Marchas e Paradas
Instruções
Marchas, do permitido ao não-permitido
Permissões são basicamente enganações pelas quais os poderes que sejam entregues a você para seu direito de reunião, alistando você no processo que os informa do que esperar e quando esperar – e também para monitorar o que ocorre em favor deles, já que eles agora têm você como refém. De fato, é típico que o organizador de uma marcha permitida desenvolva uma obsessão autoritária em regular o comportamento de todo mundo na marcha "dele", já que ele pode ser pego como o responsável por tudo o que ocorrer pelas pessoas superiores na cadeia do comando. O sistema de permissão também ajuda os poderes a limitar a opção de se comprometer em atividade pública àqueles privilegiados o suficiente para falar a linguagem da burocracia. Tanto mais razões para nós construirmos poder social suficiente para marchar quando quisermos, permissões são rejeitadas.
Contudo, vale a pena fazer coisas para apimentar marchas permitidas, já que os pobres organizadores têm suas mãos atadas. No mínimo, você pode entregar folhetos informando os demais participantes de alternativas mais radicais. Melhor, vista-se com uma fantasia, e faça sua declaração com humor ou teatro; isso pode também ser um modo não ameaçador de você se disfarçar, o que você pode querer fazer por várias razões – apenas certifique-se de que sua fantasia não impede muito sua visão ou mobilidade, se qualquer uma de suas "razões" as requerem. Marionetes também podem ser festivas e expressivas, e podem funcionar como escudos, diminuindo a visão da polícia, ou passando clandestinamente recursos úteis, de acordo com suas necessidades e ingenuidade.
Um bloco de percussão equipado com baterias pode realmente adicionar agitação a qualquer marcha. Baterias podem ser feitas fixando cordas de alcinhas em baldes vazios ou naqueles baldes de cinco galões que você encontra atrás de empresas. Grandes cones também podem ser pedidos, equipados com rodas, e usados como bumbos. Um pouco de treino pode produzir uma banda interessante. Você pode não precisar trazer baterias – placas de rua, contêineres de lixo, carros de polícia, tudo isso faz ótimos instrumentos de percussão, e isso pode ser inspirador para outros descobrirem que o ambiente da cidade opressiva é um verdadeiro mar de instrumentos musicais apenas esperando para serem utilizados. Não esqueça também, a variedade de outros instrumentos que podem ser integrados à música das marchas, incluindo saxofones, sirenes de megafone, e apitos – os últimos podem ser presos nos dentes das pessoas que têm suas mãos ocupadas em batucar. Cantar, topicamente ou sem palavras, e a improvisação, também podem levantar os espíritos.
Falando em cantar – cantos quase sempre irrompem em marchas permitidas. Você pode ser uma daquelas almas do tipo ovelha cujo coração palpita ao som de uma massa de gente repetindo as mesmas poucas inócuas sílabas em uníssono acéfalo; mas se você não é, considere como você vai lidar com a situação se ela aparecer. No mínimo, você sempre pode fazer seu próprio: "Olê, olá, os megafones tem que bailar", "Roube os ricos, arme os pobres, justiça social é guerra civil!", "Eu digo, você diz algo: Algo! (‘Algo!’) Algo! (‘Algo!’) Você não diz nada, eu não digo nada! (‘Nada!’) Não, seus idiotas!". Tudo isso não quer dizer que nunca há lugar para cantos – algumas vezes eles podem ser uma afirmação importante, ou uma exortação – mas há uma grande diferença entre gritar "De quem são as ruas? São nossas as ruas!", enquanto você tira a polícia da rua, e gritar aquelas mesmas palavras da calçada.
Faixas, por outro lado, servem uma variedade de importantes propósitos em quase toda conjuntura de marcha. Elas podem ser feitas de panos cobertos com tinta branca primer e decoradas com tinta caseira misturada, que você pode encontrar barata ou de graça em quase todas as ferragens. Elas podem ser reforçadas com bambu ou outros materiais firmes (mas leves!). Além de fazer suas visões mais explícitas para os outros, faixas erguidas firmemente ao longo da frente e dos lados de marchas manterão fora a polícia e obscurecerão a linha de visão deles sobre suas fileiras. Lembre, mostre a faixa longe de seus companheiros ativistas, na direção da qual a marcha é mais visível para todos os outros; é incrível o quão descuidadas as pessoas podem ser sobre manter um cartaz legível aos espectadores.
