Sabotagem

De Protopia
Ir para navegação Ir para pesquisar
Receitas Para o Desastre
CrimethInc


Instruções

Se você vai se envolver com sabotagem, você deve se retirar de toda forma de ativismo visível, resolver pendências judiciais e pagar multas de trânsito, e de toda forma aparentar ser um cidadão cumpridor das leis. Você deve ser capaz de passar por uma blitz de trânsito de rotina sem levantar nenhuma suspeita. Todos podem praticar a resistência no seu dia-a-dia, mas se a sua abordagem da subversão escolhida incluir atividades ilegais graves, será bom você tornar as coisas o mais difíceis possíveis para aqueles cujo trabalho é pegar você. Como eles dizem, às vezes você tem que obedecer às pequenas leis para quebrar as grandes.


Refletindo

Antes mesmo de considerar realizar um ato de sabotagem, presume-se que você já tenha estabelecido os seus objetivos gerais como ativista político ou subversivo. A possibilidade de sabotagem surge quando você começa a pensar em estratégias para alcançar estes objetivos. Talvez você precise chamar a atenção do público para uma injustiça que deixaria todos indignados, se eles ouvissem falar dela; talvez você queira destruir os meios pelos quais uma corporação ou instituição está realizando suas malfeitorias, ou pelo menos criar um obstáculo; talvez você queira inspirar os seus companheiros ativistas ou dissidentes, e, no processo, demonstrar um modelo para resistência. Se parece que a sabotagem seria um elemento eficiente na sua estratégia, considere os possíveis alvos, as ações que você pode tomar contra eles, e os meios com que realizar isso.


A sua ação deve ser proporcional à seriedade do assunto, à importância do alvo, aos meios de que você dispõe, e você deve estar preparada para lidar com todas as possíveis consequências. Se os efeitos da sua ação vão se tornar públicos, leve em consideração a forma com que as diferentes táticas se mostrarão aos olhos do público. Pense bem em como minimizar os riscos, as despesas e a dificuldade ao mesmo tempo em que maximiza a eficiência; em toda etapa do planejamento, tente ver se há uma forma mais simples, mais segura de alcançar os mesmos fins, e se você está preparado para os riscos que você irá correr.


Considere os efeitos da sua ação em um contexto mais amplo. Quem ele irá inspirar, quem ele irá intimidar? Ele irá provocar mais vigilância e repressão na sua comunidade, ou inconformidade dentro dela? Em caso positivo, vale a pena, e como você irá lidar com essas consequências? Não chame a atenção para um alvo importante com uma ação pequena se você ou outros podem querer fazer algo mais sério com ele mais tarde. Reconheça que as autoridades podem usar os seus atos de sabotagem como propaganda para seus próprios fins; pense em como compensar ou impedir isto.


Reconhecimento

Do momento em que você começar a considerar um alvo até o momento antes de atacar, você fará reconhecimento, e a qualidade deste preparativo vai determinar se a sua ação será um sucesso ou um fracasso. Primeiro, pesquise o alvo e tudo relacionado a ele — de um computador em um local público, por exemplo, ou indo a um centro de turismo e registrando-se para um passeio guiado. Assegure-se de que qualquer pessoa que faça essas investigações não possa ser conectada ao ato de sabotagem mais tarde.


Junte mapas; se possível consiga fotografias aéreas da área e plantas de qualquer prédio. Você muitas vezes pode consegui-los na internet. Faça seus próprios mapas, combinando os dados dos mapas que você reuniu com a informação recolhida pelas suas missões de reconhecimento. Verifique cuidadosamente esses dados com a realidade em futuras missões de reconhecimento. Não arrisque ser acusado de conspiração guardando mapas ou anotações sobre possíveis alvos em sua casa.


A medida do possível sem chamar a atenção, torne-se intimamente familiar com o local da sua ação desejada e com a área adjacente a ele. Pode ser mais vantajoso para as pessoas que fizerem a maior parte do reconhecimento não estarem envolvidas na ação; mesmo assim, todos que estarão no local da ação devem passar algum tempo lá, não só os exploradores. Idealmente, conduzam uma simulação, com todos que participarão da ação. Se for necessário, tire fotos para estudar, mas o faça muito discretamente, e não as revele de modo que haja provas do seu reconhecimento.


Você pode impedir o desmatamento no restante de nossa florestas usando uma técnica chamada "spiking" em árvores que serão cortadas. Usando um grande martelo ou marreta, insira pregos com pelo menos quinze centímetros de comprimento em cada tronco, acima do nível da sua cabeça e corte as cabeças dos pregos ou cubra-as com casca de árvore; repita este processo aleatoriamente pela floresta, trabalhando na chuva se necessário para abafar o barulho e usando pinos de cerâmica se você tiver que enganar os madeireiros com detectores de metal. Informe o serviço florestal que as árvores foram sabotadas.


