Se Você Vencê-los em seu Próprio Jogo, Você Perde

De Protopia
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Dias de Guerra, Noites de Amor
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Atuando "Dentro do Sistema"

Então... você tem uma banda, com uma mensagem realmente importante e quer levá-la ao maior número de pessoas possível ― estão tentando ficar muito populares e vender muitos e muitos discos. Ou talvez você seja um ativista político e você acha que é necessário usar a grande mídia para educar as pessoas sobre certos assuntos. Parece fazer sentido que você deva usar esses métodos para alcançar pessoas ― porque, de outra forma, quem vai lhe ouvir? Sim, você se dá conta de que está se envolvendo com o mesmo sistema que você está tentando combater, mas vai valer a pena no final... e todos precisamos ceder algumas vezes, não temos?

Vale a pena pensar se precisamos mesmo, assim como é bom nos questionarmos se avançar neste sistema consumista e de competição brutal pode de alguma forma nos ajudar a melhorar o mundo. O que aconteceria se parássemos de abrir exceções, parássemos completamente de jogar o jogo deles e concentrássemos todos nossos esforços em criar nossos próprios canais e espalhar idéias de novas formas?


A Revolução Não Pode Ser Televisionada.

"No palco eu faço amor com dez mil pessoas, depois eu vou pra casa sozinha." ― Janis Joplin

É óbvio que eles te querem no seu programa de televisão, programa de rádio, festival de rock, gravadora. Eles não se importam se estão vendendo anti-séptico bucal ou revolução anarquista contanto que isso mantenha as pessoas assistindo e comprando. Eles sabem que mais cedo ou mais tarde as pessoas irão se entediar com toda baboseira supérflua e inócua que eles normalmente têm a oferecer, e eles contam contigo para que hajam sempre novas idéias e estilos a serem explorados; sem isso, não teriam nada de novo para vender para as pessoas. Eles sabem que se eles conseguirem encontrar maneiras de vender a expressão da tua própria revolta de volta para ti, para lucrar com cada frustração que o seu sistema cria, estarás derrotado. Pois eles sabem que nenhuma mensagem que tu puderes passar pelos seus canais pode ser mais poderosa que a mensagem que é passada quando usamos os meios deles: fiquem ligados.


Toda consciência e percepção que tu conseguires levar às pessoas com tuas aparições na TV e CDs vendidos nos shopping centers não é mais importante do que a consciência do poder dos indivíduos de agirem por si próprios. Assistir televisão e comprar no supermercado mantém as pessoas passivas, observando coisas que elas nunca podem participar e pessoas que elas nunca podem encontrar, comprando o que é anunciado pelas corporações ao invés de fazerem sua própria música, terem suas próprias idéias, viverem suas próprias vidas. Para motivar as pessoas a agirem por si mesmas, tu tens que contatá-las de uma forma mais direta.


Os Valores da Produção em Massa.


Somos ensinados a pensar sobre o nosso sucesso na forma de números, não é mesmo? Se tocar a vida de uma pessoa é uma boa coisa, então tocar a vida de mil pessoas deve ser algo ótimo. É fácil ver onde aprendemos a pensar deste modo: toda nossa sociedade gira em torno da produção em massa. Quanto mais unidades pudermos mover, mais clientes pudermos atender, mais votos obtivermos, mais dinheiro e coisas acumularmos, melhor é, certo?


Talvez não seja possível tocar mil pessoas de forma tão profunda e poderosa quanto tocaríamos uma ou dez pessoas. E talvez não seja tão revolucionário no final das contas ter uma pessoa ou grupo dizendo a todos outros o que é certo. Não seria melhor tentarmos de uma maneira descentralizada onde todos agem em proximidade com aqueles ao seu redor, ao invés de algumas pessoas liderando uma massa anônima? Tu, ou a tua banda, ou o teu selo, têm que salvar o mundo sozinhos? Por que você não confia em outras pessoas para compartilhar essa tarefa? (E tu já percebeste o quanto tens que pisar nos outros para conseguir aquele sucesso necessário para difundir tuas idéias?)


Uma banda política fazendo um show para novecentas pessoas pode recitar slogans revolucionários a todos ali presentes, mas eles ficam fora do alcance da maioria dessas pessoas, em cima de um pedestal como "músicos", "artistas", "heróis". Por outro lado, uma banda tocando um show tão empolgante para quarenta pessoas, em um ambiente mais íntimo, pode interagir pessoalmente com todos presentes, e deixar claro que todos são capazes de fazer o que eles fazem. Assim eles têm o potencial de darem origem a quatro outras bandas (ou projetos revolucionários), aumentando o seu impacto exponencialmente. O mesmo vale para selos de discos, escritores, oradores e artistas, e é claro, para organizadores e "líderes" de qualquer tipo.


