Nossos sonhos não cabem em suas Urbes

De Protopia
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«A cidade se apresenta
centro das ambições
para mendigos ou ricos
e outras armações.
Coletivos, automóveis,
motos e metrôs,
trabalhadores, patrões,
policiais, camelôs.»
(Chico Science & Nação Zumbi, A Cidade.)


Nos dias de hoje, a maior parte da humanidade faz das cidades, especialmente as grandes metrópoles, o centro “natural” de suas vidas,[1] da mesma forma que considera “naturais” as sociedades divididas em classes e toma por “natural” a divisão do mundo entre espaços urbanos e rurais. Muitas pessoas acreditam que as urbes são por excelência espaços da cultura, da técnica e da política, enquanto o meio rural representa atraso, a ausência de civilidade; como um celeiro, um lugar pleno de recursos e minimamente povoado. Nessa lógica, viver em áreas ruais é considerado falta de oportunidades de vida e, portanto, alcançar uma vida melhor passa necessariamente por ir para a cidade.

Hegemônico, tal entendimento não se dá apenas entre os habitantes das cidades, mas também entre as populações dos próprios espaços rurais. Não é raro que estes últimos assumam para si a posição de inferioridade em relação àqueles que vivem nos meios urbanos, menosprezando a sabedoria ligada a conhecimentos tradicionais. Fundamental ao modo de ser das atuais sociedades de classe, esta visão de mundo pode ser chamada “urbanocentrismo”.


Origens

Ainda que a vida nas cidades se mostre tão antiga quanto as primeiras “civilizações”, a divisão dos espaços entre áreas urbanas e rurais não fez parte do entendimento dos povos por incontáveis gerações. Profundamente relacionados com as mais diversas paisagens e territórios, possuindo amplo conhecimento em relação a eles, muitos povos surgiram e desapareceram alheios a esta classificação e ordenamento do espaço que para todos efeitos é recente, datado da era moderna, de origem européia.

Mesmo o significado do termo “cidade” vem sendo tomado enquanto generalização para todos os tipos de aglomerados humanos mais ou menos permanentes, de extensão ampla e densamente povoado, se comparados com o contexto em que se encontram. As mais antigas cidades conhecidas foram fundadas na chamada “idade do ferro pré-histórica”. Grandes ruínas e resquícios em pedra e argila, assim como textos da antiguidade, comprovam a existência destas sociedades citadinas em locais hojes cobertos por desertos e selvas.[2]

As cidades surgiram em muitos contextos históricos, apoiadas em duas formas de opressão correlacionadas: a escravidão pela guerra e a posse exclusiva e permanente da terra. Os primeiros povoados sedentários, muito anteriores às cidades, surgiram como uma provável vantagem estratégica, uma inovação que uns poucos povos recorreram com a meta de garantir o monopólio sobre locais. Surgiram em locais onde potencialmente existiam recursos alimentícios e matérias primas para ferramentas, ou ainda vias importantes entre pontos de estadia e espaços considerados sagrados.[3]

Como consequência lógica destes pequenos monopólios, outros grupos, geralmente não-sedentários, que antes partilhavam do mesmo território e se utilizavam dos mesmos recursos, foram permanentemente privados destes recursos. Esta privação provavelmente intensificou a ocorrência de guerras por territórios, com fortificações sendo construídas e aperfeiçoadas para os povos em guerra e seus povoados permanentes pudessem existir e prevalecer.

Via de regra, escravos de guerra tornaram-se a mão de obra explorada na construção das antigas civilizações, e em menor medida somaram-se a eles os escravos por dívida.[4] Esta correlação de sujeição entre povos diferentes é uma das mais prováveis origens da desigualdade entre castas e estamentos, e um importante precedente deste processo que nos últimos séculos deu forma às sociedades divididas em classes. E esta divisão é inerente ao processo de construção da vida em cidades.

O que genericamente denominamos “cidade” na antiguidade e entre sociedades não-ocidentais foi chamado de formas distintas, conforme sua organização sociopolítica. Na contemporaneidade, o termo “cidade” abrange tanto o que os gregos antigos chamavam de “pólis”, quanto o que etruscos e romanos denominavam “urbe” e “civitas”. No entanto, estes termos se referem a contruções distintas, o que evidencia a transformação e a manipulação dos termos de acordo a certos interesses históricos. Enquanto a “pólis” grega, ainda que baseada na premissa do trabalho escravo, era o espaço de existência e exercício de autonomia de uma coletividade, a “civitas” etrusca fazia menção à liga de fratrias e estruturas familiares que possuíam em comum o culto a antepassados e ao lar. Para os etruscos “urbe” era o nome dado aos espaços físicos rituais em que se realizavam conciliábulos e importantes reuniões, e onde se mantinha o fogo sagrado de um “civitas”.