Enquanto estiver explorando, tome notas dos horários, da segurança, do tráfego ocasional, e da proximidade e tempo de deslocamento até locais como delegacias de polícia que podem enviar uma resposta. Horário dos funcionários, da coleta do lixo, do serviço de limpeza, horários que os trens passam — qualquer coisa pertinente que você deva saber. Lixeiras frequentemente fornecem informações importantes sobre uma corporação ou instituição (veja Revirando Lixeiras). Fique de olho aberto para itens na área que possam ser utilizados na sua ação; quanto menos você tiver que levar e trazer no grande dia, melhor. Observe as redondezas: tem alguma mata que possa fornecer cobertura, ou vocês podem ir disfarçados como consumidores? Preste atenção à mudanças na área durante o progresso das sucessivas missões de reconhecimento, para evitar que mudanças significantes aconteçam inesperadamente entre a última missão de reconhecimento e a ação. Explore em várias horas do dia e da noite, mas especialmente na hora do dia em que a sua ação ocorrerá; se necessário, coloque um vigia em tempo integral. Você pode precisar testar se e onde existem sistemas de segurança, e medir a velocidade e intensidade da resposta; seja cuidadoso para não entregar o jogo. Como a sua ação provavelmente depende do elemento surpresa, você provavelmente deverá cancelar os seus planos se algo comprometê-los em qualquer estágio do reconhecimento.


Finalmente, considere os precedentes para a sua ação. Provavelmente alguém já tentou algo similar; aprenda o que você puder sobre como foi, e trace seus planos de acordo.


Recrutamento

Às vezes você pode realizar um simples ato de sabotagem ou subversão sozinho. Em outros casos você precisará de uma equipe para isto. Esta equipe deve consistir do menor número de pessoas possível necessário para completar todas as tarefas envolvidas; quanto menos pessoas envolvidas, menor o risco de mal-entendidos e de erros individuais, e mais forte é o sentimento de responsabilidade pessoal de cada participante. Em grupos maiores, algumas pessoas podem cair fora do projeto durante as preparações, então assegurem-se de que há gente suficiente para suprir essa possibilidade. Se forem necessárias apenas algumas pessoas, o seu grupo de afinidades (veja Grupos de Afinidade) deve bastar; se forem preciso mais, considere chamar outros grupos de afinidade para trabalhar com vocês. Qualquer grande grupo trabalhando junto deve dividir-se em sub-grupos menores, para simplificar a organização e a tomada de decisões.


Você deve convidar para trabalhar com você apenas pessoas com as quais você tem razão para confiar profundamente. Toda pessoa que você convida que decide não participar é mais um risco de segurança desnecessário, então escolha com cuidado. Aborde as pessoas com perguntas gerais antes, em um ambiente particular, e só faça a sua proposta se eles expressarem interesse concreto em fazer alguma coisa. Indivíduos que não irão trabalhar com você não devem nem mesmo estar cientes do seu interesse em atividades ilegais; especulações inocentes sobre quem fez uma [[ação bem conhecida podem ser extremamente perigosas. A equipe que se formar deve ser capaz de cooperar amigavelmente nas situações mais estressantes.


Você pode colocar um filtro azul na sua lanterna: desta forma você poderá utilizá-la no escuro sem arruinar a sua visão noturna, e com muito menos chances de ser visto por outros.


Trazer novas pessoas significa respeitá-las como participantes iguais no projeto, com igual palavra sobre como ele deve ser levado. Não convide pessoas para trabalhar com você a menos que você respeite o seu julgamento e esteja disposto a ajustar os seus planos de acordo com as suas perspectivas. Inevitavelmente, alguns indivíduos terão maior experiência em determinado campo do que outros, e serão capazes de oferecer conselho mais práticos. Ao mesmo tempo, evite uma dinâmica na qual todos no grupo contam com um ou dois membros para fazer o trabalho sujo; isso centraliza as habilidades que seria melhor que todos desenvolvessem, e pode acabar com o seu grupo desenvolvendo uma estrutura hierárquica, não-saudável.


Segurança

Planejar e realizar atos de sabotagem exige muita segurança; antes mesmo de considerar uma ação deste tipo, um grupo deve estar muito bem versado na Cultura de Segurança. Desde o princípio, vocês precisarão estabelecer locais seguros para as reuniões para fazer planos. Idealmente, serão ao ar livre, ou pelo menos em um local seguro sem qualquer tipo de vigilância ou conexão a qualquer ativista conhecido. É uma boa ideia criar um código para comunicar-se sobre a ação, ou um pretexto para se reunir; mas atenção, um código ruim é pior do que não ter um, e dizer que você vai a um casamento quando não há casamento algum pode levantar mais suspeitas do que qualquer coisa. Mantenha as suas interações com companheiros de longa data em atividades ilegais ao mínimo; vá vê-los pessoalmente quando preciso, para que não existam registros da sua associação. Pode ser surpreendemente fácil manter certas relações em segredo simplesmente nunca mencionando elas em e-mails ou ao telefone.


Se todos estiverem muito preocupados com vazamento de informações e tiverem grande confiança em um pequeno grupo de organizadores, esta equipe poderá manter em segredo a identidade do alvo até o mais tarde possível na fase de planejamento. O problema com esta tática é que centralizam-se informações importantes, o que pode desequilibrar as dinâmicas de grupo, aumentar os riscos e afastar possíveis participantes. Ela é mais útil para ações de baixo risco que estão abertas a muitos participantes, ou operações de alto risco realizadas por um pequeno grupo bem entrosado; para grupos mais novos levando a cabo ações de risco médio, pode ser importante que todos envolvidos participem em todos estágios da discussão e do planejamento.


Planejamento

Tão logo o núcleo central de participantes esteja estabelecido, vocês podem começar a ter reuniões. Certifiquem-se de que todos estão felizes com o formato escolhido para estas (veja "Facilitando Discussões" em Grupos de Afinidade), e que ele seja eficiente e com objetivos definidos. Na primeira reunião, você devem escolher o alvo, os objetivos, a cultura de segurança e o nível máximo de risco, e discutir como você irão continuar a se encontrar. Nas reuniões seguintes, agentes de campo podem compartilhar informações coletadas, e indivíduos podem fazer proposições táticas para o grupo aderir até que isso tudo compreenda um plano com os quais todos estejam confortáveis.