Faixas de pano têm o benefício de serem enroladas facilmente, mas se você pode transportá-las e pensa que pode mantê-las em seu lugar sem chamar muita atenção da polícia prematuramente, você sempre pode fazer faixas de outros materiais. Um grupo pegou seis tábuas de material de isolamento de papelão, cada uma com quatro pés[1] de altura e dez pés[2] de comprimento, pintou mensagens na parte da frente, e fez suportes para pegar dos lados. Com correntes ou cordas, essas tábuas podem ser amarradas, formando uma barreira móvel virtualmente inexpugnável de sessenta pés[3] de comprimento. Essa barricada poderia ter sua posição mudada em qualquer uma das cinco articulações para adquirir qualquer forma, e ainda seria leve o suficiente para ser carregada por longos períodos. O material mostrou que pode sofrer alguns golpes sem quebrar, e, carregado por um mínimo de sete corajosas pessoas (uma em cada articulação), poderia proteger uma ampla área de incursão policial. Quando foram feitos em uma cidade liberal sem muita história de confrontos políticos nas ruas, a polícia não sabia o suficiente para prendê-los quando chegaram ao protesto, antes que estivessem seguros nas mãos da multidão.
Por outro lado, se o objetivo primário é manter visibilidade e moral mais do que assegurar e defender seu espaço, considere um formato menos usual. Em uma outra situação, nosso grupo pintou um círculo com um "A" no meio em uma peça redonda de madeira leve de três pés e meio[4] de diâmetro e fez um par de sustentadores de toalhas de mesa roubadas, usando cola de tecido para cobri-los nas "penas" de tecido retalhado, pintado com spray em branco e azul. Colocamos toda a coisa no alto de varas feitas de canos de PVC, duas para o "A" grande e uma no final de cada asa para segurá-la estendida por vinte e três pés[5] de envergadura, assim ele pôde ser carregado a vinte pés[6] de altura, sobre todos as outras faixas e cartazes. Depois, substituímos o cano de PVC por bambu, que provou ser mais leve e tão durável quanto o primeiro.
Tem mais! Você pode decorar antes o ponto de convergência ou a rota da marcha com grafite, cartazes colados ou janelas quebradas. Isso pode aumentar a moral, e ajudar manifestantes menos radicais a se familiarizarem com a ideia de que auto-expressão ilegal também tem um lugar legítimo na caixa de ferramentas tática. Isso está começando pequeno – se você sentir que seus companheiros manifestantes estão prontos para mais, e você confiar que eles não o trairão ou tem grande fé em seus próprios poderes de mistura e evasão, você pode usar a cobertura da multidão para fazer estêncis na rua, deixando mensagens radicais para trás à medida que a massa avança. Se os lados de sua marcha não estão inteiramente alinhados com a polícia, você também pode deixar barricadas no meio da multidão, o que pode interferir nos carros de polícia que os seguem.
Levantar barricadas pode ser especialmente útil se você está interessado em passar sua marcha de permitida a proibida. Exceto em condições de extrema vigilância e repressão policial, tal redirecionamento não é particularmente difícil de se alcançar, desde que você tenha um grupo pequeno pronto para assumir os primeiros riscos. A polícia estará pastoreando vocês ao longo da rota prescrita; em algum ponto, eles deixarão um lado da rua virtualmente desguardado, ou tentarão conduzir todo mundo para um caminho, deixando uma linha estreita de policiais gesticulando simbolicamente bloqueando o caminho adiante. Neste ponto, se um grupo determinado e bem unido surge à frente, junto e próximo bastante e suficientemente sem medo, do qual a polícia não possa prender alguns e assim intimidar os outros, ele pode abrir um espaço para o resto dos manifestantes seguirem. Se você estiver tentando redirecionar a marcha inteira, esperando que todos atrás de você o sigam, você deve posicionar seu grupo logo na frente; se você estiver saindo do corpo principal da marcha com apenas aqueles que estão prontos para demandar o espaço público ativamente, você pode querer fazer isso começando no meio da marcha, ou até mesmo em direção à parte de trás. Nesse último caso, vocês podem contar com a confusão entre a surpresa e agora dividida polícia para dar a vocês alguma vantagem, mas vocês também devem estar preparados para medidas repressivas muito mais severas, já que vocês agora estão isolados de seus companheiros tolerados pela lei. Certifique-se de que você tem alguns rumos possíveis planejados, incluindo rotas de fuga, se sua dispersão da marcha for dissolvida; observadores e meios de comunicação são importantes para se ficar informado dos movimentos da polícia nas ruas próximas. Ver Blocos, Negros e de outras cores para mais discussão de atividades proibidas em grupo. Essa, como qualquer tática, deve somente ser aplicada em um contexto no qual faça sentido, claro. Seu objetivo, presumivelmente, é dar poder e inspirar seus companheiros manifestantes, mesmo os mais tímidos – não colocá-los contra você colocando-os em perigo ou fazendo-os sentirem-se desrespeitados.