Os romanos não apenas herdaram esta terminologia etrusca, como também lhe conferiram novos significados. No entendimento romano “urbe” inicialmente foi o nome dado ao espaço intermuros da cidade de Roma. Posteriormente “urbe” passou a designar todo aglomerado humano e seu suporte material, construído ou dominado pelos romanos. “Civitas” entre os romanos era um conjunto heterogêneo de civis (romanos e romanizados) com posses e escravos reunidos e estabelecidos em determinado espaço. As palavras “civilização”, “civil”, “cidade”, “cidadão”, “urbe” e “urbano” são evidências linguísticas da amplitude do legado romano nas atuais sociedades européias e ocidentais.

Os romanos possuíam ainda um outro termo em sua classificação socioespacial: “Ager” é geralmente traduzido como “terra” ou “rural”. Mas diferente do termo “rural” da atualidade, ao “ager” não se contrapõe a “urbes” e “civitas”, mas as contém. “Ager públicus” era o nome dado à totalidade das terras tomadas das populações dominadas por Roma e possuída pelos patrícios, e muitas vezes se confundia com os próprios domínios imperiais. Era familiar aos romanos, não só a noção de posse e utilitarismo em relação à terra, como também a supremacia da “urbe” em relação à “ager” na qual estava contida. Estes são importantes precedentes da dicotomia entre urbano e rural que na atualidade encontra-se consolidada e naturalizada.

Inicialmente baseado no sentimento de superioridade que as sociedades industriais têm de si próprias em comparação com outras sociedades, o conceito de “civilização” foi extendido para toda sociedade que tenha seu modo de vida baseado em hierarquizações - social, técnica, religiosa e científica -, e cujas instituições se concentrem majoritariamente em cidades. A ideia de superioridade entre os civilizados tem origem no sentimento de superioridade das elites européias em relação as populações das classes baixas. Generalizado através de propaganda patriota no âmbito de uma região, servindo para o surgimento dos estados nacionais modernos. Desde então, este mesmo sentimento de superioridade tem sido a base ideária para dominação de povos geografica e culturalmente distantes dos europeus modernos, legitimando desta forma seus ímpetos de colonização.[5]

“Bárbaros” foi a expressão pejorativa que os “civilizados” impuseram a diferentes povos que se contraporam violentamente à intenção de submissão característica das civilizações, conseguindo mesmo em alguns casos, derrubá-las. No que tange a violência, a principal diferença entre barbárie e civilização está na capacidade dos civilizados em organizar o exercício da violência de forma calculada, torná-lo mais cirúrgico e estratégico.

Via de regra as civilizações são muito mais violentas que os povos que as cercam, uma vez que se preocupam constantemente em encontrar e manter em seu poder os meios para dominar povos que lhes são vizinhos.[6] E não seria a barbárie, para além da diferença de costumes, uma reação característica dos povos à violência das civilizações que sobre eles desejam se sobrepor para enfim dominá-los? Não seria a barbárie também um esforço incondicional de libertação e contraposição a esta opressão?

«Anarquismo não é uma fábula romântica mas a realização consciente, baseada em cinco mil anos de experiência, de que não podemos confiar o gerenciamento de nossas vidas a reis, padres, políticos, generais e executivos”»
(Edward Abbey, A Voice Crying in the Wilderness, 1989)


Di-visões


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O urbanocentrismo se dá em certa compreensão de mundo na qual a dimensão do “humano” (chamada de “sociedade” ou “cultura”) encontra-se apartada de tudo mais que existe independente das ações e vontades humanas (a este “tudo mais” chamou-se “natureza”). Esta visão de mundo fundada na separação foi fundamental para que uns poucos grupos humanos, que por muitas eras foram uma parte insignificante da humanidade, pudessem expandir o domínio de sua perspectiva, se apropriar e modificar os elementos das paisagens, para sua própria comodidade e conveniência.