Tal plano deve cobrir todas as possíveis situações, da melhor à pior; o grupo pode estabelecer com antecedência sob quais circunstâncias eles abandonarão a ação. Não subestimem o seu poder — pequenas pessoas com pouco dinheiro podem alcançar objetivos enormes — mas sejam realistas. Vocês também devem estabelecer estruturas para suprir às necessidades do grupo de ação; estas podem incluir comunicações, patrulhamento, apoio legal, suprimentos, comida e alojamento, e trabalho de imprensa. Os indivíduos podem escolher papéis dentro desta conjuntura, e subgrupos podem se formar para se focar em concluir determinadas tarefas. Tentem não permitir a criação de rotinas nas quais os memos indivíduos sempre assumem as mesmas tarefas; quanto mais habilidades cada participante desenvolver, melhor.


Se o grupo que estiver organizando a ação for composto por pessoas de diferentes regiões, os que residem no local irão assumir uma porção maior da responsabilidade de fazer reconhecimento; consequentemente também pode ser mais fácil para eles elaborarem planos. Quem mora no local deve estar consciente do possível desequilíbrio de poder que isso pode criar, e cuidar para passar para os outros toda informação e controle possível. Por razões de segurança, pode ser uma boa ideia estabelecer um programa de intercâmbio, na qual um grupo organiza uma ação na sua região para que outro grupo a realize, e vice-versa. A repressão irá atrás daqueles ativistas mais próximos à área alvo, mas eles podem ter álibis infalíveis prontos.


Acampamento de Ação

Nos últimos dias antes de uma ação séria, geralmente há muitas coisas para se fazer. E isso é ainda mais complicado quando a segurança exige que você e seus companheiros não devem ser vistos juntos durante este período, especialmente trabalhando arduamente em algum projeto misterioso; pode até mesmo ser necessário ocultar a presença de participantes que vieram de longe. Para resolver esse problemas, você podes organizar um acampamento de ação: em um local seguro, como as terras privadas de um indivíduo de confiança em quem se pode contar para não ver nada, ou uma área esquecida adequada para okupar ou acampar, reunam-se por um breve período de preparação intensa (veja Thinktanks). Em áreas urbanas, a casa de um amigo que está viajando pode bastar. Todos devem ter um álibi — e não pode ser o mesmo! — para ir para o acampamento de ação. A própria tarefa de organizar comida e abrigo para um grupo por um curto período de tempo pode ser cansativa; pessoas que quiserem assumir tarefas de apoio podem assumir a responsabilidade para entregar comida e outros suprimentos. Certifiquem-se de que o trânsito de pessoas indo e vindo para o acampamento não atrairá atenção indesejada.


Preparações Legais

Durante a fase de planejamento, estabeleçam as possíveis repercussões legais de toda ação que vocês estiverem considerando, para que vocês possam avaliá-las durante a tomada de decisões. Se vocês não estiverem preparados para cumprir a pena, não cometam o crime. Antes de levar a cabo atos ilegais sérios, vocês devem ter uma estrutura de apoio legal pronta caso alguém seja preso (veja Apoio Legal). Assegure-se de que há pessoas que não estejam diretamente envolvidas na ação que possam prover apoio legal para os presos, para que não se possa fazer nenhuma conexão imediata entre eles, as pessoas que os apóiam e a ação.


Condições

Às vezes o clima vai estar interligado com os seus planos — você pode precisar de uma lua cheia para caminhar pelo campo, ou uma lua nova para ter escuridão ou de um temporal para abafar ruídos. Nevascas podem tornar impossível a tarefa de passar por uma área sem deixar rastros, enquanto que um clima quente pode fazer você parecer mais suspeito em seu disfarce. Organizem-se de acordo. Fiquem a par de outros acontecimentos; se estiver ocorrendo uma busca policial por alguém na área do seu alvo na noite da ação, é melhor vocês saberem antes de se dirigirem para lá.


Comunicações

A menos que a sua ação é para ser realizada por um ou dois indivíduos isolados, vocês precisarão de um sistema seguro e confiável de comunicação e contra-vigilância. Isso pode variar desde se ter a opção para um cancelamento de emergência a ser anunciado no último minuto, caso algo dê errado, até vários grupos manterem contato constante durante toda a ação. Quando mais elaborada a sua estrutura de comunicação, mais coordenadas poderão ser as suas atividades; por outro lado, quando mais vocês confiarem em tecnologias de comunicação, maiores serão as chances de que suas transmissões possam estar sendo monitoradas, e maior será a confusão caso a comunicação pife. Quanto mais simples for a sua estrutura de comunicação, mais segura ela, e todo o seu plano, serão.


Vigias podem ser ficar nos pontos de entrada para esperar e anunciar a resposta da polícia, ou perambular pela área para ficar de olho nos seguranças e em transeuntes. É possível monitorar as interações da polícia com um rádio, embora seja proibido fazer isso dentro de um carro. Pode-se estabelecer um centro de comunicações, ao qual os vigias e os grupos de ação reportam, e que é responsável por entrar em contato com outros grupos para passar notícias e anúncios; outra maneira de se fazer isso é distribuir a informação através de uma "árvore de comunicação", na qual cada pessoa ou grupo que recebe uma mensagem é responsável passá-la para alguns outros.