Trabalhando Dentro do Sistema.

A maioria de nós não obtém muito prazer das coisas que temos para fazer dentro do sistema. Preferimos ler livros sozinhos do que fazer trabalhos para a escola, preferimos usar nossas habilidades, energia e tempo para trabalhar em projetos de nossa própria escolha do que nos vender para empregadores. Mas sentimos que precisamos trabalhar para eles, quer queiramos ou não. Nunca nos ocorre quão mais divertido, e talvez mais eficiente, poderia ser tirarmos nosso trabalho das mãos deles e fazer outra coisa com ele. Claro, seria difícil no começo, mas o que poderia ser mais difícil do que agüentar toda esta merda para o resto de nossas vidas? Melhor nos dedicarmos a substituí-lo do que a aceitá-lo.


Mas, você protesta, ainda estaremos lutando contra o status quo, vamos mudar as coisas de dentro, certo? Isso é o que eles lhe dizem, pelo menos. É claro que o sistema tem "procedimentos adequados" para pessoas com queixas seguirem para tentar fazer as coisas melhorarem; esta é a válvula de segurança para liberar pressão quando as pessoas ficam muito inquietas. Você acha que os poderes que estão aí deixariam você utilizar as suas próprias leis e métodos para depô-los? Se este sistema fornecesse oportunidades para mudanças reais, as pessoas as teriam utilizado muito tempo atrás. Incontáveis gerações tomaram iniciativa certos de que iriam obter sucesso onde os outros falharam ― você sabe, é daí que vem repórteres e advogados. Eles são os cadáveres céticos de jovens idealistas que pensaram que o sistema poderia ser reformado.


Além disso, você pode se confiar para trabalhar "dentro do sistema" pelos motivos certos? Somos todos programados para querer "sucesso", a nos medir pela riqueza e status social que obtemos, quer gostemos ou não. Será que pode ser que você quer ser um jornalista, professor de ciências poĺíticas ou astro de rock porque você não consegue considerar outras opções seriamente, porque você tem medo de cortar a fita de segurança que te amarra à segurança do estilo de vida imposto pela nossa sociedade. E como você pode ter certeza de que não é um canto sombrio do seu coração que te empurra para buscar o sucesso, a parte que adora a atenção e os sentimentos de grandiosidade que a sua popularidade e posição social lhe trazem? É claro que nos sentimos ótimos ao contar a nossos pais quais são nossos objetivos e eles aplaudem nossas decisões... mas isso é forma de se decidir como mudar o mundo?


Vamos ouvir nossos corações, confiar nos nossos instintos, e recusar participar em qualquer coisa que nos deixe entediados ou indignados. Precisamos nutrir o nosso idealismo e nossa vontade de correr riscos, não trabalhar novas formas de integrar nossa frustração e nosso desespero para retornarem à sociedade que os gerou. Lembre-se, todo dia que passamos "usando o sistema" é outro dia que teremos que esperar até que novas redes e melhores modos de vida substituam os antigos.


Como saímos daqui?


Sim, freqüentemente temos a impressão de que não há alternativa a trabalhar "dentro do sistema" se quisermos que as coisas sejam feitas e não quisermos deixar nossas idéias em quarentena dentro dos espaços confinados do "alternativo". Mas porque manter o alternativo confinado em espaços limitados? Com certeza se pusermos toda nossa energia em expandir os espaços nos quais interagimos como seres humanos iguais e livres, ao invés de tentar consertar a máquina fumegante desta sociedade condenada, poderíamos pelo menos causar algum impacto. Imagine o que poderíamos alcançar se mantivéssemos todo nosso potencial em nossas próprias mãos, e para sempre nos recusássemos a gastá-lo trabalhando para o seu sistema, mesmo que por um único minuto.


Não há desculpa para deixarmos que uma fração de nossas vidas passar fazendo coisas que não amamos, ou deixarmos que alguns de nossos talentos e esforços sirvam para promover uma ordem mundial a qual nos opomos. Pelo contrário, vamos lutar e viver tão bravamente que outras pessoas dentro das jaulas da vida padronizada possam nos ver e se inspirem para se juntar a nós em nossa rejeição total do velho mundo e toda sua porcaria. E vamos tornar nossas comunidades em algo melhor do que são; vamos torná-las mais abertas e mais capazes de oferecerem condições de vida, para que outros sejam capazes de se juntar a nós.


O sistema no qual vivemos oferece somente jogos no quais todos perdem - então porque jogá-los? Cabe a nós inventarmos jogos novos, mais alegres e empolgantes que os antigos. Não vamos tentar derrotá-los em seus próprios jogos, mas fazê-los participarem dos nossos!


Dias de Guerra, Noites de Amor
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