Cada vez mais indiferentes aos processos e ciclos “naturais”, as únicas restrições para a propagação desta perspectiva exploratória residiam nos limites impostos pelas limitações da técnica. No entanto, após a ascensão da burguesia no ocidente que através de sua revolução industrial - que colocou a serviço do capital não só as ciências modernas, mas os saberes acumulados por milhares de anos - estas restrições foram gradativamente diminuindo. O avanço das técnicas permitiu a estes "humanos" colocarem suas vontades e ambições sobre o "natural", impondo também esta perspectiva a tantas outras formas de ser "humanos". Desta forma o urbanismo e a dicotomia urbano/rural consolidaram-se enquanto projeto político de formatação espacial dos poderes da contemporaneidade.

«As metrópoles contemporâneas formam os pontos de concentração máximos das técnicas políticas do capitalismo (…) Um meio no qual tudo é feito para que o humano apenas interaja consigo próprio, cresça separadamente das outras formas de existência, que as frequente e as utilize sem nunca as encontrar.»
(A Chamada)


Defender que nossos sonhos não cabem em suas urbes não implica numa apologia à vida no meio rural, seja em sua forma positivada – idílica e romantizada – ou na forma “realista” – por efeito das forças políticas dominantes que definem o que é o “real”. O que chamamos de “rural” é apenas o resultado da formatação, da redução das paisagens, relevos e biomas pela política espacial urbanocentrica capitalista, em áreas de extração de recursos e alimentos. O ruralismo é uma política que serve à urbanicidade. Esta política se coloca de forma que tudo (e todos) que não é urbano seja reduzido a simples reserva de matéria prima (e mão de obra) a ser (constante e eternamente) explorada em favor da vida nas cidades.

Se posicionar contra o urbanocentrismo não implica também em uma refutação a tudo quanto exista no meio urbano. Mas passa por entender que as cidades se tornaram invólucros luminosos para relações e práticas, que apenas pela arbitrariedade da tradição se definem sumamente “urbanas”. Este entendimento implica em reconhecer o caráter de aprisionamento destas mesmas práticas e relações consideradas dependentes dos espaços urbanos.

Com a divisão urbano/rural sendo incontestável, a ideologia da cidade alcançou a pretensão de englobar (e se sobrepor a) todas as diferenças. É justamente no meio urbano guiado pelo princípio dogmático do crescimento econômico infinito, o contexto em que o capitalismo se mostra mais “desenvolvido”.

A naturalização da urbe é constantemente produzida e reforçada pela máquina capitalista de administração de desejos. Seu poder é tão grande que, atualmente, poucos homens e mulheres conseguem perceber as formas mais ostensivas de controle e dependência a que estão submetidos nas grandes cidades. Obrigados a consumir bens, serviços e comodidades produzidas por corporações, submetidos a instituições estatais que sobretaxam cada aspecto de suas vidas, muitos estão condenados a uma vida de dependência do trabalho assalariado. Positivado e cultuado (e não apenas entre os “burgueses”) o trabalho assalariado nada mais é do que uma forma sofisticada de escravidão por dívida. A maior parte das funções assalariadas são tediosas e desgastantes. Boa parte se dá em ambientes quase totalitários, uma vez que no capitalismo a ilusão democrática jamais deu o ar de sua graça na organização dos grandes meios de produção.

«O desenvolvimento do meio urbano é a modelação capitalista do espaço. Representa a escolha de uma certa materialização do possível, com exclusão de outras… é imposto através da chantagem da utilidade (…) este modo de habitação, não é criado pelas pessoas, mas sem elas e contra elas.»


Os processos de produção são extremamente poluentes e comprometem extensões de água, ar e solo cada vez maiores. Para tornar os produtos mais duráveis e atraentes, industriais fazem uso de um sem número de substâncias tóxicas, submetendo bilhões de pessoas a epidemias de câncer e outras doenças degenerativas. As causas das doenças não são questionadas pela medicina, sequestrada pelo capital, e epidemias tornam-se sinônimo de lucro irrestrito das grandes farmacêuticas corporativas.