As tecnologias de comunicação estão em constante evolução, bem como as técnicas de vigilância da polícia; mantenha-se atualizado com as opções. Rádios transmissores-receptores vêm em diversos modelos; eles podem ser monitorados com relativa facilidade, especialmente se a polícia estiver preparada para isto, e frequentemente falham quando mais precisamos deles, mas eles podem ser usados para contatar várias pessoas instantaneamente, e se não forem monitorados não deixam registro do seu uso. Celulares são mais confiáveis a distâncias muito maiores, e não são tão fáceis de serem monitorados, pressupondo-se que já não estejam grampeados; por outro lado, eles deixam um registro permanente de quando, onde e para quem se telefonou. Um celular emprestado de um não-combatente ou registrado em nome de um proprietário fictício é muito mais seguro do que um celular pessoal. Este é o único tipo de telefone que você deve usar em uma ação séria.


Ação

No dia ou noite da sua ação, repassem todos os passos do plano juntos, com cada participante descrevendo o seu papel. Isso dará uma clareza e confiança fundamental.


O seus planos devem especificar a ordem na qual as atividades serão realizadas; e devem levar em consideração a quantidade de tempo que cada atividade irá exigir, tendo em conta o tempo de deslocamento também. Todos cujas ações devem ser coordenadas devem ter relógios sincronizados. Um rota completa, incluindo rotas de fuga alternativas (veja Evasão), deve ser traçada para todos envolvidos — não apenas para ir e voltar do alvo, mas todo o caminho desde o ponto de partida dos eventos do dia até a sua conclusão quando todos estiverem dispersados em segurança. Este trajeto deve ser planejado de forma a deixar o mínimo de registros possíveis dos movimentos daqueles que participarão na ação; evitem pedágios, por exemplo, e câmeras de vigilância em postos de gasolina.


Se houver motoristas para a fuga, é melhor que eles voltem em um horário pré-determinado ou quando chamados do que esperarem nas redondezas, chamando a atenção de vizinhos ou de rondas policiais. Tenham o seu tempo contabilizado com antecedência, e ajustem os seus planos com o andar das coisas para evitar situações constrangedoras. Se você tiver um horário estabelecido para ser pego, e levar mais tempo do que você esperava para chegar ao local alvo de onde você foi deixado e será pego de volta, reserve a mesma quantidade de tempo extra para voltar, e subtraia isso do tempo que você tinha planejado para ter no local da ação.


Vocês devem ter outros planos prontos, caso algo dê errado, e estabelecer quais condições irão dizer que se deve mudar de um plano para outro. Todos devem ter disponível um meio de transporte alternativo caso alguém não consiga sair da área da forma planejada, e deve levar dinheiro para o táxi ou ônibus se isso se aplicar.


Assgurem-se de que vocês possuem as ferramentas necessárias para o trabalho, mas não levem nada que não seja essencial com vocês — nada potencialmente incriminador, nada desnecessariamente pesado, nada que você possa acidentalmente perder. Depois da ação, destruam todas as ferramentas que vocês usaram, ou, se vocês tiverem certeza de que a ação não foi dramática o suficiente para provocar uma investigação séria, mantenham-as longe de qualquer espaço associado a vocês. Certifiquem-se de que todas outras evidências sejam destruídas — todos os mapas, todas anotações, todas as roupas com as quais vocês possam ter sido vistos.


Tenha um álibi preparado: dê um jeito de ser visto em público, ou tenha um registro — como um recibo de estacionamento, um canhoto do cinema, ou recibo de um camping que você tenha certeza de que não está sob vigilância — de suas atividades longe da cena do crime. Nunca mais fale da ação novamente, exceto dentro do grupo com quem você a realizou, e mesmo assim, somente em condições de segurança. Existem duas exceções a isto: se você for pego, julgado e condenado por uma ação, você pode falar das ações pelas quais você foi condenado, sob a condição de que você não dê nenhuma pista sobre outros envolvidos; e se você tiver sucesso em derrubar o governo e todas as outras instituições opressivas, você, seus amigos e todos outros como você finalmente serão livres para admitir terem participado de atividades subversivas nos velhos dias. Imagine todas as histórias que teremos para contar!


Manifesto e Cobertura Jornalística

Vocês podem querer disfarçar o seu ataque como um acidente ou como um ato aleatório de vandalismo, para não dar dicas aos investigadores sobre os possíveis suspeitos. Por outro lado, se um dos seus objetivos é atrair a atenção pública, será melhor assumir a publicidade você mesmo. As melhores ações de sabotagem podem passar desapercebidas ou mesmos serem deliberadamente abafadas, a menos que elas sejam acompanhadas por campanhas midiáticas abrangentes e persuasivas.


A melhor forma de fazer isso é emitir um manifesto. Ele é essencialmente uma carta à imprensa (veja Grande Mídia): ela deve começar falando o quem, o que, o quando e o onde de uma ação, e então explicar porque ela foi realizada e elabore sobre os objetivos mais amplos por trás dela. Ela deve ser escrita de forma simples e precisa, com um estilo de escrita genérico que não denuncie a identidade do autor ou autores. A cobertura jornalística da grande imprensa irá na melhor das hipóteses incluir uma ou duas frases do manifesto, então certifique-se de que todas as frases dele sejam eloquentes e que mantenham o sentido quando citadas sozinhas. Às vezes bom humor pode ajudar a passar a sua ideia e manter a atenção do leitor; isso é mais útil quando o seu manifesto será publicado na íntegra em algum local, como em um site de notícias independente. Inclua o endereço de uma ou duas páginas da internet, se possível, tendo em mente que isso poderá trazer a atenção ou repressão àqueles que as hospedam.


