentável desse resíduo: favoreça horticultores locais com o transporte desse adubo, regue pomares, ou realize um projeto de horta de chão a ser beneficiado por esse resíduo.
Água
Uma das principais críticas leigas à hidroponia está num suposto desperdício de água. Esse é um dado que deve ser observado com o olhar crítico, pois o consumo de água de uma horticultura é parecido com o de uma horta de chão. Consideremos: rega-se uma horta de chão duas, três vezes ao dias, geralmente com irrigação automática (e portanto, não racional). A água toca o solo, atravessando-o e atinge o lençol freático, parte evapora e a menor parte é absorvida pelas raízes. Dessa maneira a maior parte da água não será absorvida pelas plantas simplesmente porque não poderia ser aproveitada no momento da irrigação. Na hidroponia, as maiores perdas de água estão ligadas à evaporação e à vazamentos. Com dez mil litros aduba-se com tranquilidade mais de 10.000 pés de folhosas por duas semanas ou mais. As perdas, então, são parecidas, com ligeira vantagem contra o desperdício para a hidroponia. A irrigação é considerada uma das áreas onde há maior desperdício de água no planeta, hoje.
--Tio TAZ 03h43min de 8 de outubro de 2011 (CEST)