A conformação dos espaços só pôde se dar através da administração dos desejos. Através das mídias de massa a população global se submete a uma espetacular vitrine brilhante – filmes românticos em Nova York, promessas de felicidade em Paris, cartões postais do Rio de Janeiro – grandes carga de propaganda e ilusão que oculta os grandes horrores dos nossos dias: o emaranhado de ganância, técnica e inconsequência que não só compromete a qualidade de vida desta geração, como também torna mais e mais difícil a expectativa de vida das gerações futuras!


Colaboracionismo

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O urbanocentrismo não se sustenta por uma vontade consciente, mas por restrições imaginativas, essencialização das fragilidades e fechamentos para outras possibilidades – elementos que se encontram presentes em todas populações nas cidades. Mesmo entre aquela parte da população que se mostra descontente com o atual estado das coisas, mesmo entre os poucos que se dizem “revolucionários”, são poucos os que reconhecem e questionam as arbitrariedades capitalistas na formatação socioespacial por trás da divisão urbano/rural.

O reformismo não é de exclusividade dos reformistas, e há mesmo aqueles que se dizendo “revolucionários”, e acreditando atuar pelo surgimento de movimentos massivos, limitam suas lutas a demandas frente às autoridades estatais e capitalistas, apelam para direitos constitucionais, a pleitos por acesso a serviços estatais, demandas de amenizações nas formas de exploração entre classes, e abrandamentos da repressão estatal.

Esta forma de “ação revolucionária” tem levado não poucos militantes a constante frustração. Frente ao poder de indução da máquina capitalista de administração de desejos, suas estratégias (baseadas em pressupostos do século XIX) têm se mostrado por décadas ineficazes. E as “massas” que buscavam, tanto as populações urbanas quanto rurais, não enxergam nestes grupos, mesmo que contrários ao capitalismo, soluções concretas para as demandas mais simples de suas vidas cotidianas.

Entre a maior parcela destes “revolucionários” a formatação socioespacial imposta por este sistema quase nunca é questionada. Para além da militância – assembleias, encontros, manifestações, e ações de propaganda – grande parte deles também vive nas cidades e está submetida à máquina capitalista de administração dos desejos, aprisionada através das comodidades e convenções da vida urbana. A dependência imbricada na urbanidade gera zonas de conforto onde muitas fragilidades são cultivadas. Vira-se a cara para as consequências escondidas das facilidades e confortos urbanos, e no cotidiano assume-se as mesmas escolhas colaboracionistas. Estes opositores do capitalismo encontram-se presos aos ciclos de trabalho assalariado, aos pagamentos de impostos para o estado, e ao consumo de bens produzidos pelo capital. Nesse processo, abre-se mão da (incômoda) crítica à escravidão do salário, e é adiada – quando não ignorada – a busca coletiva pela autonomia.

O que são políticas de inclusão numa sociedade essencialmente excludente, senão uma forma arrojada de sadismo institucional e domesticação disfarçada? (Para não falarmos do que está por de trás de derrotas) o que está implicado nas vitórias que estes grupos opositores alcançam? São elas meios para a transformação social, para a instituição de uma sociedade igualitária e livre em que as formas de autoritarismos para além do estado e do capital sejam abolidas? Não seriam estas vitórias mecanismos de legitimação do capital e do estado, que baseando-se em reformas ínfimas garantem a continuidade e o avanço de uma sociedade cada vez mais opressiva e desigual?

«…para livrar-se dos estados (…) (e dos capitais) é preciso unicamente não participar em nada, basta não sustentá-los e então cairão aniquilados. (…) E para não participar em nada dos estados nem sustentá-los é preciso estar livre da fragilidade que arrasta os homens ao laço dos estados (e dos capitais) que lhes fazem seus escravos ou seus cúmplices.»


Não-colaboração e autonomia

«Piratas
plantados
na carne da aventura
desertaremos as cidades
ilhas de destroços»

Revolucionário é efetivamente não colaborar em nada com o capital ou com o estado, não se submeter às ciladas de sua política de formatação espacial. É desta forma que tudo é reduzido a recursos disponíveis e conforma o mundo em espaços rurais ou urbano. No atual contexto, nos encontramos em uma situação de grande dependência sistêmica, a não-colaboração dificilmente poderia ser assumida como premissa. No entanto, se buscada como um objetivo coletivo, a não-colaboração não só pode ser possível, mas está ao alcance de muitos de nós.