Para evitar que as suas pegadas sejam usadas contra você no tribunal, tenha um parte sobressalente de sapatos escondidos em um local secreto fora da sua casa para usar em trabalhos noturnos; use várias meias para que você possa usar sapatos de um tamanho maior que os seus pés.


Enviar um manifesto pode ser uma das partes mais arriscadas da ação. Ele deve ser enviado de uma conta de e-mail de uso único em um computador público, e a pessoa que o envia deve ser cuidadosa para não ser detectada se aproximando, usando ou saindo de perto do computador. Na melhor das hipóteses, ele deve ser enviado de uma área muito distante da ação e dos lares daqueles que a realizaram. Outra maneira é enviá-lo pelo correio — mas o texto não deve ser escrito em um computador ligado a qualquer um dos participantes, e o papel, envelope e selo nunca devem ser tocados sem luvas.


Um manifesto com um texto simples é frequentemente insuficiente para capturar a atenção ou expressar a magnitude de uma ação. Se possível, inclua fotografias ou vídeos. Um ou mais dos indivíduos envolvidos na ação podem ser responsáveis por registrá-los depois da ação (veja Mídia Independente). Seja cuidadoso para que esses registros de imagem não forneça aos investigadores quaisquer informações úteis sobre o seu grupo. É mais provável que a mídia independente faça uma cobertura mais aprofundada e simpática que a da grande mídia; se você não conhece nenhum jornalista da mídia independente em quem você possa confiar, você pode enviar informações a eles ou pedir a sua cobertura de forma anônima.


Além de buscar cobertura jornalística independente e corporativa, você também pode dar um jeito de apresentar as notícias e explicações da sua ação direto ao público por meios autônomos (vejam Faixas Penduradas e Faixas Içadas; Grafite, Criando Manchetes, Adesivos, Lambe-lambe; e também considere radiodifusão pirata, comunitária ou livre). Considere como utilizá-los para comunicar a informação necessária sem envolver aqueles que os utilizam para crimes maiores.


Depois

Imediatamente depois de uma ação, assegurem-se de que todos estejam seguros e tenham apoio emocional, e de que qualquer um que tenha sido preso ou ferido receba ajuda. Além de cuidar disto, dividam-se e voltem rapidamente a ser cidadãos comuns, respeitadores das leis. Resistam ao impulso de se encontrar para trocar figurinhas. Eventualmente, você vão querer se reunir novamente, quer seja em pequenos grupos ou todos juntos, para compartilhar pontos-de-vista sobre o que aconteceu, mas isto exigirá pelo menos tanta segurança quanto as suas reuniões de planejamento, pois agora vocês podem estar sob suspeita. Considerem a hipótese de limitar o seu envolvimento em atividades políticas públicas, mas não façam nenhuma mudança radical nos seus estilos de vida ou compromissos. É menos incriminador manter uma rotina visível do que desaparecer completamente. Guardem os seus segredos para si e as suas mentes aguçadas; frequentemente, as autoridades não vão atacar até meses ou mesmo anos depois de uma ação, quando elas tiveram tempo suficiente para reunir inteligência e preparar um caso.


Apêndice: Aproximação e entrada

Se você tiver que passar por cercas de arame, leve em consideração passar através delas ao invés de sobre elas. Se você tiver um corta-vergalhão, isso pode ser tão rápido quanto escalá-la, com menos risco de ser visto. Quando forem telas de arame, simplesmente corte o mesmo fio de arame da cerca no topo, rente ao solo e em três ou quatro lugares intermediários, e então puxe o arame com o seu alicate. A cerca então se abrirá ao meio. Tenha consciência de que uma cerca cortada, se descoberta, irá alertar imediatamente uma pessoa que podia não suspeitar de nada.


Se você tiver que caminhar procure ficar longe de ruas e estradas. Se for preciso dirigir, tenha consciência de todas as maneiras pelas quais o seu carro pode ser rastreado, inclusive câmeras de monitoramento de tráfego. Consulte a receita ''Evasão'' para mais detalhes sobre transporte e fuga motorizada.


Se você tiver que passar por um muro, você pode precisar de mais equipamento. A maneira mais simples é levar a sua própria escada; entretanto, se você deixá-la no seu ponto de entrada ela poderá chamar a atenção, e se alguém tirar ela dali você pode ficar preso.


Valas e rios podem fornecer boa cobertura, mas é sempre melhor trabalhar seco, então planeje sair por eles ao invés de entrar, se possível. Lembre-se que a lama pode guardar as suas pegadas e outros sinais de sua passagem.


Se um portão estiver trancado com cadeado, use um corta-vergalhões para cortá-lo. Se você tiver opção, é mais fácil cortar uma corrente do que um cadeado, e mais fácil de disfarçar. Nunca deixe um cadeado ou corrente cortados à vista — é um sinal certeiro de que alguém está lá dentro. Se necessário, substitua o cadeado cortado por um idêntico.


Você pode cobrir um janela ou parte dela com silver tape antes de quebrá-la, se você não quiser fazer barulho ou sujeira.


As portas são frequentemente protegidas por alarme. Em caso de dúvida, você sempre pode tentar passar pelo meio da porta, mas cortá-la fará barulho.


Telhados podem fornecer diversos pontos de acesso. Procure por dutos de ar-condicionado, exaustores, sótãos e forros.


Evite áreas abertas, especialmente ao redor de fábricas e escritórios: elas provavelmente estão sendo filmadas.