Tudo isso assume que sua marcha permitida já está nas ruas, o que pode não ser o caso. Se uma linha da polícia estiver confinando vocês na calçada, e seu objetivo é tomar a rua, esperem por uma dobra e de repente encham a rua, como se vocês fariam se estivessem tentando redirecionar uma marcha de rua.
Faixas, especialmente as reforçadas ou sólidas, serão especialmente úteis em tal situação. Se os sustentadores das faixas puderem usá-las para bloquear a rua por alguns segundos, e a multidão for rápida e decisiva o suficiente para preencher o espaço que se abriu, isso pode arranjar a oportunidade necessária. Faixas podem até mesmo segurar policiais em motocicletas, se sacudidas bravamente o suficiente. Uma vez que você cruzou a linha do proibido, da atividade fora da lei, sua coragem e espírito de comunidade abrangem sua nova permissão, e você deve estar preparado para ficar junto com eles.
Você pode carregar apitos esportivos ou de emergência para usar em uma banda em marchas ou outra atividade para fazer barulho; ao contrário de uma bateria de balde, apitos são praticamente sem peso, deixam as mãos livres, e pode ser facilmente escondidos, enquanto ainda fazem uma algazarra.
Você pode começar uma banda para marchas; em dias livres, treine circulando por vizinhanças, mantendo a vida divertida e imprevisível e talvez distribuindo anúncios de eventos futuros.
Quando duas coisas têm de ser unidas rapidamente e com durabilidade, tal como os segmentos de uma barricada de faixas, você pode usar zip ties em lugar de corda ou corrente.
Em um grande dia de ação policial, você pode afastar a polícia de outros eventos pedindo uma permissão para uma manifestação descrita em termos que atraiam a atenção deles, e promovida por um sítio virtual feito para deixar a Unidade de Avaliação de Ameaças histérica. O evento, claro, é em um distrito longe da ação real, e se mostra ser frequentado por um punhado de cidadãos bem comportados.
Paradas sancionadas pela cidade
Não é difícil reservar uma seção na maior parte das paradas de cidades, e a participação geralmente é gratuita. Geralmente você precisa somente obter um formulário da cidade e preenchê-lo com um nome (inventado?) e um contato para sua organização – todos vocês, os Bucaneiros de [nome da sua cidade], se você não consegue pensar em nada mais. Tais eventos, assim como feiras de rua, são excelentes oportunidades para fazer a presença anarquista visível e bem vinda em comunidades. Se as pessoas têm visto você acenando e dando comida gratuitamente em todo evento público por alguns anos, eles menos provavelmente se sentirão intimidados quando virem você mascarado em uma marcha proibida – ou pensarão que você merece quando a polícia bater em você por se manifestar e então prendê-lo com agressões.
Se você já tem faixas de outras marchas, você pode trazê-las nessas ocasiões (não esqueça também que essas faixas podem ser penduradas nas paredes de todo show punk e noites de vídeos independentes) – mas esteja certo de que você não está alienando desnecessariamente sua audiência. Melhor ainda, junte alguma diversão e costuras para o evento específico – faça um navio pirata flutuar completamente com piratas de tapa-olho hasteando a bandeira negra, ou, para a parada de Natal, junte um bloco de Papais Noel de anarcocomunistas de barba branca e roupa vermelha distribuindo presentes e defendendo a redistribuição da riqueza. Considere o que você pode dar para o pessoal que assiste à parada – é difícil de bater o modelo do biscoito da sorte por combinar um doce com informação – e que tipo de espetáculo você pode colocar para o entretenimento deles.
