Introdução (Bey Tomo 2)
«Na qualidade de organizadores, dedicamos este livro em memória de Jean-Charles Fortuné Henry, de Oreste Ristori e da Confraria da Costa.»
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Você tem em mãos um livro sobre uma estratégia libertária de combate: as Zonas Autônomas, escrito por Hakim Bey, um tipo curioso de escritor-teórico-poeta, comedor de haxixe, ativista libertário, historiador anarquista, crítico das vertentes ortodoxas do anarquismo.
Alguns dos textos que compõem este livro, como os reunidos sob o título de "Zona Autônoma Temporária", são bem conhecidos do movimento libertário, mas nem sempre compreendidos por seus comentadores. Outros textos que aqui estão resultam das ações de tradução e revisão levadas a diante pela Iniciativa Protopia, sendo portanto, publicados pela primeira vez na língua portuguesa.
Hakim Bey não se reconhece como um inventor da idéia de "zona autônoma", mas sim como alguém que dá nome para um fenômeno que aconteceu em diversos momentos das Histórias e continua acontecendo. Muito antes do guaraná com rolha pessoas viveram em espaços que poderíamos chamar de zonas autônomas temporárias, que diversos historiadores descreveram em outros termos.[1] Bey por sua vez é quem reconhece neste fenômeno uma possibilidade estratégica e muitas potencialidades libertárias.
Um dos equívocos mais comuns em relação às leituras de Bey - tanto por críticos como por entusiastas - consiste em tomar aquilo que é propriamente um meio, como um fim. Seu autor, no entanto, não se cansa em repetir: a zona autônoma não é um fim em si mesmo.[2]
A estratégia da Zona Autônoma confronta o Estado, mas inicialmente de forma indireta, ocultamente cria espaços nos quais o Anarquismo possa ser vivenciado por mais e mais gente, uma forma de contato com a anarquia para não-anarquistas. Enquanto espaço é temporária, enquanto prática é nômade, desaparece para não ser assimilada pelas forças de espetacularização, ou eliminada pelos aparatos de repressão, mas não sem antes servir de propaganda pela ação para quem alguma vez dela já participou.
Nós que publicamos este segundo volume da obra de Bey, esperamos que você receba-o em mãos, não como um mero produto, mas como um convite, para que possamos colocar estas idéias em prática juntos! Para talvez podermos ver raiar o dia em que os estados nacionais descobrirão que em seus quintais há muitas ervas daninhas de raízes profundas que estão por toda parte - conclaves livres e subterrâneos de comunas anarquistas diversas, todas elas articuladas, bem preparadas para o confronto direto.
Há quem diga que esta é somente outra rota para a Revolução, para aqueles que se cansaram de ficar esperando por ela!