Relato

No inverno de 1992, a minha célula da Frente de Libertação Animal (ALF) estava travando uma campanha de ação direta contra a indústria de peles norte-americana. Nossos alvos eram meia dúzia de pessoas que recebiam patrocínio da Fundação de Pesquisas dos Criadores de Visão, um grupo da indústria de peles que patrocina pesquisas para tornar possível o confinamento intensivo de visões. O beneficiário da maior soma de patrocínio era Richard Aulerich, o chefe do programa Granja Experimental de Peles da Universidade do Estado de Michigan (UEM). Pelos últimos trinta anos, ele havia procurado solucionar os problemas com doenças das mais de 600 fazendas de pele do país.


Ninguém do nosso grupo jamais havia estado no campus da UEM; por razões de segurança, colocamos em papel toda informação que recolhemos. O nosso objetivo era destruir o máximo de pesquisas possível, prejudicando assim os esforços dos pesquisadores da indústria de peles que têm o objetivo de domesticar e escravizar ainda mais um predador nativo da América do Norte. Se nós decidíssemos que era seguro, nós empregaríamos a destruição de propriedade, principalmente com incêndio, para alcançar este objetivo. Nós planejamos uma missão de reconhecimento para o fim de fevereiro, quando estaríamos dirigindo pelo país.

Depois de uma breve visita com amigos da família em Michigan, outro membro da célula e eu atravessamos o campus da UEM em uma tarde de domingo, quando ele estava menos movimentado. Um registro dos funcionários nos deu a localização da sala de Aulerich em Anthony Hall. Eu entrei no edifício de pedra e perambulei por ali até que descobri que as salas do edifício eram separadas das salas de pesquisa em anexo pelas paredes de tijolos do velho edifício. Este fato, e o grande vazio que era o prédio fora do expediente, indicou que seria seguro utilizarmos o fogo para destruir os registros.


Você pode utilizar uma tesoura de funileiro pequena e fácil de esconder, disponível em todas as ferragens, para cortar arame farpado, ouriço e telas; use corta-vergalhões para coisas maiores.


A seguir saímos de carro do campus e fomos para fora da cidade, em East Lansing, onde ficava a maior parte das instalações de pesquisa agropecuária da UEM. Na Universidade Estadual do Oregon, de nós encontramos a Granja Experimental e Peles do lado da granja de pesquisas com aves, e em Michigan foi a mesma coisa; os longos galpões das granjas de visões e aves ficavam escondidos próximos a bosques da região, a apenas algumas dezenas de metros da rodovia estadual onde uma pessoa ou equipe poderia ser largada e resgatada de carro.


Nós decidimos que a ação seria realizada com apenas duas pessoas. A segurança era precária o bastante de forma que o mínimo de investigação foi o suficiente para determinar os nossos pontos de entrada e saída, assim como a frequência das patrulhas de segurança e a direção pela qual a polícia viria se chamada. Nós alugamos um carro similar aos do campus da UEM, e observamos Anthony Hall a noite toda de um estacionamento no mesmo dia da semana no qual planejávamos realizar a ação. Eu percebi diversas janelas no andar térreo que poderiam ser destravadas facilmente por dentro e sem chamar a atenção.


Mais cedo naquela mesma noite, me largaram no acostamento da rodovia estadual adjacente ao bosque atrás da Granja Experimental de Peles e do galpão de pesquisas. No período mais gelado do inverno, as instalações não tinham nenhuma segurança física ou eletrônica além das patrulhas noturnas aleatórias da polícia do campus, que nós nunca vimos quando entramos pela estrada de chão que ia até o local.


Quando eu me aproximava do complexo de edifícios, eu comecei a examinar o perímetro por sinais de detectores de movimento ou detectores infravermelhos; não havia nenhum. A seguir, eu examinei o prédio do galpão de pesquisas que nós queríamos entrar. Evitando janelas e portas, os lugares mais prováveis de se haver alarme, eu subi no telhado de descobri que as telhas de metal corrugado poderiam ser parcialmente removidas, o suficiente para eu me esgueirar até o sótão e então entrar no prédio através de uma porta de acesso no telhado.


O coração do nosso alvo era o escritório de Aulerich, onde nós sabíamos que se encontravam os registros de sua atual pesquisa. Contudo, esta talvez fosse a única vez que a sua pesquisa seria atacada, então decidimos causar o maior dano possível eliminando também os registros de reprodução dos 250 visões reprodutores que Aulerich tinha na fazenda, destruindo equipamento de pesquisa e, se o tempo permitisse, resgatando alguns reféns.


Depois do reconhecimento daquela noite, nós completamos a viagem que havíamos dito a nossos amigos que iríamos fazer, indo de Michigan para Washington como o planejado. Depois de termos marcado nossa presença lá encontrando ativistas de ONGs conhecidas, eu e outro membro da célula dirigimos de volta a Michigan. Nós alugamos um quarto de hotel a 45 km da Universidade Estadual do Michigan, com acesso direto da rua para que ninguém observasse quando entrávamos e saíamos. Mesmo durante a nossa viagem anterior, nós ainda não tínhamos abastecido o carro, pois não queríamos ser vistos pelas câmeras de vigilância ou por pessoas na mesma cidade onde seria o nosso ataque.


No dia da ação, em um carro alugado por um amigo da área que não faz perguntas, nós dirigimos pelo trajeto de entrada e saída para nos certificarmos de que não haviam mudanças. A seguir meu colega testou o rádio na frequência da polícia, que estava programado com as frequências da polícia da UEM, enquanto eu fui ao trabalho montar um aparato incendiário com cronômetro com componentes que eu havia comprado muito longe dali, do outro lado do país.