Relato
Para a parada de 4 de julho[7] mencionada no conto Faixas penduradas, reservamos espaço para dois grupos: uma marcha de paz com os cartazes e cantos usuais, e um contingente anarquista apresentando uma banda, bicicletas de circo loucas feitas em casa, dois cuspidores de fogo, nosso "A" dentro de um círculo voador com dois a três pés[8] de envergadura, e pessoas dando biscoitos da sorte (neste caso, pedaços de chocolate vegano em saquinhos de plástico, cada um com uma frase de implicações subversivas de alguns "pais fundadores" da revolução americana) e pequenos panfletos explicando o anarquismo. A marcha da paz, sendo o único contingente em toda a parada a levar a sério o tema daquele ano, "celebrando nossos heróis", ganhou um prêmio ("Melhor Uso do Tema") por seus cartazes de Gandhi, Martin Luther King e Emma Goldman. Por outro lado, nós anarquistas inesperadamente tornamo-nos uma das seções mais populares da marcha, graças ao ânimo de nossa abordagem. Em certo momento, quando eu estava carregando o cano que segurava no alto uma de suas asas, um homem vestido de maneira conservadora com sua esposa e filho perguntou o que era aquele grande "A". "Anarquia", respondi, e ele aquiesceu aprovadamente. Depois da parada, começou um festival de rua no qual montamos uma mesa, distribuindo literatura e recrutando para o Comida Não Bombas pelo resto do dia.
No ano seguinte, participamos novamente – e desta vez ganhamos como os "Melhores da Parada", claro.
Apêndice
Paradas barulhentas
Instruções
Quando você não estiver interagindo com uma parada oficial da cidade ou uma marcha chamada por outros ativistas, mas você também não quiser provocar um confronto com os poderes quaisquer que sejam, você pode organizar um evento que não seja ilegal, estritamente falando, mas que ainda fica fora dos limites do permitido e previsível. Um dos modelos para tal evento é a "parada barulhenta": mais do que lutar pela rua, um grupo aceita o parco espaço definido à parte para ele, mas transforma esse espaço por meio de sons, recursos visuais, teatro ou outro modo de entreter ou desafiar. Tal ação com certeza será divertida no mínimo, e pode ser boa para começar conversas, atingir visibilidade, e acordar as pessoas de seu sono induzido.
Se tal evento não for fechado para participação de fora, ele pode chamar transeuntes para transfigurar seus próprios ambientes opressivos – p. ex. uma parada que vai por uma rua chata de encontros de adolescentes até todos terem aderido a ela. A ausência de uma mensagem política explícita pode muitas vezes ser uma coisa boa – nem tudo que fazemos tem de ser tópico ou reativo: também é importante ser consistentemente presente como uma fonte bem vinda de entretenimento e bom ânimo.
Relato
Foi em um carro em nosso caminho de volta de um Retome as Ruas que uma parada barulhenta foi sugerida pela primeira vez. "O que podemos fazer para sacudir as coisas?". O centro de Greensboro pareceu o lugar ideal – um local projetado para a rotina, para a troca sem alma e sem vida de capital, habitado por robôs, os homens e mulheres de negócios que tiveram toda sua criatividade suprimida por uma vida de conforto e controle burgueses.
Assim a ideia era criar uma abertura, uma interrupção, por meio de barulho e fantasias. Para esse fim, fizemos elaborados aparatos de barulho; alguns foram projetados para serem percussivos, outros para criar sons monótonos e constantes. Fizemos fantasias enormes e absurdas com máscaras gigantes e estruturas de metal; nós inventamos uniformes bizarros e faixas de protesto coloridas com frases sem sentido. Mas nossas invenções e frases eram apenas instrumentos; o meio criativo que realmente nos interessava estava dentro dos espectadores. Quando caminhássemos por lá e eles dissessem "que diabos é isso!?", essa confusão seria nossa poesia, aquela curiosidade, aquela descrença, nossa escultura.
E não poderíamos resistir à oportunidade de fazer reivindicações. Assim, miramos nos donos de nossa cidade – a Jefferson Pilot Corporation, os únicos com recursos suficientes para fazer as mudanças necessárias.
