Não vos Caseis

De Protopia
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Amor Livre, Eros e Anarquia
Pepita Guerra


Jovens, meninas, mulheres em geral, da presente sociedade!

Se não querem ser convertidas em prostitutas, em escravas sem liberdade de pensar nem sentir, não vos caseis! Vocês, as mulheres, o que somos? (sic) Algo! O que nos considera? Nada!

Vocês, as que pensam encontrar amor e ternura no lar, saibam que não encontraram outra coisa que um dono, um senhor, um rei, um tirano.

O amor não pode ser eterno nem imutável e fixo; logo se este tem um término, que será dessa ímpia instituição que dura a vida? O que será, quando o amor terminar, do vosso matrimônio? Irritação, tédio, ir como é natural em direção à prostituição.

Sim, a lei natural nos impele a amar continuamente; não nos impele igualmente a amar o mesmo objeto, não. E então, porque permanecer sujeitas a tal ou qual homem para toda a nossa vida?

Milhares de casos se vêem em que uma infeliz mulher foge do lar conjugal, não quero saber porque causa, seja ela qual for; o caso é que o marido apela à autoridade e esta obriga a esposa a voltar ao lado do homem a quem detesta e odeia. Mas não se faz um pastor com uma ovelha ou uma cabra!

E não digo que na presente sociedade possa uma mulher ter o grau de liberdade que almejamos, mas sim que na nossa futura e próxima sociedade, onde nada faltará a ninguém, onde nada perecerá por fome ou miséria, ali sim queremos o amor livre completamente.

É dizer que a união termina quando termina o amor, e que se eu, porque vontade me dá, não quero estar sujeita a nenhum homem, não me deprecie, porque cumprindo e satisfazendo a lei natural e o desejo próprio tendo um amante e criado dois, quatros ou quantos filhos queira.

Na presente sociedade não o faço, porque como eu não quero ser a empregada de nenhum homem e não sendo meu salário suficiente para manter a mim, menos ainda filhos mesmo, pois eu creio que se os tivesse, me veria obrigada a fugir de ser a fêmea de um ou ser a de dez mais.

Por outro lado, não creio que a crítica me importe; eu não sou daquelas que tem a sem-vergonhice de querer ter vergonha.

É por isso que eu não penso jamais ligar-me a nada, nem tão pouco (se vem ao caso), sufucar minhas entranhas para conservar o negro orgulho ao fruto de meu amor ou monetânea união; é que para "a distinguida" menina fulana que vai (em tempo de inverno) substituir sua apreciável saúde à estância de tal ou qual, e que em poucos meses, ó prodígio! volta sã e libertada da picada de enfermidade que a afligia.

É por isso, queridas companheiras, que digo e penso aos falsos anarquistas que criticam a vossa iniciativa de proclamar o amor livre, gostaria de tê-los ao meu lado quando, rasgado as entranhas, estivera próximo a meu último suspiro, para cuspir no rosto deles, envolta de um lodo sangrento, esta frase: bichas! Seja o que quiser.

Adiante com A Voz da Mulher e com o amor livre. Viva a Anarquia!


Extraído do artigo "¿Amemos? no. ¡Luchemos!" de La Voz de la Mujer nº 2, 31 de Janeiro de 1896, Buenos Aires, reproduzido pela Universidade Nacional de Quilmes, 1997. Este periódico, cuja publicação se entendeu por nove números entre 1896/97, foi porta-voz do feminismo anarquista.



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