Todos os componentes eram itens facilmente encontráveis em todo o país; eu removi todos os números de série que os identificavam, como o do timer de cozinha. Quando o aparato estava pronto, eu gentilmente o embalei, com a bateria desconectada em um pequeno pote plástico, e joguei fora todas as sobras: fios elétricos, soldador e alicates de corte — todos itens rastreáveis, nenhum tão valioso quanto a liberdade.


Depois de anos invadindo prédios, eu havia refinado o meu kit de ferramentas para incluir apenas alguns itens pequenos: um pequeno alicate de pressão, indispensável para remover pequenos parafusos como os que prendem telhas; um canivete multi-ferramentas; um pequeno pé-de-cabra ou uma grande chave-de-fendas; uma lanterna que se possa segurar com a boca; e uma faca serrilhada para cortar telas, isolamentos térmicos, gesso, ou até mesmo cabos de aço e chapas de metal. Por último, mas não menos importante, eu levava a chave oficial da ALF, um pequeno corta-vergalhões para pequenos cadeados, como os que se encontram em galpões de visões e em gavetas de arquivos.


Com apenas duas pessoas, há menos espaço para erros. Primeiro, visitaríamos a Granja Experimental de Peles. Nós já tínhamos combinado um local para sermos pegos de carro, e planejado de usar nossos confiáveis rádios somente se algo desse errado. Eu ficaria com o meu rádio ligado o tempo inteiro com o silêncio sendo o sinal contínuo de que "tudo está bem". Se eu precisasse de mais tempo, eu o usaria, e usaria o rádio somente quando estivesse pronto para ser pego. O meu motorista estaria ouvindo o rádio da polícia enquanto vigiava qualquer atividade anormal.


As 11h30 da noite, eu fui deixado na curva da rodovia estadual atrás da Granja Experimental de Peles da UEM. Em apenas alguns minutos, eu estava me aproximando do principal galpão de pesquisas; ele era negro contra a noite sem lua. Pegando uma escada da granja, eu subi no telhado e rapidamente usei meu pequeno alicate de pressão para remover os parafusos de metal o suficiente para entortar as telhas de metal e entrar. Uma última olhada para garantir que eu não havia sido visto e fiz brilhar minha lanterna no escuro galpão de pesquisas. A sala estava cheia de misturadores de ração, refrigeradores e outros equipamentos de uma granja de peles. Eu desci do teto e me soltei no chão, e escutava meu rádio para qualquer sinal de que eu havia disparado um alarme por sensor de movimento.


Eu ainda estava em silêncio. Eu fui ao pequeno escritório no canto do galpão de pesquisas, e inspecionei a fina porta de madeira para ver se não tinha alarme. Não havia nada visível, então eu puxei os pinos das dobradiças da porta com o meu canivete multi-ferramentas, então removi a porta inteira sem muito esforço.


Todos os registros de criação e outros dados necessários para a operação da granja estavam dentro do escritório. Eu joguei discos de computador, slides e documentos no chão. Em um freezer, eu descobri dúzias de bolas do tamanho de uma bola de beisebol enroladas em papel alumínio. Eu abri uma; continha a cabeça de uma lontra.


Tudo dentro dos congeladores e refrigeradores foi para o chão. Por último eu tirei uma lata de tinta vermelha em spray da minha bolsa e escrevi, "Milícia de Visões do Michigan", "AULERICH TORTURA VISÕES", e "NÓS VOLTAREMOS PELA LONTRA" nas paredes. Na última frase eu me referia a uma lontra solitária que eu havia encontrado em uma jaula de concreto entre os galpões de visões. Quando eu saía do galpão, eu derramei dois galões de ácido hidroclorídrico nos equipamentos e sobre os documentos no chão. Sabendo que não havia alarme, eu saí do prédio por uma porta.


Você pode colocar seus sapatos dentro de sacos plásticos para mascarar as suas pegadas e evitar que rastros incriminatórios do solo fiquem prendam-se na sua sola.


A última parada na fazenda experimental de peles foi nos galpões dos visões, onde eu removi todas as placas de identificação das jaulas dos reprodutores. Com as placas dentro da minha mochila, eu peguei dois visões para resgatar, e os transferi para caixas de transporte. No momento em que eu escondi estas caixas em arbustos perto da rodovia estadual e mandei uma mensagem pelo rádio para que me buscassem, havia passado uma hora e meia desde que me deixaram lá. Dentro de minutos, meu motorista de fuga estava piscando o farol do carro, sinalizando antes de encostar.


Depois de uma breve parada em um posto de gasolina para jogar fora as placas dos reprodutores, eu troquei minha mochila por outra, que continha o dispositivo incendiário, e fomos até o campus da UEM. Meu motorista me deixou atrás do Anthony Hall, e estacionou no mesmo local de onde havíamos feito o reconhecimento. Caminhar rapidamente na madrugada fria de inverno não levantava suspeitas, pois estava frio. Depois de olhar para trás para ver se ninguém estava observando, eu cruzei a frente do Anthony Hall até uma janela do andar térreo que estava destrancada. Eu abri a janela, escorreguei para dentro, e a fechei atrás de mim.