Desde o início da organização, percebemos que precisávamos de um equilíbrio delicado entre espontaneidade e planejamento preciso. Estabelecemos corpos de elite responsáveis pelo planejamento, assim o projeto seria focado e coordenado, e convidamos muitos outros – a "periferia" – para se juntar a nós de último momento, trazendo com eles o entusiasmo fresco que pode, de outra forma, ser destruído por um mês de encontros semanais.
O grupo central começou a se encontrar cerca de um mês e meio antes da parada. Em nosso primeiro encontro, estabelecemos nossas responsabilidades: quem faria as faixas, quem estava encarregado das fantasias, e assim por diante. Escolhemos uma data para a parada, estabelecemos um cronograma dos encontros seguintes, e definimos prazos. Todos nossos encontros e prazos foram adiados e antecipados, claro, mas continuamos a nos encontrar semanalmente. No domingo antes da quinta-feira de nossa parada, tivemos um "encontro de materiais", e então uma "orientação final" na noite anterior. Esses dois últimos encontros foram mais exibições de arte do que qualquer outra coisa, já que nossos artistas trouxeram seus desenhos de fantasias bizarros e instrumentos barulhentos. Começamos a nos entusiasmar, a sentir como se o evento realmente fosse acontecer.
A periferia começou a tomar forma menos de uma semana antes da parada. A maioria das pessoas envolvidas não veio a nem um único encontro, elas apenas apareceram na quinta-feira de manhã, prontas para fazer barulho e enlouquecer. Pela tarde, a preparação estava pronta e o caos começou. Jogamos tudo na van e nos dirigimos para o ponto de partida no centro da cidade. Vestimo-nos e nos preparamos no parque Comida Não Bombas, e chegamos à Rua Elm perto das 12h20.
Todos nós estávamos vestidos com togas de coro pretos que chegavam até o chão. A... vestiu uma mochila de aparatos de percussão que retinia e ribombava à medida que ela andava; um deles podia ser operado por um fecho atrás dela. Montado nos ombros de J... estava um domo geodésico que o envolvia por um raio de alguns pés; um teclado foi construído dentro disso para ele tocá-lo. Eu estava com os olhos vendados, tocando um canhão de ohm bovifônico (ver Instrumentos musicais) com uma câmera na minha cabeça gravando tudo que eu não via, enquanto um homem com uma máscara de gorila me levava pelas ruas. Mais três de nós carregavam uma bateria enorme em uma padiola. Outros batucavam ou erguiam cartazes: "Recém casados", "Você não pode empurrar uma corda, não", "Eu também posso voar". Tivemos agentes secretos colocados no meio da multidão, também: em um momento, um homem em trajes convencionais do distrito de negócios pulou fora da multidão, gritando "Oh meus deus, o que vocês estão fazendo? O que é isso?". Como a maior parte da parada não sabia que isso era planejado, isso tornou tudo muito mais intenso para nós, assim como para os espectadores. Mantivemos nosso silêncio monástico, claro, marchando adiante apenas com a cacofonia de nossos instrumentos como resposta.
Percorremos o norte em direção ao centro da cidade, entramos à esquerda na Avenida Friendly e demos a volta na quadra, chegando à entrada do prédio da J.P. na Rua Market. Apresentamos nossas noventa e cinco demandas, que foram impressas em um violino Suzuki, e voltamos ao parque. Foi uma rápida operação entra-e-sai, durando aproximadamente quarenta minutos, do começo ao fim.
No geral, a parada foi um grande sucesso. Tivemos as reações que queríamos dos chocados frequentadores do distrito de negócios, e na maior parte de nós mesmos – palmas das mãos suadas, pulso acelerado, terror e alegria, tumulto e exultação. Há coisas que podíamos ter melhorado – melhor preparação, formação mais próxima na marcha, não esquecer as reivindicações na van e ter que correr para pegá-las, e especialmente integrar mais a periferia (trazendo-os mais cedo?) assim não haveria risco de alguém se sentir com um mero corpo quente no projeto dos outros – mas, acima de tudo, foi um bom modo de nos desafiarmos e aumentar as tensões em Greensboro, mantendo a sensação de que algo está acontecendo.
Para fazer baterias livres para marchas, você pode conseguir baldes de cinco galões, e fazer buracos nos lados, através dos quais você estende tiras que ficarão em volta da cintura ou acima dos ombros.
Notas
Traduzido pelo Abominável Homem das Neves