Reforma e Revolução
Ficar vivo é uma atitude reformista: você insiste na mesma abordagem, esperando por um resultado diferente. Suicídio, por outro lado: tem resultados garantidos. Se você quer resolver um problema, resolva-o.
Não era que eu não amasse a vida, pelo contrário, eu tinha um conceito tão alto dela, ou pelo menos do que ela poderia ser, que era insuportável viver aquela farsa. Eu vivi momentos de uma alegria incrível, me apaixonei perdidamente, reivindiquei bairros da polícia em uma guerra direcionada ― depois de tudo isso, eu jamais retornaria à cozinha para lavar pratos, Eu passaria por tudo para viver essas coisas novamente, mas eu não estava interessado em somar cinqüenta anos ruins a vinte cinco anos bem vividos.
Eu não havia motivo para acreditar que eu teria uma segunda chance algum dia. O mundo estava desmoronando à nossa volta e eu não estava ficando mais jovem. Eu me culpei por tudo: eu afastei meus amigos, fraturei coalizões nos momentos mais importantes, arruinei minha relação com Kate. Eu estava tão bravo comigo mesmo, tão desapontado.
Eu não podia parar de pensar em suicídio. Eu passava uma parte desproporcional de cada dia pensando nos detalhes, pensando em ter certeza do sucesso e onde deixar meu corpo. Mesmo separado da questão de se eu devia ou não me matar, dificilmente era um bom uso do meu tempo; eu mal conseguia focar em outra coisa. Durante os piores momentos, a cada meia hora eu tinha que sentar, me focar em passar de uma inspiração à outra, e falar comigo mesmo:
Ok, agora você está no fundo do poço. Lembre-se que você está em guerra. Pessoas como você não deveriam nem sobreviver ― você deveria se matar para poupar-lhes do trabalho. Você tem que passar por tudo isso por todos aqueles que não viveram para contar a história. Só o ato de sobreviver já é lutar nesta guerra. Só sobreviver.