Eu espiei pelo canto, e então subi as escadas até o primeiro andar onde ficava o escritório de Aulerich. Eu vesti uma máscara de esqui sobre o meu rosto, pois este era o momento onde eu estava mais vulnerável para ser visto. Ajoelhando-me na frente da porta do escritório, eu tirei o pequeno pé-de-cabra da minha bolsa e quebrei as ripas de ventilação da porta, então coloquei o braço por dentro e a destravei. Embora eu tivesse inspecionado o escritório o melhor que pude pelas janelas que davam para a rua, ainda era possível que eu acionasse um alarme invisível ao entrar. Entretanto, meu motorista estava com o rádio, e ouviria qualquer comunicação da polícia universitária.


Você pode usar luvas de trabalho de algodão para manter suas digitais longe de lugares indesejados. Luvas de couro devem ser evitadas, pois deixam suas próprias marcas únicas, e luvas de látex são boas para trabalhos delicados, mas ficam com as suas digitais do lado de dentro — então seja muito cuidadoso ao se desfazer delas.


Eu entrei no escritório de Aulerich e fui direto ao trabalho procurando por madeira para servir de combustível depois que o dispositivo incendiário fosse acionado. Eu tirei todas as gavetas dos móveis para que os registros fossem destruídos pela água dos bombeiros, caso não fossem destruídos pelo fogo. Eu não importei em destruir mais nada, já que qualquer barulho poderia chamar a atenção e o fogo, com sorte, cuidaria de tudo. Eu coloquei o dispositivo incendiário sob uma pilha de gavetas de escrivaninha, coloquei o ponteiro na marca de 54 minutos, e pus a lâmpada sem a casca de vidro dentro de uma lata com combustível líquido. Logo acima da lata estavam duas garrafas plásticas de dois litros cheias de uma mistura de combustível e óleo; quando elas derretessem, despejariam o líquido inflamável sobre a madeira.


De repente, eu vi o reflexo familiar de luzes azul e vermelha vindo da estrada que passava em frente ao Anthony Hall. Eu não entrei em pânico, embora eu soubesse que uma viatura da polícia universitária estava perto o suficiente para me ouvir se eu gritasse da janela. Eu confiei que o meu comparsa iria me alertar pelo rádio se houvesse perigo. Era uma parada de rotina, e depois de alguns minutos, tanto o motorista quanto o policial que havia descido do carro estavam indo embora. Eu reajustei o timer para o máximo de tempo, conectei a bateria de nove volts ao dispositivo incendiário e saí pelo mesmo caminho que tinha entrado.


Parecendo um estudante retornando para casa após uma longa noite de estudos, eu caminhei pelo gramado de Anthony Hall até a calçada; dentro de segundos a minha carona apareceu, reduzindo o suficiente para que eu entrasse no carro. Nós fomos direto até a rodovia estadual, onde nós pegamos os dois pacientes visões que ainda esperavam pela etapa final de sua libertação. Quando veio a alvorada, nós estávamos caminhando pelas margens do lago Muskrat, carregando as duas caixas. Do lado de um córrego, nós abrimos as caixas e observamos os visões nadarem em água fresca corrente pela primeira vez em suas vidas.


Aproximadamente às 4:35 da manhã, no dia 28 de fevereiro de 1992, um incêndio alastrou-se pelos escritórios de Richard Aulerich destruindo trinta e dois anos de pesquisa acumulada e em andamento para a indústria de peles que tinham um valor estimado de dois milhões de dólares. Na Fazenda Experimental de Peles, registros de criação insubstituíveis foram roubados ou destruídos, junto com 125 mil dólares de equipamento de pesquisa, incluindo cem mil dólares que não estavam cobertos por seguro. Os dois visões desaparecidos nunca foram vistos novamente. Mais tarde, um comunicado confiado ao Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais (PETA) anunciava que a Frente de Libertação Animal assumia a responsabilidade pelo quarto ataque em oito meses em um beneficiado pelo patrocínio da Fundação de Pesquisas dos Fazendeiros de Visão.


De volta no quarto de hotel, com a missão cumprida, eu escrevi à mão um comunicado à imprensa e o coloquei em uma caixa de Sedex que continha slides, uma fita de vídeo, disquetes e arquivos de pesquisa do escritório de Aulerich. Quando eu me aproximei da caixa de coleta dos correios, o motorista chegou para recolher as correspondências; os nossos olhares se encontraram, e então eu me dei conta de que havia cometido um erro crucial que poderia custar a minha liberdade.


O pacote estava endereçado para uma casa que, sem o meu conhecimento, também era um esconderijo para material da Frente de Libertação Animal incluindo meus próprios mapas feitos à mão de uma instalação de pesquisas com primatas que eu estava em que eu estava trabalhando, e outros equipamentos, inclusive óculos de visão noturna. O pacote nunca chegou; ele foi interceptado e entregue ao FBI, devido ao número de conta vencido que eu tinha usado. O que chegou lá na casa foi uma força tarefa do FBI com mandados de busca, que arrombou a porta e apreendeu o nosso material.


A ação foi um sucesso, mas eu só posso lhe contar esta história porque eu cometi um erro que resultou na minha condenação. Felizmente, isso só me custou quatro anos de liberdade. Agentes federais podem não ser tão espertos, mas eles são pacientes, esperando que a sua célula cometa um erro fatal. Não se desencoraje: nossos inimigos ainda possuem fraquezas, e mesmo um alvo fortificado tem o seu ponto fraco. Encontre-o, explore-o, e siga em frente!


Você pode limpar digitais de um objeto com água quente e sabão, ou, em emergências, esfregando vigorosamente com um pano. Não esqueça dos detalhes: mesmo que você limpe o exterior de uma lanterna, ainda podem haver digitais nas pilhas lá dentro."

es:Sabotaje