O Anarquismo Hoje. Uma Reflexão Sobre as Alternativas Libertárias

De Protopia
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Jorge E.Silva

«Somos anarquistas porque queremos uma sociedade sem governo, uma organização livre, indo do indivíduo ao grupo, do grupo à federação e à confederação, com desprezo das barreiras e fronteiras, sendo a associação baseada sobre o livre acordo e naturalmente determinada e regulada pelas necessidades, aptidões, idéias e sentimentos dos indivíduos»
(Neno vasco)


Uma Realidade Sombria e Contraditória

«O criado arrebatou ao amo seu chicote e se fustigou com ele para assim poder ser amo»
(F.Kafka)


Vivemos um época de profundas mudanças, da tecnologia às relações sociais, da economia à política. Transformações que não têm no entanto qualuqer sentido de superação do Sistema - de suas injustiças e irracionalidades -, antes pelo contrário, são condicionadas pelas interesses estratégicos de preservar a Ordem Reinante.

A derrocada do socialismo de estado, no Leste Europeu, é uma dessas mudanças decisivas que marcarão a nossa época. Um processo de auto-reforma iniciada pela oligarquia burocrática saiu do controle e acabou pulverizando um sistema estatista e autoritário, que alguns teimavam em chamar de socialismo. Este acontecimento, inegavelmente positivos para os povos que se libertaram daquele sistema terrorista de dominação, não deixou de ser contudo, ao mesmo tempo, uma vitória de setores dessa mesma burocracia que conseguiram preservar seu poder. Mais uma vez, como tem ocorrido nas ultimas décadas, as classes dominantes vão se alternando no poder em resultado da exaustão política ou da luta interna. Como no caso das ditaduras ibéricas e dos governos militares latinos-americanos, não foi a luta dos explorados e dominados que determinou as mudanças e o fim desses regimes. Quando o povo se apresentou no cenário foi para ser usado para sufragar no sistema de dominação ou para ser usado como buxa de canhão em lutas fraticidas, como assistimos na Romênia, Geórgia e Iuguslávia.

Também a ideologia liberal saiu vitoriosa, pois a derrota simbólica das idéias de uma alternativa social, que estiveram nos primórdios da Revolução Soviética, será por muito tempo o tema central da propaganda capitalista e razão da descrença de muitos dos que lutam contra este sistema.

O socialismo autoritário saiu do cenário social derrotado, dando dessa forma a sua derradeira contribuição ao status quo; ao mesmo tempo que impulsionou a uniformização e homogeinização do sistema capitalista à escala universal, uma novo conjuntura assentada na mundializalção da divisão do trabalho e na segmentação do mundo - e de cada região - em guetos de riqueza de miséria.

Um panorama internacional, marcado por uma convergência quase total entre principais centros de poder em torno de Washington Consensus, e administrado pelos 7 Mais que usarão seus organismos internacionais: ONU, CEE, OTAN, FMI, BIRD como instrumentos de gestão, de polícia e companhia de seguros da Ordem Internacional.

A instrumentalização da ONU durante a Guerra do Golfo e nos diversos conflitos regionais dos últimos anos; a manutenção e alargamento da OTAN após a dissolução do Pacto de Varsóvia; a recusa dos EUA de desmantelar o arsenal nuclear; bem como as pretenções hegemonistas da Alemanha dentro da CEE, são entre muitas outras manifestações, desmonstrativas desta nova rearticulação do Capitalismo Interncaional sod o comendo de Washington.

Neste contexto de restauração, principalmente nas sociedades de consumo, massificadas e manipuladas por uma rede de propaganda e informação dirigida, as possibilidades de uma alternativa social se afunilam. Já que os valores libertários da autonimia da solidariedade, do livre-pensamento e do autogoverno são dificilmente inteligíveis ou aceitos pela mairoria dos cidadões ameestrados e desamparados, perdidos num contexto social de individualização e atomização extrema. Tornando-se assim incapazes de qualquer reflexão crítica (corpo sem orgãos), afundados que estão no minimalismo ético e no cinismo pragmático. O que exprime a maior vitória do sistema: a homogeinização ideológica e cultural das sociedades onde predominam o individualismo, a concorrência e a esquizofrenica dionisíaca para usar as palavras de Díaz[1].

Só os excluídos dessa sociedade (e que não aspiram a se integtegrar no reino da sujeição conformista), ou os que nela não se reconhecem - uma pequena e desarticulada minoria - podem se identificar potencialemente com esses valores libertários. Em termos objetivos essa é a nossa margem de atuação nas sociedades do chamado 1º Mundo. Mesmo que saibamos que esse conformismo majoritário é cíclico e pode ser abalado, quer por alterações socioeconômicas, quer pela aprofundamento gradual da crise civilizacional que vivemos.

Outra é a situação vivida nos países do hemisfério sul - com algumas semelhanças em alfuns países do Leste Europeu - onde a superexploração, a não-satisfação das necessidades básicas e a flagrante desigualdade social, que se traduz num verdadeiro apartheid social, abrem espaços para a continuidade de movimentos sociais anticapitalistas mais amplos.

Olhando ao nosso redor não seria excesso de pessimismo afirmar que nunca como hoje as forças do Estado e do Capitalismo foram tão fortes e as tendências libertárias da alternativa social tão fracas.

No entanto, e apesar disso, persistem contradições e tensões fundamentais no sistema dominante que se vão acumulando e adquirindo uma visibilidade crescente. Começando pela miséria absoluta da maioria da população mundial, que contrasta com a riqueza ostensiva e delapidatória de uma minoria; a própria marginalização de jovens, desempregados e velhos nos países ricos, que aponta os limites de assimilação do sistema; o desenvolvimento da tendência de crescimento dos empregos informais e pracários; a desqualificação profissional, o aviltamento do trabalho e o desemprego estrutural, resultante da introdução da automação e das novas tecnologias e, por fim, a violência e a criminalidade presentes em todas as grandes cidades demonstram a impossibilidade de soluções no quadro do sistema capitalista.


Referências

  1. DÍAZ, Carlos. De la Razón Dialógica a la Razón Profética. Mosteles: Ediciones Madre Tierra, 1992.



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