O Medo da Liberdade

De Protopia
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Jorge Boran


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Um dos maiores psicólogos da atualidade, Eric Fromm, no seu livro "O Medo da Liberdade", mostra que as mesmas condições psicológicas que levaram à ascensão de Hitler na Alemanha, estão presentes na sociedade capitalista de hoje. São as condições psicológicas que explicam a aceitação de regimes autoritários pela grande massa de pessoas.

Diante de um poder econômico onde a pessoa é reduzida a uma peça de uma grande máquina, diante dos poderosos meios de comunicação social, em especial a televisão, que impedem que a pessoa pense e decida por si, e diante da máquina do todo-poderoso Estado que despreza e marginaliza, as pessoas se sentem insignificantes, impotentes e isoladas. Para superar estes sentimentos as pessoas podem escolher dois caminhos: o caminho da fuga ou o camino da liberdade (juntar-se a outros para mudar as coisas).

A grande massa das coisas escolhe o caminho da fuga.

Principais mecanismos de Fuga

Os dois principais mecanismos de fuga, hoje, são:

  1. o caráter autoritário (ou passivo)
  2. o caráter autômato

Caráter Autoritário

Pelo mecanismo do autoritarismo, as pessoas ou procuram se identificar com alguém (ídolos), ou com algo do mundo exterior (times de futebol), para adquirir força ou se sentir dono de alguém (às vezes o marido domina a mulher em casa), ou então se submetem ao chefe (na ideologia facista, o indivíduo obtém certa segurança ao ver-se unido a milhões de outros que partilham dos mesmos sentimentos). Tanto o desejo de se submeter a outros quanto o de dominar vêm do sentimento de insegurança provocada pelo isolamento, insignificância e impotência na sociedade. Assim, as pessoas evitam a tortura da dúvida de ter de tomar decisões.

Diante desse quadro fica claro porque uma pessoa de caráter autoritário nunca é revolucionária no sentido de querer uma mudança profunda da sociedade para o bem do povo, mesmo quando usa uma linguagem de compromisso com os oprimidos. É mais um rebelde, um revoltado. Por isso, pode facilmente mudar de ideologia, de extrema esquerda para extrema direita. É o que frequentemente acontece com os jovens de idéias avaçadas que enquanto estudantes, eram intolerantes com os outros, mas que, depois de formados, passaram para a sociedade de consumo como bons burgueses.

Caráter Autômato

Esta é a solução adotada pela maioria das pessoas na sociedade de hoje. Deixam de ser elas mesmas, de pensar, de ter opiniões próprias e se tornam iguais a milhões de outros seres humanos. São iguais a uma máquina de fazer botões - o processo e o produto são sempre os mesmos. É comodo, pois as pessoas não precisam enfrentar a angústia do compromisso libertador.

Na sociedade moderna, a automatização agrava a insegurança do indivíduo, e por isso ele sempre se mostra disposto a aceitar novas autoridades que lhe ofereçam alívio e segurança às suas dúvidas e as suas angústias.

Na realidade, nem a fuga do caráter autoritário, nem a do caráter autômato resolvem o problema de insegurança. Como diz Fromm: "Elimina o sofrimento visível, mas não resolve o conflito escondido que traz uma infelicidade silenciosa".




publicado em Juventude, o grande desafio. ed. Paulinas



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