A não-colaboração decorre principalmente da efetivação de potencialidades criativas, da constituição de meios de produção próprios (independentes dos meios capitalistas), da criação de organizações de ajuda mútua capazes de tornar obsoletos e desnecessários os serviços prestados pelo estado. Só assim será possível que cada vez mais pessoas não precisem se submeter a trabalhos assalariados para benefício do capital ou do estado, não mais necessitarem de seus produtos e serviços, e se fazerem fortes o bastante para não se render ao pagamento de impostos.

«Eu vim para a cidade no tempo da desordem, quando a fome reinava. Eu vim para o convívio dos homens no tempo da revolta e me revoltei ao lado deles.»
(Bertold Brecht, Aos que virão depois de nós)


De fato, para além dos holofotes e das vitrines do ativismo urbano convencional, na última década têm surgido discretamente um número considerável de iniciativas coletivas e pessoais, se organizado e agido na busca por autonomia, indo contra as convenções (políticas e espaciais) impostas pelo estado e capital. Não compartilham de um programa ou de uma via única, ainda que possuam pontos em comum: se organizam em redes de mutualidade, são adeptos da ação direta e da propaganda pela ação, estão engajados na constituição de espaços comunais, e buscam coletivamente alcançar formas de autonomia em diversos contextos, se preparando da forma como podem para resistir e levar ao colapso a sociedade de classe.

Parte destes grupos tem sua origem nos espaços libertários urbanos: okupas, centros sociais e espaços culturais libertários. Outra parte vem do movimento de ecovilas, da ecologia social[7] Há ainda os grupos surgidos da junção do anarquismo com o sobrevivencialismo.

«A única alternativa é a utopia ou o caos. (…) os sintomas do desmoronar da civilização podem ser vistos por todas as partes e são bem mais agudos que aqueles percebidos nos últimos anos do império romano. No entanto, nem todos estes sintomas são necessariamente patológicos. O mundo contemporâneo se vê afetado por duas tendências opostas: uma que tende a sua destruição social, a outra que anuncia o nascimento de uma nova sociedade.»


É a partir deste universo de importantes experiências coletivas que cada qual, conforme a sua trajetória, vem refletindo e agindo sobre limites impostos pela urbanicidade. A esta tendência criativa e às questões - táticas e técnicas - em torno de sua concretização, uma pequena parte destes grupos denomina “protopia”. Muitos compartilham a intenção de romper com o modo de vida das cidades, o desejo de reterritorialização, a busca pelo melhor dos mundos futuros possíveis, sem deixar de se prepararem para a possibilidade de que o pior dos mundos se realize.


Referências

  1. Segundo dados da Organização das Nações Unidas, desde 2008 as populações urbanas em escala global, pela primeira vez na história, superaram as populações rurais, se constituindo pela primeira vez na história. Deve-se notar também que um terço das populações urbanas vivem atualmente em favelas.
  2. É muito provável que tenham existido cidades ainda mais antigas que essas, porém não deixaram maiores vestígios por serem construídas, em sua quase totalidade, em madeira ou bambu. A existência prévia de algumas destas cidades se insinua apenas por alterações sutis nas paisagens.
  3. Temos como obra de referência as reflexões de Élie Reclus sobre o surgimento da sociedades estamentais e origem dos estados através da força trazidos em sua obra Os Primitivos. Irmão mais do famoso geógrafo Elisee Reclus, Élie Reclus foi provavelmente o primeiro antropólogo declaradamente anarquista, no entanto, sua contribuição até hoje permanece esquecida ou ignorada, tanto pela maior parte dos anarquistas quanto pelo campo da Antropologia e demais Ciências Sociais.
  4. Ver Debt: The First 5.000 Years de David Graeber.
  5. A definição de civilização aqui apresentada tem base nas ideias de Norbert Elias em "O Processo Civilizador".
  6. Consequentemente, uma boa definição de colonialismo seria o processo pelo qual civilizações impõem sistemas de dominação, exploração e valores a povos que lhes são geografica e culturalmente distantes.
  7. Ecologia social é um conceito criado pelo geógrafo libertário Elisée Reclus em fins do século XIX, apropriado como base de reflexão pelo filósofo Murray Bookchin na década de 1960. Afirma que problemas ambientais atuais são causados fundamentalmente pelos problemas sociais decorrentes de sistemas políticos e sociais hierarquizados, em particular pela aceitação cega do dogma do desenvolvimento econômico e da hipercompetitividade naturalizada.


Textos

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